Os entregadores e as entregadoras que trabalham na plataforma do iFood têm autonomia? Com essa pergunta, o entregador Ralf MT abriu uma das entrevistas da série que fez com Diego Barreto, vice-presidente de estratégia e finanças do iFood, em janeiro de 2023.
De saída, Ralf MT queria entender de que forma esses profissionais podem ser considerados autônomos se não têm liberdade para definir o preço da entrega ou para rejeitar pedidos.
“A gente não pode confundir autonomia com liberdade completa”, respondeu Diego. Ele continuou: “Se eu não tiver uma lógica que obedeça ao que o consumidor quer, as coisas não ficam de pé. Podemos colocar um sistema em que cada um dá o seu preço? Qual é a consequência disso?”
E Ralf MT responde de bate-pronto: “o entregador vai diminuir o máximo possível [o preço], e isso vai gerar uma concorrência desleal na plataforma.” Concordando com ele, Diego explica que existe a possibilidade de que pessoas em situação de vulnerabilidade baixem o preço para pegar corridas para ter qualquer renda, o que baixaria o preço médio recebido pelos entregadores.
Rejeites
Ainda falando de autonomia, Ralf MT pergunta por que no iFood os entregadores que rejeitam quatro pedidos ficam impedidos, durante meia hora, de receber novos pedidos. Diego explica que essa regra existe para que o iFood possa assegurar os consumidores de que a comida que foi pedida será entregue.
“A gente pode discutir a regra. Estou super aberto. É para isso que serve o Fórum, aliás”, responde o executivo, argumentando que um alto nível de rejeição de pedidos prejudica a experiência de consumidores, restaurantes e entregadores com a plataforma.
Na sequência, Ralf MT explica que há entregadores que rejeitam pedidos por discordar do valor ou da localização da entrega. Diego reforça que eles têm total autonomia para rejeitar um pedido.
Reajuste
Partindo para o outro tópico da entrevista, Ralf MT afirma que, no trabalho em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), existe um reajuste de salário todo ano —mas que essa regra não existe para entregadores.
“O que eu vejo é que em 2013 uma entrega particular era R$ 10. Hoje no iFood é R$ 6. Como a gente pode saber quando o iFood vai ter um reajuste?”, questiona.
Na resposta, Diego faz alguns cálculos e estima que a taxa mínima por rota considerada justa por Ralf MT (R$ 8) acarretaria em uma queda de 20% nos pedidos no iFood. O influenciador questiona: “se eu quero trabalhar, tenho que aceitar ganhar menos?”.
“Não, pelo contrário”, responde o executivo. “Eu quero que você tenha mais pedidos. Em vez de ganhar R$ 8 e fazer cinco pedidos, eu quero que você faça dez e ganhe R$ 6 [em cada um]. A conta não é o quanto se ganha por entrega, e sim por mês.”
Diego afirma que a redução do valor aconteceu porque a plataforma se democratizou. “Em 2013, sabe quantos pedidos o iFood fazia por ano? Três milhões. O iFood só entregava os restaurantes que eram caros. Para poder entregar um lanche que custa R$ 15, como é que a conta fecha?”
Ele acrescenta que, por outro lado, outras coisas passaram a ser ofertadas aos entregadores, como seguro gratuito e licença-maternidade.