Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil passa a ter agora a “versão” carbono neutro do fruto que vira a bebida que tanto amamos. No fim de 2021, uma fazenda de Minas Gerais recebeu seu primeiro certificado atestando que a produção da safra daquele ano teve suas emissões de gases de efeito estufa neutralizadas graças a investimentos em tecnologia, inovação e a preocupação com o meio ambiente.
A Fazenda Sete Cachoeiras, de Três Pontas (MG), é a primeira produtora de café que consegue provar que o café produzido por lá é livre de emissão de carbono. Em 2021, foram comercializadas 630 sacas do grão com um bônus de R$ 100 por saca justamente por se tratar de um produto livre de carbono.
A propriedade também já havia recebido outros dois certificados (Utz Certified e Rainforest Alliance) atestando as boas práticas agrícolas no cultivo do fruto.
“Isso é muito importante para o agronegócio brasileiro que vem sendo criticado pelas práticas ruins, mas estamos mostrando que aqui praticamos uma cafeicultura sustentável, com foco não só no meio ambiente, mas também no social”, disse Marcelo Brito, cafeicultor da Fazenda Sete Cachoeiras ao site Notícias Agrícolas.
Para a safra de 2021, ainda foi preciso fazer compra de crédito de carbono para igualar as emissões e sequestro de CO2. Graças ao investimento na ampliação de geração de energia solar, a de 2022 provavelmente será carbono neutro do início ao fim.
“A medição tem de ser feita desde a florada. Como medimos para a colheita de 2021, desde a florada de 2020 houve o levantamento. Tivemos um pequeno déficit [ou seja, não foi possível zerar na prática as emissões], então neutralizamos comprando essa pequena fração”, disse ao Perfect Daily Grid o produtor Renato Brito, filho de Marcelo. “Para 2022, devemos zerar, pois alcançamos em dezembro de 2021 100% de energia fotovoltaica. Com isso, não precisaremos comprar créditos.”
Como a fazenda chegou ao café carbono neutro
A cultura do café é altamente dependente do clima, do solo e da água e justamente por isso tem a sua contribuição no geral de emissões de gases de efeito estufa e, por tabela, no aquecimento global.
A preocupação com uma produção sustentável já acompanha a família Brito há algum tempo. Em 2004, a fazenda firmou parceria com a SOS Mata Atlântica em busca de orientação técnica para reflorestar a mata ciliar e nativa da propriedade. 7 mil árvores foram plantadas na propriedade, resultando em um corredor ecológico para proteger a flora e a fauna local.
“Não trabalhar de um jeito sustentável pode causar desde a rentabilidade menor até o fim do negócio”, diz Renato. “Se a produção for muito baixa, o seu custo ficará muito próximo ao seu preço de venda. Caso pegue uma época em que os custos estão altos, você quebra o seu negócio
Essa e outras iniciativas (como a presença de uma usina de energia solar na propriedade) contribuíram para que o ponto de partida para a certificação não demandasse grandes transformações na produção. Antes de tudo era preciso entender o quanto de gás carbônico a fazenda emitia e captava com o café produzido ali.
“A gente não sabia qual seria o resultado”, disse o cafeicultor Marcelo Brito à TV Brasil. ”Mas quando o inquérito saiu foi uma surpresa boa para a gente saber que a nossa fazenda tinha essa sustentabilidade também”.
Ao término do inventário, a empresa certificadora mostra aos produtores o que é preciso fazer para conseguir neutralizar as suas emissões. No caso da Fazenda Sete Cachoeiras não foi preciso mexer demais na estraetégia do “time que já estava ganhando”.
O relatório identificou baixa utilização de adubação nitrogenada, adoção de plantas de cobertura, elaboração de composto próprio com resíduos produzidos na fazenda, ampliação de uso de energia limpa, manejo da terra com produtos biológicos e a escolha de um tipo de irrigação para que a planta realize o processo de fotossíntese no máximo tempo possível.
“Eu acho que valeu muito, principalmente a nível pessoal. Deixa a gente orgulhoso e transmite para toda a família uma consciência de um manejo sustentável para o planeta”, avalia o cafeicultor por trás do primeiro café carbono neutro certificado do Brasil.