Conheça os vencedores do Prêmio iFood de Pesquisa em Plataformas

Trabalhos analisam como as plataformas digitais estão provocando novas reflexões nos campos da Economia e do Direito

No dia 30 de março, o iFood realizou, em sua sede, a cerimônia de premiação dos vencedores do Prêmio iFood de Pesquisa em Plataformas Digitais, voltado para graduandos e recém-formados nas áreas de Economia e de Direito.

O objetivo desse prêmio é estimular a pesquisa acadêmica e contribuir com os debates sobre a gig economy e o trabalho em plataformas no Brasil.

No evento, os seis estudantes contemplados nas duas categorias – Economia e Direito & Tecnologia – apresentaram um resumo de seus trabalhos na presença das bancas avaliadoras que os escolheram como os melhores.

A definição das duas áreas para os trabalhos inscritos obedeceu ao critério de contemplar alguns dos desafios do iFood, como o marco regulatório e a análise do impacto de seu modelo de negócio na economia.

“A cerimônia de premiação foi um momento muito especial. Nosso objetivo com o prêmio era estimular a produção de conhecimento e o debate sobre os impactos da Nova Economia, e foi a primeira oportunidade de troca com os premiados, os professores da banca e executivos do iFood”, comenta Marina Merlo, especialista em Políticas Públicas e uma das organizadoras do Prêmio.

Monografia campeã em Economia avalia competitividade de restaurantes

Entre as monografias da categoria Economia, a campeã foi “Análise de impacto dos aplicativos de delivery no Brasil”, de Leonardo Ide, do Insper. “Eu procurava um tema novo sobre competitividade de mercado”, conta Leonardo. 

A ideia surgiu justamente em um dia em que ele estava escolhendo onde pedir um hambúrguer pelo app do iFood.

“Percebi que os preços convergiam para uma mesma faixa de valor, sendo que os ofertantes estavam ali, no mesmo ambiente, indicativos de se tratar de um mercado próximo de uma competição perfeita.”

LEONARDO IDE, VENCEDOR NA CATEGORIA “ECONOMIA”

Ele conta que esse conceito, estabelecido na teoria, dificilmente é verificadona prática. “Assim, decidi me aprofundar no modelo da plataforma, o que fiz com o foco em restaurantes”, diz.

Em sua pesquisa, Leonardo identificou possíveis efeitos positivos da atuação do iFood no mercado, caso do aumento dos salários médios dos funcionários dos estabelecimentos analisados.

Vencedora em Direito relaciona concorrência e LGPD

Na categoria Direito & Tecnologia, a vencedora foi Sofia de Medeiros Vergara, da Universidade de Brasília (UnB), com o TCC “Diálogo entre proteção de dados e direito antitruste: uma análise da experiência brasileira no controle de estruturas”.

A proposta de Sofia foi analisar como instituições como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) conduzem no país diretrizes para a concorrência entre empresas levando em conta a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais).

“O que falta, além de definir uma estrutura regulatória, é entender como a jurisprudência está sendo aplicada hoje”, considera Sofia.

“Não há um mapeamento de como as autoridades se posicionam sobre determinados temas. A partir dele é que se torna possível criar caminhos sobre como proceder e estabelecer competências sobre os assuntos.”

sofia de medeiros vergara, vencedora na categoria “direito”

Por a LGPD ser muito recente, Sofia constata que, muitas vezes, órgãos e autarquias como o Cade precisam alinhar estratégias de conduta que ainda não são claras.

Os segundos colocados 

O TCC que obteve o segundo lugar na categoria Direito enveredou por um debate semelhante. O trabalho “Cultura de proteção de dados: efeitos concorrenciais e societários no zero-price market” foi produzido por Érica Antunes Fabiano Alves, da Universidade Federal Fluminense.

Érica conta que sua escolha de tema partiu de dilemas que enfrentou na prática, ao trabalhar em um escritório que atuava com fusões e aquisições entre empresas. “Senti muita dificuldade para entender como a proteção de dados se encaixava nesse contexto”, diz.

Em sua análise, muitos pareceres legais sobre essas questões ainda atravessam um terreno “nebuloso e cinzento”. “Como discutir a concorrência sem falar em dados pessoais?”, questiona. “Até porque eles são um dos principais ativos das empresas.”

A temática do segundo colocado na categoria Economia também se dedica a questões ligadas à concorrência entre empresas.

Em “Plataformas digitais de múltiplos lados sob a perspectiva concorrencial: uma revisão dos fundamentos microeconômicos”, a ideia do autor, Paulo Henrique de Oliveira, da Unifesp, foi “olhar para os determinantes microeconômicos do modelo de atuação das plataformas”.

Sua conclusão foi que reguladores diferentes e poderes públicos diferentes entendem de formas diferentes como as plataformas devem ser reguladas. “É preciso entender o elemento central e as características particulares desse modelo para gerar poderes regulatórios como o do trabalho nas plataformas”, observa.

Os terceiros colocados

No caso do terceiro lugar de Economia, foi o fascínio por mercados digitais que levou Clara Mullin, da Unicamp, ao tema “A importância dos ativos intangíveis para o desempenho das big techs: um estudo de caso da Apple”.

Clara partiu de análises das maiores empresas de tecnologia do mundo – Microsoft, Alphabet (Google), Amazon e Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) – para entender como os ativos intangíveis influenciam o desempenho dessas empresas no mercado e agregam valor às suas marcas.

Softwares, licenças, marcas e patentes são exemplos de ativos intangíveis. “São eles que fazem essas empresas serem tão grandes quanto são”, diz a já formada economista.

Já no trabalho “O movimento ‘breque dos apps’ sob a perspectiva do direito de greve”, Daniele Francisca da Silva, da Universidade Federal de Ouro Preto, estudou paralisações de entregadores de aplicativos.

“Hoje esses trabalhadores não são uma categoria regulamentada”, afirma a estudante. “Eles compõem um grupo muito heterogêneo, não estão em uma caixinha só. Eles hoje são meio que invisibilizados juridicamente e nesse sentido ficam em um limbo. Quis trazer o direito deles à greve para essa discussão.”

Em sua visão, os trabalhadores de plataformas são segregados pela própria CLT. “O Legislativo precisa repensar os seus direitos para trazer essas pessoas para dentro da proteção estatal que elas deveriam ter”, sintetiza.

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