Conheça duas startups que valorizam pequenos produtores rurais

Empreendedores criam modelos de negócio para resolver as dores dos pequenos agricultores brasileiros

Sabe o cafezinho que você tomou hoje de manhã? Ou a popular banana que dá energia a muitos brasileiros? Há uma boa chance de esses alimentos terem vindo de uma terra cultivada por agricultores familiares em pequenas propriedades.

Esses produtores são responsáveis por 48% da produção de café e banana no país, e também plantam 80% da nossa mandioca, 69% dos abacaxis e 42% do feijão que produzimos, de acordo com o último Censo Agro do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizado em 2017.

Com 3,9 milhões de propriedades, os agricultores familiares representam 77% dos estabelecimentos agrícolas brasileiros, mas sua presença vem se reduzindo. De acordo com esse recenseamento, na década de 2006 a 2016 o número de estabelecimentos agrícolas familiares caiu 9,5% no país.

“Eles vêm enfrentando muitos desafios, como não ter o mesmo estímulo econômico, fiscal e financeiro dos grandes produtores, além de questões de sucessão ou até mesmo de política de preços condizente com o custo da produção”, aponta Aziz Constantino, cofundador da Orgânico Solidário, plataforma sem fins lucrativos que leva cestas de alimentos orgânicos para famílias em situação de vulnerabilidade e é parceira do iFood (cada R$ 50 de doações recebidas no app viram uma cesta a ser doada). 

Orgânico na cesta básica

Essa foi a solução encontrada por essa “organização social com cultura de startup” (como define Aziz) não só para conectar produtores orgânicos com quem mais precisa de comida, mas também para superar a falta de demanda recorrente que ameaça os planos e as finanças nesse segmento. 

“Com a garantia de compra do produto, os produtores podem planejar melhor a safra com menos risco. Nesse setor, não é difícil ver grandes compradores cancelando pedidos e causando grandes prejuízos aos pequenos agricultores”, afirma Aziz.

Para ele, a importância dos produtores orgânicos vai além do aspecto nutricional. “O orgânico não é só uma perspectiva de quem come. É um respeito à terra e a quem produz. Todo o dinheiro que entra em doação para nós, mais do que alimentar um lado, gera renda para esses produtores, que são os guardiões da alimentação saudável”, completa.

Em dois anos de atuação, a Orgânico Solidário já recebeu R$ 4 milhões em doações e entregou mais de 500 toneladas de alimentos em cinco estados (São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Paraná e Goiás). As entregas são semanais, e cada família recebe 6 kg de alimentos orgânicos. 

Do campo para a cozinha do restaurante

A startup Frexco, também parceira do iFood na entrega de alimentos in natura, desenvolveu um modelo de negócio que usa a tecnologia para conectar os pequenos produtores de frutas, legumes e verduras a restaurantes e pessoas físicas em São Paulo. Como está perto de centenas de agricultores da região de Piedade (SP), a empresa se encarrega da logística e leva a produção diretamente aos clientes. 

O negócio nasceu de uma preocupação em valorizar o trabalho dos pequenos agricultores, e faz isso melhorando sua remuneração e garantindo a demanda pelos alimentos. “Nessa cadeia, 30% dos produtos, em média, são jogados fora na distribuição. Além do desperdício absurdo, isso aumenta o preço dos alimentos na ponta, mas o produtor não recebe esse valor”, explica Eduardo Tacla Pietraroia, cofundador da Frexco. 

Seguindo a tese do farm to table (do campo à mesa), a startup eliminou os intermediários entre os produtores e os clientes e se encarregou da logística de transporte. “Os produtores colhem no dia da entrega e com certeza da venda. Uma comercialização justa permite que eles planejem a produção e tenham uma vida mais digna”, diz Eduardo. “Eles ganham mais dinheiro com a mudança de modelo.”

Outro fator importante, comenta João Marcos Ferreira de Jesus, head de relacionamento com produtores da Frexco, é que o modelo traz mais confiança na frequência de pagamentos, realizados sempre em dia. “Os produtores sofrem muito com a incerteza da demanda, e muitos reclamam de tomar calote nos acordos”, diz João. 

A Frexco, criada em 2019, hoje tem uma base com mais de 400 contatos de produtores —dos quais 60, em média, estão ativos— e de 2.000 restaurantes e 500 pessoas físicas. Seu sonho grande é expandir a atuação para todo o país. “Queremos resolver essa dor comum a todos os pequenos produtores brasileiros”, afirma Eduardo.

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