Em breve, drones vão transportar diferentes coisas pelo céu dos centros urbanos: de encomendas a pessoas. Como organizar esse novo trânsito?
Parece algo distante, mas em alguns anos as cidades podem ganhar mais um tipo de via com o avanço da tecnologia: os céus. Se já é comum vermos drones voando por aí para uso recreativo, nas lavouras ou no delivery, em breve esses equipamentos transportarão bem mais itens (e até pessoas). Está posto o desafio: como organizar esse novo trânsito?
A mobilidade aérea urbana (UAM, na sigla em inglês) é um conceito ainda em desenvolvimento, mas que já prevê drones voando para levar encomendas e passageiros ou apoiar atividades de socorro e segurança —como combate a incêndios.
Para organizar esse novo meio de transporte, a União Europeia começou a testar, em junho de 2022, a viabilidade de um sistema de gerenciamento de mobilidade aérea urbana no projeto AMU-LED (sigla em inglês para Mobilidade Aérea Urbana – Grandes Demonstrações Experimentais).
Com testes e simulações reais, o AMU-LED vai explorar e demonstrar os casos de uso de operações de táxi aéreo, transporte de cargas, entrega de mercadorias e equipamentos médicos, inspeção de infraestruturas, vigilância policial e apoio a serviços de emergência. O projeto é financiado pela SESAR, uma espécie de consórcio de organizações do setor público e privado do continente.
O primeiro teste foi realizado na Universidade de Cranfield, no Reino Unido, e será seguido por mais outras operações até o mês de setembro na Holanda (Amsterdã, Rotterdam e Enschede) e na Espanha (Santiago de Compostela). Ao todo, serão mais de 100 horas de voos combinando sistemas aéreos tripulados e não-tripulados.
“Este é um projeto muito empolgante e que abrirá o caminho para rodovias nos céus, removendo o tráfego e o congestionamento e mudando a maneira como nos movemos”, disse Gokhan Inalhan, professor de sistemas autônomos e inteligência artificial da Universidade de Cranfield, ao site Cities Today.
O gerenciamento do tráfego aéreo dos drones será feito em uma estrutura batizada de U-space, criada para oferecer segurança e eficiência a essa operação. O sistema é mais automatizado do que o controle de tráfego aéreo atual, com menos interação humana e capacidade de acompanhar mais voos simultaneamente.
E no Brasil, como é?
Em maio de 2022 a Eve, empresa de mobilidade urbana da Embraer, publicou o Conceito de Operações (CONOPS) para Mobilidade Aérea Urbana no Brasil. O documento, criado em parceira com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e outras dez instituições, tem dados e análises que abrangem a visão, os pontos de atenção e as necessidades operacionais do eVTOL (sigla em inglês para decolagem e pouso verticais elétricos), da jornada do usuário e de serviços e suporte.
O eVTOL é o drone mais “robusto” que será utilizado no futuro para transportar pessoas, o próximo passo do táxi aéreo. Os modelos existentes lembram o helicóptero, com a diferença de que são movidos a eletricidade e contam com muito mais hélices.
Além de estudos e grupos de discussão, o CONOPS realizou operações de voo em novembro de 2021 para simular um ecossistema de UAM com a utilização de um helicóptero. O trajeto foi feito no Rio de Janeiro e ligou o bairro da Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional Tom Jobim.
A população participou da simulação comprando passagens com preços acessíveis em seis saídas diárias realizadas em um mês. Segundo a Eve, os dados e informações extraídos desta simulação irão contribuir para a definição das características e necessidades para o desenvolvimento da mobilidade aérea urbana para qualquer cidade do Brasil.