Escolas de samba dão aula sobre cultura e história do Brasil

Historiador mostra como os desfiles podem ser aproveitados para ensinar história, sociologia, arte —e até português

Neste final de semana, as escolas de samba campeãs no Rio de Janeiro e em São Paulo voltam à avenida com seus desfiles vencedores. Além de nos trazer emoção e diversão, os temas que vestem fantasias e sambas-enredo também têm muito a ensinar sobre arte, história e a diversidade do nosso povo.

Para o historiador Luiz Antonio Simas, o que se passa na avenida tem grande potencial pedagógico. “Os enredos, o cortejo dramático, a dramaturgia de um desfile de escola de samba podem colocar uma série de questões vinculadas à história do Brasil, à cultura brasileira”, afirma ele em entrevista ao site Porvir.

Simas, que neste foi homenageado pela escola de samba carioca Acadêmicos da Abolição, afirma que os desfiles nos ajudam a analisar a história e refletir sobre questões atuais, como o racismo, a intolerância religiosa e o preconceito. 

E dá um exemplo. “Em 1960, a Acadêmicos do Salgueiro fez o enredo ‘Quilombo dos Palmares’, contando a história antes que ela chegasse aos livros didáticos”.

Por sua vez, em 2023 a Beija-Flor de Nilópolis cantou narrativas sobre o processo de independência do Brasil com a referência do 2 de julho baiano, a guerra de independência da Bahia.

Uma festa que atravessa várias disciplinas

Simas também destaca o papel educativo das fantasias. No caso do bloco Cacique de Ramos, do Rio de Janeiro, o costume de usar trajes indígenas está intimamente ligado às origens em um espaço consagrado ao orixá Oxóssi e ganha uma dimensão diferente, de respeito aos povos tradicionais. 

“O Cacique de Ramos louva os caboclos, Oxóssi e os povos das florestas, homenageando os povos originários”, explica.

Outro ponto ressaltado pelo historiador é o de que o carnaval se manifesta como uma festa de construção de sentido coletivo da vida. “Isso é muito importante, especialmente em uma sociedade que tende a nos individualizar”.

Tudo isso, em sua visão, torna o carnaval um elemento importante para a educação ao misturar história, sociologia, filosofia, arte, geografia e até mesmo língua portuguesa —por que não usar um samba-enredo para estudar português? 

“Nós podemos dar aula de história, de geografia, de sociologia, de filosofia, de artes, de língua portuguesa, de literatura tendo como referência o carnaval. É um tema que apresenta uma transversalidade para quem trabalha com educação.”

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