Conheça os vencedores da competição financiada por Elon Musk para promover soluções que removam 10 gigatoneladas de CO2 da atmosfera
O desafio: achar uma solução inovadora para remover 10 gigatoneladas de CO2 da atmosfera por ano até 2050. O prêmio: US$ 100 milhões. Essa é a proposta de uma das competições ativas no XPRIZE, organização sem fins lucrativos que, no último dia 22 de abril, premiou a primeira rodada de vencedores. Ao todo, foram 15 projetos, vindos de nove países, e cada um recebeu US$ 1 milhão para aplicar no desenvolvimento das soluções.
A competição financiada por Elon Musk (que recentemente comprou o Twitter por US$ 44 bilhões) e sua fundação oferece US$ 100 milhões pelos melhores projetos que reequilibrem o ciclo do carbono e evitem o aumento da temperatura nosso planeta.
Em 2025, serão conhecidos os projetos finalistas, que irão dividir US$ 80 milhões para serem aplicados em pesquisa e desenvolvimento das soluções. Desse valor, US$ 50 milhões serão destinados para o projeto vencedor e US$ 30 milhões serão distribuídos entre até outras três iniciativas. Um prêmio extra de US$ 5 milhões para projetos de estudantes universitários completa o valor total da premiação – a lista com as 23 iniciativas laureadas pode ser conferida aqui.
Mesmo depois dessa primeira rodada de premiação, os US$ 80 milhões ainda estão no jogo. Para disputá-los, é preciso seguir os requisitos da competição e se inscrever até 1º de dezembro de 2023 (saiba mais aqui). Qualquer pessoa pode participar, individualmente ou em equipes (de pequenas e médias empresas, startups, grupos universitários, estudantes do ensino médio e organizações comunitárias).
Em 27 anos de existência, o XPRIZE já lançou 25 competições e distribuiu US$ 269 milhões em premiações, além de reunir mais de um milhão de apoiadores. Um dos mais recentes é Fabricio Bloisi, presidente do iFood, que entrou para o board de Inovação da XPRIZE em junho de 2021.
Quais foram as soluções vencedoras?
Armazenamento no subsolo
O Calcite (da 8 Rivers Capital, EUA) captura CO2 do ar e o armazena permanentemente no subsolo. E é “reciclável”: o cálcio usado na captura do elemento é regenerado para absorver mais gás carbônico na atmosfera em um segundo momento. “O processo permite uma rápida absorção de carbono em larga escala e a baixo custo”, diz a empresa em seu site, estimando um custo de remoção de carbono inferior a US$ 100 por tonelada.
Equipamento de captura
A holandesa Carbyon quer remover CO2 da atmosfera com um equipamento do porte de um gerador de energia eólica —e promete “extrema eficiência energética e baixo custo de fabricação”. A máquina tem um tambor rotativo feito de um material modificado para capturar o gás com mais eficiência e com menor custo de energia: € 50 por tonelada.
Mineralização expressa
As parceiras Heirloom (EUA) e Carbfix (Islândia) propõem usar rochas para absorver o CO2 que está no ar. O gás captado das fontes de emissão (como chaminés de fábricas) é dissolvido em água, e o líquido gaseificado interage com formações rochosas, como o basalto, para formar uma rocha que armazena o gás carbônico. Assim, a mineralização acontece em dias, e não em anos.
Mineralização nas montanhas
O processo também foi usado no Project Hajar, dobradinha da Mission Zero Technologies (Reino Unido) e da 44.01 (Omã). Combinando duas tecnologias complementares, a ideia é remover o CO2 presente na região da montanha de Al Hajar, em Omã e estocá-lo nas rochas (mais especificamente no peridotito subterrâneo, abundante na região e com grande potencial de mineralização).
Reúso com energia renovável
A Sustaera (Estados Unidos) desenvolveu em seu projeto uma nova tecnologia de captura direta do ar (DAC, sigla em inglês para direct air capture) que usa energia renovável para remover, substituir e reutilizar o gás carbônico que é sequestrado da atmosfera.
Remoção eletroquímica
As empresas Verdox (EUA) e Carbfix (Islândia) também propõem a miineralização do carbono. A diferença é que aqui a captura é feita com tecnologia da Verdox de remoção eletroquímica de carbono — processo feito com 70% menos de energia em comparação com outras técnicas, segundo a empresa.
Carvão vegetal turbinado
O Bioeconomy Institute Carbon Removal Team, da Universidade de Iowa (EUA), criou um pirolisador (equipamento que realiza a pirólise, uma reação termoquímica) para sequestrar o gás carbônico da atmosfera com um melhor custo-benefício. A equipe usa a biomassa de resíduos vegetais (ricos em carbono extraído pelas plantas) para produzir o biochar, um carvão vegetal utilizado na agricultura para melhorar a saúde do solo e aumentar seu potencial de armazenamento de carbono. Seus dois pirolisadores são capazes de sequestrar mil toneladas de carbono por ano.
Fazendas de algas
Com uma fazenda de algas que ocupa uma área de mais de 160 hectares (o que equivale a aproximadamente 160 campos de futebol), a Global Algae Innovations, dos Estados Unidos tem como meta capturar 7,5 mil toneladas de CO2 da natureza, que serão fixadas pelas algas por meio de seu processo de fotossíntese.
Remoção pelo solo
A francesa Net Zero também usa a pirólise no sequestro de carbono da atmosfera. Sua solução é usar resíduos da produção agrícola como matéria-prima para a produção de biochar, que, quando usado no solo, remove carbono. Segundo o IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), se implantado em escala global, o carvão vegetal pode remover 2 bilhões de toneladas de CO2 por ano do ar.
Fazendeiros no mercado de carbono
O projeto PlantVillage, da Universidade Penn (EUA), quer extrair um bilhão de toneladas de carbono por ano da atmosfera e, ao mesmo tempo, beneficiar agricultores de baixa renda na África, que seriam capacitados para cultivar árvores rastreáveis para vender créditos de carbono. Seu fundador, David Hughes, acredita que com o apoio da inteligência artificial seja possível fazer o sequestro permanente de carbono de 1 tonelada por ano a menos de US$ 25 a tonelada.
Reciclagem de biomassa
A Takachar (Quênia) e a Universidade de British Columbia (Canadá) se uniram no Takachar & Safi Organics para transformar resíduo vegetal (biomassa) em produtos que possam ser vendidos em todo o mundo. Para evitar a queima desse lixo, que contribui para a poluição do ar, a Takachar desenvolveu um equipamento barato e pequeno que se conecta a tratores na colheita e converte a biomassa em combustíveis e fertilizantes, reduzindo as emissões de fumaça para a atmosfera em até 98%.
Extração dos oceanos
O Captura, da Caltech, quer extrair CO2 dos oceanos por meio de um processo batizado de “processo eletroquímico de oscilação de pH”. O time desenvolveu um material chamado membrana bipolar, que quebra as moléculas de água em prótons e hidroxilas (moléculas de hidrogênio e oxigênio carregadas negativamente). Os prótons (os íons de hidrogênio carregados positivamente) são inseridos de volta na água, deixando-a levemente ácida. Essa leve acidificação converte o íon de bicarbonato em CO2 dissolvido, que pode ser extraído da água e armazenado em formações geológicas, como reservatórios de gás e petróleo já explorados. Depois de extrair o CO2, a água descarbonatada é combinada com as hidroxilas e volta ao mar com um pH um pouco mais alto —e com capacidade de absorver mais gás carbônico do mar.
Fazenda de algas marinhas
A proposta da Marine Permaculture SeaForestation from the Climate Foundation, da Climate Foundation (Estados Unidos, Filipinas e Austrália) é criar uma fazenda de algas marinhas no oceano como parte de uma estratégia para segurança alimentar, regeneração do ecossistema marinho e sequestro de carbono. Segundo a instituição, cada quilômetro quadrado de permacultura marinha poderia captar milhares de toneladas de CO2 por ano e armazená-las nas profundezas do oceano.
Resíduos de minas para restaurar oceanos
A tecnologia desenvolvida pelos canadenses da Planetary purifica os resíduos de minas e os transforma em um antiácido suave e não tóxico, que é liberado no oceano para restaurar os níveis de pH (hoje mais ácido por causa das mudanças climáticas) e acelerar o processo natural de extração do CO2 da atmosfera pelas águas marinhas. Segundo nota publicada em seu site, a solução combina quatro benefícios: “remoção do gás na natureza, produção de hidrogênio verde (substituto de combustível fóssil), limpeza de resíduos de minas e restauração dos oceanos”.
Mineralização usando resíduos de minas
Uma solução semelhante foi desenvolvida pela também canadense Carbon Minerals, que pretende usar rejeitos de minas para remover CO2 da atmosfera. Sua tecnologia otimiza o processo a partir de rochas, por meio da mineralização de carbono, que foi acelerada. “Temos técnicas que nos permitem aumentar essas taxas por um fator de três ou cinco, de modo que temos alguns locais fazendo centenas de milhares de toneladas de CO2 por ano”, disse Greg Dipple, cofundador da empresa baseada na universidade canadense.