Aplicativo mostra onde você pode descartar aquela roupa que não usa mais para que ela seja reciclada ou usada como combustível na indústria do cimento
Quem quer dar um destino ambientalmente correto para as roupas que não quer ou não consegue mais usar pode fazer isso por meio da reciclagem. Sim, a doação ou a reutilização de uma peça não são mais as únicas saídas para quem se vê com a dúvida sobre o que fazer com a roupa que não tem mais uso.
Desde março deste ano, consumidores de diferentes cidades e regiões do Brasil encontram em algumas lojas da C&A, Reserva e YouComm os pontos de descarte de roupa usada. A Plataforma Circular, site e aplicativo da Cotton Move, empresa idealizadora desse projeto de economia circular, mostra onde reciclar a roupa, indicando o local mais próximo para que os consumidores evitem que a roupa usada vá parar em um aterro sanitário.
Segundo o site Recicla Sampa, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit) estima que são gerados, por ano, 160 mil toneladas de resíduo têxtil no Brasil. Dessa montanha de lixo, 50% poderiam ser reciclados.
Mais: a Fundação Ellen MacArthur avalia que um caminhão de lixo têxtil vai parar em aterros sanitários ou incineradores a cada segundo no planeta e que menos de 1% do material usado na produção de roupas (as fibras têxteis) são recicladas e destinadas para a produção de novas roupas. Acredita-se que a perda econômica seja de US$ 500 milhões, sem falar da contribuição para a poluição.
“A complexidade da reciclagem na indústria têxtil existe, porque temos uma infinidade de tipos de equipamentos, modos produtivos e tipos de fibras e filamentos”, reconhece José Guilherme Teixeira, fundador da Cotton Move. “Mas é possível reciclar roupas no Brasil, tanto as descartadas pelos consumidores como o resíduo do pré-consumo da indústria, aquela sobra de tecido do processo produtivo. Isso a gente consegue reaproveitar”, diz.
Qualquer roupa pode ser reciclada?
Hoje o Brasil conta com tecnologia para fazer a reciclagem de algodão. Isso significa que para uma roupa entrar na roda da economia circular ela precisa ter alguma porcentagem de algodão em sua composição (acima de 30% já é possível fazer alguma reciclagem). Quanto maior a porcentagem de algodão na peça, mais ciclos de reaproveitamento serão possíveis.
“O poliéster, apesar do potencial para a reciclagem, ainda é algo mais limitado. Você pode até ter um tecido reciclado contendo poliéster, mas o próximo ciclo de reciclagem vai ser muito mais limitado do que se você trabalhar com um produto 100% algodão”, explica Jonas Lessa, CEO da Retalhar. A parceira do iFood no projeto Já Fui Bag é responsável pela logística reversa da Plataforma Circular.
O Brasil ainda não conta com uma tecnologia para a reciclagem de fibras sintéticas, como o poliéster. Fora do país há um avanço maior, porém ainda não em escala industrial, com a reciclagem química, que consiste em adicionar um solvente para separar os materiais que compõem a fibra.
Apesar de as roupas com material sintético ainda não serem recicladas, elas podem ser depositadas nas caixas do projeto da Cotton Move. Ao invés de ir para o aterro sanitário, o seu destino será os fornos da indústria de cimento, para ser usado no coprocessamento de energia, substituindo um combustível fóssil.
Os quatro caminhos que a sua roupa descartada pode ter
A reciclagem e o coprocessamento de energia são os principais destinos que a roupa descartada na Plataforma Circular da Cotton Move pode ter. Mas não os únicos.
A sua roupa pode ainda ser reaproveitada para virar um novo produto (ação conhecida como upclycling) para voltar ao mercado ou ainda encaminhada, quando ainda em boas condições de uso, para quem precisa, como forma de doação.
Agora, por que devemos reciclar a roupa que a gente não quer mais usar? Lá no início do texto falamos sobre o problema da produção de lixo têxtil. Só aí já existe uma justificativa bem plausível para adotar essa prática.
Mas se é preciso de mais um motivo, podemos pensar na preservação de recursos naturais. Conforme a população cresce, maior é a demanda por produtos, como a roupa. Para atender essa demanda, é preciso aumentar a capacidade da produção da matéria-prima que será usada na produção daquela peça, seja ela uma fibra natural (a partir do algodão) ou sintética (do plástico). Nessa conta entra uso da água, solo, energia….
E a nossa cota de uso de recursos naturais já ultrapassou todos os limites. Segundo o Instituto Akatu, se a gente pudesse colocar tudo o que consumimos em vida de recursos naturais em tambores e conseguíssemos empilhá-los, essa coluna teria a mesma altura de um prédio de 160 andares. O nosso querido planeta Terra leva um ano e meio para regenerar tudo aquilo que é usado em um ano.
“É uma questão de urgência. Precisamos reaproveitar os materiais e desenvolver novos produtos que possam ser reciclados”, diz Teixeira.
Na minha cidade não tem um ponto de coleta. O que fazer?
Caso você não consiga entregar a sua roupa em um dos pontos de coleta, algumas coisas ainda podem ser feitas com a sua roupa. A doação, preferencialmente para quem realmente vai precisar e utilizar, é uma solução.
Também é possível consertar uma roupa que rasgou ou reutilizá-la em outros produtos (o tal do upcycling que falamos lá em cima). ]
Como funciona a reciclagem de roupa
1. Consumidor faz o descarte correto
Tudo começa com você levando a roupa que não quer mais até um ponto de coleta da Cotton Move.
2. Manufatura reversa
As roupas são levadas para uma triagem e avaliação. Aqui elas podem ter quatro destinos:
1. Doação para quem precisa;
2. Coprocessamento de energia para a indústria de cimento;
3. Upcycling, a transformação em novos produtos;
4. Reciclagem, a roupa vai virar matéria-prima para criar uma fibra.
3. Desconstrução da roupa
As roupas que vão para o upcyling e reciclagem passam por um processo de desmonte, em que são removidos zíperes, botões e tudo o mais que não seja tecido.
4. Refribagem
O material que está bom para a reciclagem passa por um processo de refribagem, para se obter uma nova fibra. Nessa etapa, o material vira um blend (mistura do reciclado com a matéria-prima virgem).
O ciclo de vida do algodão pode ser estendido por 2 a 4 vezes.
5. Indústria
Etapa em que a fibra recuperada vai virar um fio, que depois se transforma em um tecido.
6. Confecção
O tecido reciclado é usado como matéria-prima na confecção e pode virar uma calça, camiseta, cortina, colcha, almofada etc. A Cotton Move produz algumas peças com algodão reciclado.
7. Loja
O produto confeccionado volta ao mercado e fecha o círculo da economia circular.