IA generativa: ameaça ou oportunidade na educação?

Especialistas falam sobre como inteligência artificial como o ChatGPT pode estimular novas atividades em sala de aula

Que a inteligência artificial generativa é boa de texto a gente já sabe. Mas escrever uma redação do Enem em 50 segundos (e tirar nota 680 de 1.000), como fez o ChatGPT, supera qualquer expectativa. 

Esse novo tipo de inteligência artificial consegue produzir textos complexos a partir de dados e informações a que tem acesso. Por isso, passou a ser usado para fazer artigos, textos e tarefas escolares –e tem dado o que falar, reflete o portal Desafios da Educação.

Na Furman University, por exemplo, o professor-assistente de filosofia Darren Hick desconfiou do trabalho de um dos alunos que deveriam escrever um ensaio de 500 palavras sobre o filósofo David Hume.

O texto em questão precisaria versar sobre o chamado “paradoxo do horror”, que trata de como as pessoas podem se divertir com algo que temem. Uma das dissertações, embora utilizasse termos e conceitos ligados à teoria de Hume, acabava estabelecendo linhas de raciocínio incoerentes. 

Hick, então, logo imaginou que havia ali o dedo do ChatGPT, que entrega textos longos e argumentativos por meio de “machine learning”, ou aprendizado de máquina, em que o feedback humano e a retroalimentação de informações vão sendo incorporados para tornar o software mais inteligente.

Eventos como esse fazem as instituições de ensino verem a IA generativa com ressalvas. Depois do que houve na Furman University, a cidade de Nova York, por exemplo, proibiu o acesso ao ChatGPT nas redes escolares.

IA generativa gera novas reflexões

Mas, parodiando os achados do filósofo David Hume, não seria possível, nesse caso, tirar proveito daquilo que nos provoca o terror? Ou, em outras palavras, o sistema educacional não poderia enxergar o ChatGPT como uma ferramenta útil e aliada em vez de um robô do mal plagiador?

Sim, poderia – e essa resposta nem foi fornecida pelo software, e sim por especialistas humanos.

Para Luciano Sathler, membro do conselho deliberativo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o caminho mais indicado está longe de ser proibir o uso do software.

Ao contrário: o uso consciente dessa inovação pode se tornar um excelente mecanismo para diálogos construtivos e aprimoramento das reflexões. E um meio para que “os educadores repensem sua atuação e aprendam a trabalhar com as tecnologias disponíveis de forma crítica, criativa e colaborativa”, disse ao Desafios da Educação.

Um texto “escrito” pelo ChatGPT pode ser um fértil território para novas conexões e interpretações mesmo a partir de lapsos e equívocos cometidos na argumentação do robô.

Os estudantes da turma que fez os textos sobre David Hume, por exemplo, poderiam ser desafiados a apontar incoerências na redação produzida pelo software sobre o tema proposto.

Para Martha Gabriel, autora do livro “Inteligência Artificial: do Zero ao Metaverso” e professora da PUC-RS e da PUC-SP, a questão é “saber usar aquela tecnologia no seu máximo potencial e fazer aquilo que ela não faz”.

“O que faz a diferença nesse contexto não são mais as respostas, mas as perguntas”, diz ela em um artigo da BBC. “Tem que saber perguntar. Para saber perguntar, tem que saber pensar criticamente.”

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