De um lado, o desperdício: 17% dos alimentos produzidos no mundo são jogados fora, segundo estudo publicado pela ONU (Organizações das Nações Unidas) em 2021. De outro, milhões de brasileiros que passam algum grau de insegurança alimentar —desde não saber se terão comida suficiente para a próxima refeição até passar fome.
Para combater esses dois problemas, uma ideia: por que não coletar o excedente de comida deixada de lado na indústria e no varejo para evitar que alimentos próprios para o consumo sejam jogados fora e redistribui-los a quem mais precisa?
Há um ano, essa é a premissa que movimenta o Todos à Mesa, a primeira coalizão brasileira de empresas (entre elas, o iFood) e organizações para combater tanto a fome como o desperdício de alimentos redistribuindo o que está bom para comer, mas seria descartado.
O primeiro passo foi dado no dia 16 de outubro de 2021, quando o iFood, a Connecting Food, o Carrefour, a Nestlé e a M. Dias Branco se uniram para lançar esse projeto. “O Todos à Mesa nasceu com o diferencial de ser um movimento co-construído com grandes empresas da área de alimentação”, lembra Láislla Gouveia, coordenadora em responsabilidade socioambiental do iFood. “Para resolver o problema da fome, que é sistêmico, precisamos buscar saídas entre os atores que podem trazer soluções.”
A união deu resultado: em um ano, o movimento cresceu e conta com 15 empresas —as novas adesões foram Bauducco, Camil, Danone, DPA Brasil, Lopes Supermercados, Gomes da Costa, Facily, Frexco e Pepsico, além da Design de Conversa, que apoia na governança.
Nesse primeiro ano, 6.000 toneladas de alimentos foram doadas pelas empresas que participam da coalizão, uma quantidade capaz de complementar a alimentação de 2,4 milhões de pessoas. “Queremos atrair mais dez empresas até março de 2023 para ampliar esse impacto”, afirma Láislla.
Ação premiada
O Todos à Mesa mobiliza empresas para redistribuir alimentos próprios para o consumo mas que correm o risco de serem desperdiçados na cadeia de alimentação. Com apoio da Connecting Food, os parceiros redistribuem esses produtos, que são doados de forma segura a organizações de combate à fome e bancos de alimentos em 19 Estados do país.
Na indústria, por exemplo, evita-se o desperdício de alimentos que sobram quando há falha na produção ou na embalagem, quando o pedido é cancelado pelo cliente ou quando os alimentos estão perto da data de vencimento e não há mais tempo hábil para chegar ao varejo. Já no varejo, onde frutas, legumes e verduras são trocados diariamente, os alimentos imperfeitos ou mais maduros são doados em vez de serem descartados.
Toda essa mobilização já rendeu reconhecimento: em julho de 2022, o Todos à Mesa ganhou o prêmio ECO Brasil 2022, criado pela Amcham e realizado em parceria com a revista Época Negócios, que reconhece as melhores e mais inovadoras práticas de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança). O movimento foi vencedor na modalidade Práticas de Sustentabilidade da categoria de Processos para Grandes Empresas.
“A fome e o desperdício de alimentos não podem coexistir. Esse reconhecimento mostra que estamos no caminho certo e que há um entendimento da sociedade de que a fome e a insegurança alimentar são problemas graves”, disse André Borges, head de sustentabilidade do iFood, ao iFood News na ocasião.
O futuro do Todos à Mesa
Em outubro de 2022, o movimento aderiu ao Pacto pelos 15% com Fome, programa idealizado em julho pela ONG Ação da Cidadania para enfrentar a insegurança alimentar no país. Com isso, os parceiros da coalizão se comprometeram a doar, todo dia 15 do mês (de setembro a dezembro), uma quantidade adicional de alimentos para o Pacto.
Para que o Todos à Mesa cresça, o novo desafio é atrair mais parceiros em seu segundo ano de vida. “Quando uma empresa entra no Todos à Mesa, ela reavalia processos internos para reduzir o desperdício”, explica Láislla. “O crescimento do movimento não passa apenas por doar cada vez mais, porque esse aprimoramento faz elas doarem menos. Por isso é importante ter mais empresas participando.”
Em 2023, o movimento quer trazer novas vozes para a discussão de como combater a fome e o desperdício de alimentos. “Nossa ideia é trazer startups e novos atores para o diálogo. Assim poderemos criar novas conexões e gerar valor”, diz Láislla. “Infelizmente, o tema do combate à fome ainda não está saturado. Por isso, vejo muita oportunidade de as empresas se posicionarem.”
O Todos à Mesa está aberto a receber novos parceiros; para aderir, basta entrar em contato pelo formulário no site do movimento (www.todosamesabrasil.com.br). Lá, é possível saber o que pode ser doado, quem pode doar e quem pode receber o alimento que não vai mais para o lixo.
