Como foi o passo a passo para a foodtech e a Speedbird Aero conseguirem a primeira permissão para o uso de drone no delivery
Em pouco menos de três anos, o sonho grande de usar drones para agilizar o delivery de refeições passou de ideia a realidade no iFood. Em janeiro de 2022, a foodtech se tornou a primeira empresa das Américas a ter permissão para usar drones no delivery, em parceria com a Speedbird Aero. A autorização concedida pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) permite entregar cargas de até 2,5 kg e percorrer rotas de até 3 km.
Essa jornada começou em 2019, quando a área de inovação do iFood estava prospectando tendências no setor de delivery e se deparou com um boom de testes de uso de drones pelo mundo. “Procuramos fornecedores brasileiros e encontramos a Speedbird Aero, que estava desenvolvendo uma tecnologia nacional”, conta Leilane Melo, coordenadora de inovação e futuro da logística no iFood.
Em junho daquele ano, o iFood fechou uma parceria de Pesquisa e Desenvolvimento com a Speedbird Aero para testar o uso de drones para fazer entregas. Àquela altura, a aeronave desenvolvida pela empresa ainda não havia sido certificada.
Imprevistos na pandemia
No final de 2019, as empresas ainda não tinham autorização para iniciar o projeto. “Por ser uma operação nova para todos, inclusive para os órgãos regulamentadores, o CAVE (Certificado de Autorização de Voo Experimental) demorou mais que o previsto para ser emitido.”, explica Leilane.
Apenas em agosto de 2020, as empresas receberam o documento, que autoriza voos em projetos de pesquisa e desenvolvimento e que dava sinal verde para começar os testes com drones na primeira rota autorizada e que sobrevoava o Shopping Iguatemi Campinas (SP).
Mas ainda havia a pandemia de Covid-19. “Por termos escolhido lá em 2019 uma rota em shopping, foi preciso aguardar a flexibilização das restrições para iniciarmos o projeto, mesmo tendo já todas as aprovações”, diz Leilane.
Quando o shopping voltou a funcionar, o iFood e a Speedbird Aero realizaram o primeiro teste do drone, em dezembro de 2020. Nesse experimento, a aeronave percorreu uma rota de cerca de 400 metros do terraço ao iFood Hub do Iguatemi Campinas —o trajeto, que a pé levaria 12 minutos, foi cumprido em 3 minutos.
A aeronave usada no teste era o protótipo do que viria a ser o drone aprovado. Os voos já eram automatizados, e acompanhados por um especialista em operação de drones.
Decolando em 2021
O período de testes com o drone em Campinas foi até março de 2021. Em pouco mais de dois meses, o iFood entregou 306 pedidos usando esse novo modal, atendendo 17 restaurantes. “Tínhamos uma meta de número de pedidos por hora a ser batida em seis meses, e conseguimos chegar no objetivo em apenas dois meses”, conta Leilane.
Ela conta que, nesse início, as preocupações eram as mais básicas, como fazer o drone chegar de um ponto a outro e garantir que a comida não derramasse ou esfriasse. “Cumprida a meta, precisávamos de uma rota mais desafiadora e testar entregas em um lugar que ainda não era atendido pelo iFood”, diz.
Depois de mapear mais de 200 cidades, cruzar dados sobre o tempo de transporte terrestre e aéreo e analisar as restrições de uso da aeronave, o iFood definiu um novo local para testar a entrega por drones: Aracaju.
O desafio seria atravessar um coqueiral e um rio para levar refeições até Barra dos Coqueiros e reduzir o tempo de trajeto terrestre, que era de 25 a 55 minutos por causa do trânsito carregado na única ponte de acesso à cidade.
“A escolha foi pautada pela inteligência do time de mapas, que viu uma oportunidade de levar o iFood a uma praça que não podia ser atendida. Sem o drone, não chegaríamos lá”, aponta Leilane.
Os novos testes estão sendo realizados desde outubro de 2021, e o uso da aeronave reduziu o tempo total de entrega para 15 minutos, sendo a parte aérea de 2,8 km em 5 minutos e o restante por terra através de um entregador parceiro.
Em janeiro de 2022, o iFood e a Speedbird Aero enfim receberam a autorização da Anac para realizar entregas com drones em todo o território nacional, voando a até 120 metros com cargas de até 2,5 kg —o primeiro passo para usar esse modal não poluente para agilizar as entregas.
A partir daí, a foodtech avalia novas rotas para viabilizar o delivery em locais pouco acessíveis. “Às vezes é difícil de acreditar, mas chegamos lá e com essa autorização, abrimos portas para que mais empresas testem o delivery com drones no Brasil, diz Leilane.”
