Criança brasileira só desenvolverá 54% de seu capital humano

Índice medido pelo Banco Mundial mostra o tamanho do desperdício de talentos no país

No Brasil, uma criança nascida em 2021 só desenvolverá suas habilidades a ponto de atingir 54% do seu potencial quando chegar aos 18 anos, segundo os resultados do Relatório de Capital Humano Brasileiro do Banco Mundial, divulgado em julho. 

Esse relatório faz parte do Human Capital Project, iniciativa da entidade para alertar governos sobre a importância de investir nas pessoas. Para isso, mede-se o Índice de Capital Humano (ICH), que reflete a produtividade de uma pessoa nascida no ano da pesquisa quando ela chegar à maioridade. Para fazer esse cálculo, o Banco Mundial avalia indicadores de saúde infantil, educação e saúde. 

O ICH importa não só porque determina o nível de renda e as oportunidades de trabalho que uma pessoa terá na vida adulta, mas também por seu impacto no Produto Interno Bruto (PIB) de um país. Isso porque o índice calcula a produtividade esperada da próxima geração de trabalhadores (caso as circunstâncias de um país não mudem). Um ICH maior, portanto, significa maior produtividade no futuro.

Em dois anos de pandemia de Covid-19, o Brasil perdeu o avanço feito durante uma década —as crianças nascidas em 2019 desenvolveriam 60% de seu potencial. Para recuperar essa perda, o país levaria de 10 a 13 anos, segundo o relatório. Se mantiver a trajetória de crescimento observada entre 2007 e 2019, levará 60 anos para igualar os patamares de ICH das nações desenvolvidas.

Diferenças regionais, raciais e de gênero

O ICH varia bastante pelo Brasil. Uma criança nascida no Norte ou no Nordeste, por exemplo, desenvolve aproximadamente metade de todo o seu potencial talento —10 pontos percentuais a menos do que as nascidas no Sudeste. O ICH médio das regiões Norte e Nordeste em 2019 foi semelhante ao ICH médio das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em 2007, de acordo com o relatório.

Nas últimas décadas, o Nordeste teve o maior crescimento do capital humano do país. As maiores altas de ICH ocorreram nos estados de Pernambuco (25,6%), Alagoas (20,9%) e Ceará (17,9%). Já o Norte teve o pior desempenho: Amapá, Roraima e Tocantins registraram os menores ganhos de ICH entre 2007 e 2019.

Outras diferenças são observadas em relação à raça e ao gênero. O ICH das mulheres brasileiras (60%) é superior ao dos homens (53%), o que significa que elas estão uma década à frente deles, com índices superiores em praticamente todos os municípios. 

Já o de pessoas negras (56%) é sete pontos percentuais inferior ao de pessoas brancas (63%) —o da população indígena é ainda menor: 52%. Entre 2007 e 2019, o ICH das pessoas brancas aumentou 14,6%, um ritmo mais acelerado do que o de pessoas negras (10,2%) e indígenas (0,97%).

Tem saída?

O relatório aponta alguns caminhos para o Brasil reverter a queda do ICH nos próximos anos:

  • Proteger crianças e adolescentes das consequências sanitárias e socioemocionais da pandemia por meio do Sistema Único de Saúde (SUS);
  • Fortalecer o programa de transferência condicionada de renda (considerado pelo Banco Mundial um dos mais bem-sucedidos do mundo) para não agravar as desigualdades existentes;
  • Reforçar as recentes reformas nacionais de flexibilização do currículo e a promoção de um financiamento mais equitativo na educação;
  • Implementar, nas escolas, sistemas de alerta preventivo para identificar alunos com alto risco de evasão e abandono escolar e tomar medidas preventivas;
  • Priorizar a recuperação e a aceleração do aprendizado com tutorias personalizadas e plataformas adaptativas de aprendizagem, que funcionam em curto prazo;
  • Cuidar da saúde mental de alunos e professores e articular estratégias socioemocionais na rede escolar para não ter alunos desmotivados;
  • Fortalecer a aprendizagem híbrida, ampliar a conectividade à internet e fornecer dispositivos computacionais para alunos vulneráveis, para que todos possam aprimorar suas competências digitais.
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