Brasileira ganha prêmio por pesquisar plantas comestíveis

A pernambucana Patrícia Ribeiro mostra como as PANCs podem melhorar a nossa dieta e a renda dos produtores

Arroz, feijão e… taioba? Colocar novas plantas no prato dos brasileiros para deixar a refeição mais nutritiva é a missão da etnobióloga Patrícia Ribeiro, de Pernambuco, que acaba de receber, na França, o prêmio que venceu em 2020 —a cerimônia presencial havia sido cancelada por causa da Covid-19.

Com sua pesquisa sobre como popularizar o consumo de plantas silvestres no Brasil, Patrícia foi uma das 15 ganhadoras do prêmio Rising Talents, concedido a jovens cientistas mulheres pela Fundação L’Oréal em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Seu trabalho nos últimos anos tem sido abrir caminho para o consumo das plantas alimentícias não convencionais, ou PANCs, como a taioba, o araçá, o cambui, o catolé e o jenipapo, entre outras que hoje são pouco consumidas nas cidades. 

Do ponto de vista da alimentação, essas PANCs enriquecem a nossa dieta com nutrientes variados. “Estudos mostram que os alimentos convencionais têm deficiências de certos micronutrientes, como ferro e cálcio. E indicam que as plantas silvestres têm muitos micronutrientes. Então seria uma forma de diversificar, e não de substituir, os produtos tradicionais”, explica Patrícia à BBC Brasil.

O araçá, por exemplo, tem altos teores de vitamina C, e o jenipapo é rico em ferro e cálcio. “Já os catolés são ricos do ponto de vista calórico, portanto são bons em termos de segurança alimentar”, diz a pesquisadora à RFI.

Algumas das PANCs pesquisadas, como a taioba, são folhas que podem ser refogadas ou usadas para enriquecer sopas e caldos. Outras, como o araçá, o cambuí e a maçaranduba, são espécies frutíferas que podem virar suco, geleia e até mousse.

Diversificação e mudanças climáticas

O interesse de Patrícia, no entanto, se estende para além da mesa. Em sua pesquisa, ela leva em conta também os aspectos ambientais da produção dessas PANCs (como o manejo sustentável) e o impacto social de ajudar produtores e comunidades extrativistas a gerar novas fontes de renda com esses alimentos.

Segundo a Fundação L’Oréal, sua pesquisa foi premiada porque não só inclui novos produtos na alimentação como também promove a biodiversidade e a segurança alimentar. Como essas plantas são mais adaptadas aos seus ambientes, reduz-se a necessidade de usar agrotóxicos e fertilizantes.

Outro ponto importante, ressalta Patrícia, é oferecer opções para diversificar a nossa alimentação por conta das mudanças climáticas. “Há espécies mais resistentes às altas temperaturas e, principalmente, à ausência de chuvas”, explica. “Quanto mais diversas forem nossas opções alimentares, há mais chances de ter elementos com os quais contar no futuro incerto.”

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