Da ficção científica ao imaginário social, uma questão sempre permeou as discussões sobre tecnologia e inteligência artificial: seria possível robôs terem autonomia de pensamento e sensibilidade tão ou mais aguçados que os dos seres humanos?
Pode parecer a premissa de um filme futurístico, mas não é. Na verdade, cientistas ao redor do mundo buscam desvendar maneiras de tornar essa capacidade humana uma realidade para as inteligências artificiais, informa a Vice.
É o caso do vice-presidente e chefe de IA da Meta (grupo que contêm o Facebook), Yann LeCun, que pesquisa maneiras de treinar algoritmos para aprender de forma mais eficiente. Esse tipo de estudo é importante porque, diferentemente de humanos e animais, as inteligências artificiais ainda não possuem uma característica essencial para o aprendizado autônomo: a razão.
Por isso, IAs têm tanta dificuldade em aprender com os próprios erros ou com a observação de situações. “Um carro autônomo teria que cair de penhascos múltiplas vezes até entender que essa é uma má ideia”, explica Yann. “E terá que cair mais outras milhares de vezes antes de entender como evitar cair de um penhasco” —isso porque máquinas se distinguem de humanos e animais por não terem a capacidade de bom senso.
Enquanto, para nós, ter bom senso em situações como a do carro no penhasco parece algo corriqueiro, cientistas ainda enfrentam muita dificuldade em capacitar máquinas com essa habilidade. Para LeCun, esse é um problema prático: “nós realmente queremos carros que se dirijam sozinhos, robôs domésticos, assistentes virtuais inteligentes”, exemplifica o cientista.
Será possível dar autonomia a inteligências artificiais?
Embora esses avanços tecnológicos ainda estejam bem distantes da realidade, estudos como o de LeCun caminham em direção a esse futuro. Sua pesquisa propõe uma arquitetura que pode minimizar a quantidade de ações que um sistema precisa para aprender e desempenhar uma tarefa designada a ele.
Essa arquitetura funciona de forma parecida com as diversas seções do cérebro, que são responsáveis por diferentes funções do corpo. Assim, o cientista sugere um modelo de inteligência autônoma que seria composta por cinco módulos separados, que podem ser configurados separadamente.
O estudo ainda enfrenta dificuldades, mas o potencial da proposta está na possibilidade de permitir que os conhecimentos adquiridos por um dos módulos possam ser compartilhados entre si, funcionando, de certa forma, como a nossa memória.
Por ora, robôs que pensam e têm sentimentos ficam apenas na ficção —mas, se depender dos esforços de cientistas como Yann LeCun, não vai demorar muito para que essas inteligências artificiais autônomas se tornem realidade.