Avião polui mais, mas é menos usado no dia a dia —a saída é usar menos o carro, em nome da sustentabilidade
Quando estamos fazendo as contas de como reduzir nosso impacto ambiental no quesito transporte, o que será que vale mais a pena: andar menos de carro ou de avião?
Ambos queimam combustível e liberam para atmosfera gases que não fazem nada bem para o meio ambiente e para a saúde, como monóxido e dióxido de carbono, metano, material particulado, óxido nitroso e hidrocarburetos. Mas a resposta para essa dúvida está na quantidade de vezes que você utiliza um ou outro modal para se deslocar por aí.
A questão é que o avião é muito mais poluente —mas quantas vezes você voa por ano, e com quantas pessoas? E quanto você usa o carro? Individualmente, o avião polui mais. Mas, por passageiro, o vilão pode ser o carro.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estima que, em média, cada passageiro de avião “lance” 70 gramas de gás carbônico a cada quilômetro percorrido. Apesar de ter um potencial poluidor maior, pois em seu tanque cabem muitos litros de combustível, a poluição emitida per capita é menor do que a do carro, que leva menos gente —um modelo popular a gasolina emite de 94 a 107 gramas de CO2 por quilômetro, segundo o Inmetro.
O que fazer, então? “Dentro da realidade das pessoas, acredito que reduzir o uso do carro seria uma tentativa mais viável e tangível em termos de mobilidade. Principalmente porque o carro geralmente é algo que está ali para o seu uso no dia a dia”, explica Bruno Yamanaka, especialista de conteúdo do Instituto Akatu, para começar a responder a esse dilema.
Como usar menos o carro?
Para usar menos o carro, você pode dar preferência a modais não poluentes, como o carro elétrico (infelizmente essa ainda é uma realidade para poucos no Brasil), bicicleta ou os próprios pés — em especial para as distâncias muito curtas.
Ou então você pode “dividir” a emissão de gás carbônico (CO2) e outros poluentes que o transporte gera com outras pessoas, seja no transporte público ou pegando carona com quem faz o mesmo trajeto que você.
Em 2018, um estudo feito pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) mostrou que em São Paulo, a cidade com a maior frota de carros do país (19 milhões em 2020, segundo o IBGE), os automóveis eram responsáveis por 72,6% das emissões dos gases do efeito estufa (GEE). Número alto para um veículo que geralmente leva uma pessoa.
O modal é responsável pelo trajeto de 30% da população paulistana e é, de longe, mais poluente do que uma moto (o outro modal individual) e o ônibus (que todo mundo acha que polui mais).
Dá para andar menos de avião?
Ainda que seja um modal caro, o avião é um meio de transporte muito utilizado no Brasil. Seja a negócios ou a lazer, pelo céu se chega mais rápido a destinos que, por terra, levam mais de horas. Se não dá para abrir mão por completo, o que é possível fazer?
- Refletir: essa viagem precisa ser feita? Se houver mais de um destino, pode ser feito combinando outro modal?
- Substituir: se é uma viagem a negócios, é possível realizar a reunião à distância?
- Planejar: você usa o avião para sempre ir para o mesmo lugar? Não daria para diminuir o número de idas e vindas?
- Voar pouco: prefira voos diretos ou com poucas escalas, uma vez que as ações de pouso e decolagem gastam muito combustível.
Por que isso é importante?
O gás carbônico é um dos gases do efeito estufa, responsáveis, como diz o nome, pelo efeito estufa e o aquecimento global. A métrica usada para medir os GEE é a tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO2e).
Em 2018, segundo o Our World in Data, o transporte (de carga e pessoas) no Brasil foi responsável pela emissão de 191,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente para a atmosfera.
O transporte é o terceiro maior responsável pela cota brasileira de poluição atmosférica. Perde para agricultura (496,1 milhões) e o manejo do solo e silvicultura (387,9 milhões de toneladas).
Quando comparamos com o mundo, somos a oitava economia que mais lança esses gases no ar a partir da movimentação de cargas e pessoas. E a aviação e o transporte marítimo? É o 10º setor que mais emite CO2: 16,74 milhões de toneladas