Como uma fazenda agrivoltaica combate as mudanças climáticas

Sistema combina produção de comida e energia renovável e ainda protege o solo da seca

Algumas fazendas na Europa e nos Estados Unidos estão com uma paisagem diferente. Quem olha para a plantação vê agricultores, tratores e até animais se movendo abaixo de uma vasta cobertura de placas solares, que ficam a três ou quatro metros de altura do chão.

Essa dobradinha é a base do sistema agrivoltaico, ou a coexistência, no mesmo terreno, da agricultura com placas fotovoltaicas, que transformam a energia solar em energia elétrica. Ele difere das fazendas solares tradicionais porque a altura das placas e o espaçamento entre elas são ajustados para permitir o deslocamento de trabalhadores, animais e máquinas. 

No modelo agrivoltaico, o espaçamento e o ângulo dos painéis solares são projetados para que a luz consiga atingir a plantação onde é necessário. Já as áreas de sombra trazem a vantagem de proteger o solo das altas temperaturas e da perda excessiva de água, aponta Stefano Amaducci, professor Departamento de Produção Vegetal Sustentável da Universidade Católica do Sagrado Coração (Itália). Além disso, a plantação libera água no ar, e isso resfria as placas solares, criando uma relação simbiótica entre as plantas e os painéis.

O sistema tem atraído interesse porque contempla duas importantes preocupações ambientais. Por um lado, é uma solução para lugares quentes e secos —que tendem a se tornar cada vez mais comuns devido ao aquecimento global. Por outro, é uma maneira de expandir a oferta de energia renovável para grandes cidades.

Os projetos agrivoltaicos em geral preveem que a eletricidade gerada pelos painéis solares abasteça a fazenda, mas a ideia é produzir um excesso de energia para distribuí-la na rede local —o que, por sua vez, vira uma nova fonte de renda para os agricultores.

Energia renovável para as cidades

Na Europa, as fazendas agrivoltaicas já existem há quase uma década. Agora, estão começando a surgir na China, na Austrália e na Coreia. E chegaram aos Estados Unidos, onde sua implantação tem por objetivo viabilizar a produção de energia perto das grandes cidades, onde estão as fazendas produtoras de alimentos —as fazendas solares costumam ficar mais distantes das zonas urbanas.

“Grandes instalações no meio do nada não resolverão todos os nossos problemas de energia. Transportar essa energia pode ser muito caro”, afirma Greg Barron-Gafford, biogeógrafo e professor assistente da Universidade do Arizona ao The New York Times.

Segundo o jornal, essa simbiose das placas com a lavoura já começa a produzir resultados. Um projeto no estado do Arizona teve aumento de três vezes no rendimento das colheitas no sistema agrivoltaico, além de redução de até 50% nos requisitos de irrigação, graças à sombra fornecida pelos painéis.

Por enquanto, um grande obstáculo para o avanço do agrivoltaico —que ainda não chegou ao Brasil— é o custo do aço, usado nos componentes e nas “pernas” das placas, tanto acima do solo como na fundação (que em geral tem o dobro da altura visível das hastes). Quando será que essa novidade chega por aqui?

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