Consumo de  orgânicos cresce no Brasil, mas esbarra no preço

A principal motivação para a compra de orgânicos é o cuidado com a saúde, mas preço é impeditivo, revela pesquisa; conheça mais resultados.

Pesquisa mostra que a principal motivação é o cuidado com a saúde. Hortifruti é categoria mais consumida, mas há muitos outros produtos

O consumo de produtos orgânicos no Brasil tem crescido nos últimos anos e ainda há muito espaço para conquistar o gosto e os corações da população brasileira. O que tem atrapalhado essa evolução são os preços dos produtos. Essas são algumas conclusões do estudo Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021.

Realizada a cada dois anos pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), em parceria com a Brain (empresa de inteligência de mercado) e a UnirOrgânicos (empresa de comunicação e informação do setor), a pesquisa realizada em 2021 entrevistou 987 residentes de 12 capitais das cinco regiões brasileiras.

A principal conclusão é que, em 2021, 31% da população brasileira havia consumido produtos orgânicos nos  30 dias anteriores à pesquisa —um crescimento de 106% quando comparado com o ano de 2017. 

Mas ainda há muita gente para conquistar, não só entre aqueles que não são compradores dos orgânicos como também entre os já convertidos.

Apenas 8% dos entrevistados disse que comprou produtos dessa categoria nos  seis meses anteriores. E 61% dos entrevistados não colocaram um orgânico na sacola do mercado ou da feira. 

Mesmo entre quem consome orgânicos, a frequência é baixa: a maioria o faz no máximo 1 ou 2 vezes por semana, e ainda não estabeleceu esse hábito. 

Preço salgado para quem já compra e para quem não compra

O principal motivo para esse cenário é o preço.

A percepção da maioria da população brasileira é a de que os produtos orgânicos são caros ou bem mais caros do que o seu equivalente não-orgânico —essa foi a resposta de 79% das pessoas quando perguntadas sobre qual era a barreira para o consumo.

Ainda que esse público considere compreensível haver essa diferença na etiqueta de preço —porque os alimentos não recebem agrotóxicos e  são de melhor qualidade—, é fato que o valor a ser pago joga contra a popularização desses produtos.

O preço é impeditivo tanto para a conquista de novos clientes como para o aumento da frequência de consumo entre aqueles que já compram esses produtos no seu dia a dia.

Em 2017, 62% dos que já compravam orgânicos responsabilizavam o valor dos produtos para não aumentar a sua quantidade na despensa de casa. Em 2019, eram 65%; e em 2021, 67%.

Já entre os que não compram orgânicos, 59% elegeram o preço como motivo para não começar um novo hábito, um aumento de 44% em relação ao índice de 2017.

Segundo a Forbes, o valor médio mensal de gastos com os produtos orgânicos varia na seguinte proporção:

  • Até R$ 200, para 68% dos consumidores de orgânicos;
  • De R$ 201 a R$ 350 para 15% dos consumidores;
  • Acima de R$ 350 para 17% dos consumidores.

Compra de orgânicos, uma motivação individual

A predileção por produtos orgânicos traz benefícios individuais e coletivos — como a preocupação com o meio ambiente, bem-estar social e a sustentabilidade econômica via incentivo aos pequenos produtores.

Mas os brasileiros levam em conta uma variável individual na hora que decidem levar um orgânico para casa: a saúde.

Dentre os motivos mais citados para o consumo desse tipo de produto estão a preocupação em melhorar a saúde (47%), o produto ser mais saudável (26%), ser de melhor qualidade (24%) e não levar agrotóxicos (13%).

A questão da saúde ajuda a explicar a quantidade considerável de novos entrantes entre os compradores de produtos orgânicos durante a pandemia: 37% dos entrevistados afirmam que passaram a consumir esse tipo de produto entre 2019 e 2021. Além disso, quase um quarto (23%) passou a comer mais orgânicos durante os longos meses de distanciamento social.

Falou orgânico, entendeu hortifruti

Segundo a Organis, o produto orgânico é aquele que:

  • Não prejudica o meio ambiente nem compromete os recursos naturais;
  • Não prejudica as espécies de animais e plantas locais;
  • Não degrada o solo;
  • Respeita os trabalhadores, seus direitos e condições de trabalho;
  •  Não cultiva transgênicos;
  •  Não recebe agrotóxicos nem outras substâncias sintéticas.

Talvez por isso a imagem dos orgânicos esteja tão ligada às frutas, hortaliças e vegetais, os produtos que vêm direto do campo para as feiras e supermercados. Tanto é que 75% dos entrevistados destinam suas compras de orgânicos para produtos de hortifruti.

Mas não são apenas esses os produtos que podem ser considerados orgânicos. Cereais, grãos, ovos, carnes e produtos industrializados (como biscoitos, açúcar, pão, pão de queijo, doce de leite, queijos, leite, iogurte, produtos de higiene e limpeza) também levam a certificação orgânica.

À Forbes, Marcos Kahtalian, sócio fundador da Brain, elegeu três desafios para o setor de orgânicos ampliar o seu crescimento:

  • Ampliar a produção e diversidade de produtos;
  • Ampliar a distribuição e comunicação do setor com consumidores;
  • Tornar o preço mais acessível para estimular o consumo.

“Nesse mercado, a saída passa pelo crescimento da oferta e, claro, com o crescimento e popularização do conceito de orgânicos”, disse o executivo.

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