A gestão de resíduos é um desafio também para a indústria de alimentos. Só no Brasil, 27 milhões de toneladas de alimentos são descartadas anualmente, de acordo com estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Isso nos transforma em um dos países que mais desperdiçam comida no mundo.
Além do descarte de alimentos, há ainda o lixo gerado pelas embalagens, no processo de transporte e pelas indústrias, que são grandes desafios para a luta pela sustentabilidade.
Hoje, avanços tecnológicos como a inteligência artificial (IA) são grandes aliados na gestão de resíduos e contribuem para que a indústria alimentícia se aproxime cada vez mais de um ideal de sustentabilidade, reduzindo seu impacto ambiental e desenvolvendo boas práticas.
A importância da gestão de resíduos na indústria de alimentos
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), existem mais de 36 mil empresas de alimentos e bebidas no Brasil, que geram mais de 1,7 milhão de empregos e são responsáveis por cerca de 58% do processamento da produção agropecuária do país. Além disso, também de acordo com a ABIA, cerca de 10,6% de todo o produto interno bruto (PIB) brasileiro é gerado por este segmento.
Ao alto volume de produção está atrelado um alto volume de lixo, e o setor vem investindo cada vez mais em maneiras de tornar sua ação mais sustentável e de reduzir o impacto sobre o meio ambiente.
Os principais resíduos gerados são os orgânicos sólidos úmidos, os orgânicos sólidos secos (com potencial de serem reciclados) e os resíduos químicos e biológicos resultantes de processos industriais.
Em relação ao lixo orgânico — parte predominante dos resíduos resultantes da indústria de alimentos —, a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) aponta que apenas 1% das 37 milhões de toneladas produzidas anualmente é reaproveitada.
A maior parte dos resíduos acaba sendo acumulada em aterros sanitários e lixões, o que pode contaminar o solo e a água do entorno. O mesmo ocorre com os efluentes químicos, que causam até mesmo problemas de saúde pública.
Esse cenário deixa clara a necessidade de uma gestão de resíduos mais eficiente, e já existem medidas para regular isso. Em 2010, foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que diz que os responsáveis pelos resíduos gerados são as empresas e instituições, desde o descarte até o destino final.
Além disso, em 2022, o iFood também lançou uma iniciativa nessa direção: o “Guia para Cidade Modelo em Gestão de Resíduos e Reciclagem”. Trata-se de uma orientação para ações de reciclagem, ligada ao projeto iFood Regenera. Fortaleza, capital do Ceará, foi a primeira cidade brasileira a adotar o modelo de gestão de resíduos sólidos proposto na publicação.
Alternativas mais sustentáveis, como a compostagem e a biodigestão, são as opções de algumas indústrias do setor. A compostagem é um processo mais natural, enquanto a biodigestão depende de uma infraestrutura tecnológica maior. Mas ambas contribuem para que a gestão de resíduos seja feita de forma mais sustentável e para reduzir o impacto ambiental do segmento alimentício.
O papel da Inteligência Artificial na gestão de resíduos
Hoje, a indústria vive uma nova revolução, a chamada “indústria 4.0”. Por meio de recursos tecnológicos, é possível transformar os processos produtivos, tornando-os mais inteligentes, sustentáveis e eficientes. Uma das tecnologias que faz parte desse movimento é a IA, com apoio da geração e análise de dados e do machine learning.
Na indústria de forma geral, sistemas de IA podem ajudar a gerenciar a eficiência energética por meio de sensores para o monitoramento do consumo de energia em tempo real que permite identificar possibilidades de economia e redução do consumo.
Outra vantagem é na diminuição do uso de matéria prima. Com o uso de máquinas dotadas de IA, as indústrias podem rastrear toda a cadeia produtiva, desde a extração até o produto final, e encontrar oportunidade de economia.
Mais especificamente na gestão de resíduos, a IA é aplicada para identificar os tipos de resíduos gerados, prever o volume de descarte e sugerir formas mais adequadas para o descarte, de modo a reduzir a quantidade de lixo que será destinado a aterros sanitários.
Os sistemas de IA podem ser usados também para monitorar e rastrear os desperdícios que ocorrem em todo o processo, desde determinados processos que consomem muita energia ou matéria-prima até eventuais vazamentos de água e de gás.
Conclusão
Com os diversos desafios que a indústria alimentícia enfrenta em relação à sustentabilidade, a gestão de resíduos vem se tornando prioridade para o segmento.
Os avanços tecnológicos mais recentes deixam claro que sistemas de IA são poderosas ferramentas para lidar com essas questões, pois permitem que as empresas reduzam seu impacto ambiental e avancem em direção a práticas mais sustentáveis, criando uma economia mais verde e benéfica para o futuro da vida na Terra.