Na era da colaboração, inovar sozinho pode ser um desperdício. A inovação aberta propõe justamente o contrário: compartilhar desafios, ideias e soluções com outras empresas.É um convite ao diálogo maduro, onde o foco deixa de ser apenas a disputa de mercado e passa a ser a construção conjunta de valor.
Tentar resolver tudo a portas fechadas pode atrasar o desenvolvimento de soluções que já existem, ou que estão prestes a surgir do outro lado do muro — seja em uma startup, um centro de pesquisa ou até em uma conversa com clientes.
Mesmo com equipes talentosas e dedicadas, nenhuma empresa tem todas as respostas. A inovação aberta parte dessa humildade estratégica: reconhecer que boas ideias podem vir de fora e que o futuro é mais promissor quando construído em rede.
Vamos entender melhor sobre o que é inovação aberta e como o iFood faz isso?
O que é inovação aberta?
A inovação aberta é uma abordagem colaborativa que rompe com o modelo tradicional de inovação fechada, em que todas as soluções são desenvolvidas apenas dentro da empresa.
Em vez disso, ela aposta na conexão com agentes externos — como startups, universidades, hubs de tecnologia e outras empresas — para acelerar a criação de soluções mais eficientes, escaláveis e relevantes para o mercado.
Como explica Thiago Viana, diretor de Inovação do iFood, “Inovação aberta é uma forma de construir soluções novas para os usuários através de parcerias com outras empresas.”
“Muitas empresas tendem a construir as soluções proprietárias internamente, utilizando sistemas de engenharia e produto, mas existe uma outra forma de inovar, trabalhando com empresas terceiras, com outros empreendedores que constroem soluções de sucesso, que podem ser integradas a essa corporação”, complementa.
Ou seja: a gestão de inovação aberta envolve o reconhecimento de que nem todos os talentos, ideias e tecnologias precisam estar “dentro de casa” para que uma empresa inove de verdade.
Em diversos casos, unir forças com quem já domina um desafio específico é o caminho mais rápido e sustentável para entregar valor real ao cliente.
Como funciona a inovação aberta na prática?
Diferente de um processo com etapas rígidas, a inovação aberta funciona, na prática, como um modelo vivo de colaboração. É menos sobre seguir um manual e mais sobre construir conexões estratégicas, o que varia de empresa para empresa, de acordo com seus desafios e objetivos.
Essa abordagem se dá por meio de iniciativas como hubs de inovação, aceleração de startups, desenvolvimento conjunto de produtos, hackathons, entre outros formatos que estimulam a troca de ideias, experiências e tecnologias.
O que essas práticas têm em comum é o mesmo princípio: abrir as portas para inovação externa entrar e, muitas vezes, também sair.
No iFood, por exemplo, essa mentalidade é aplicada com o método Jet Ski: uma forma ágil de testar inovações em projetos internos, de forma rápida e com baixo risco.
A ideia é navegar por novos caminhos sem comprometer a operação principal, como um jet ski que se move com agilidade e liberdade, enquanto o transatlântico (a operação core da empresa) segue seu curso estável.
Segundo o conceito original proposto por Henry Chesbrough, a inovação aberta possui dois fluxos complementares:
- De fora para dentro: quando a empresa incorpora ideias, tecnologias ou soluções desenvolvidas por agentes externos (como startups ou universidades) para fortalecer sua inovação interna;
- De dentro para fora: quando uma organização compartilha ou licencia inovações desenvolvidas internamente, mas que não serão aproveitadas no core business, permitindo que outras empresas deem continuidade ou escalem essas soluções.
Esse ciclo de troca é o que alimenta os ecossistemas de inovação.
Como surgiu a inovação aberta?

A definição de inovação aberta ganhou visibilidade global a partir dos estudos de Henry Chesbrough, professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Foi ele quem cunhou o termo open innovation no início dos anos 2000, para descrever uma abordagem mais participativa, descentralizada e colaborativa da inovação.
A primeira menção pública ocorreu em seu livro de 2003, considerado um marco no tema e eleito um dos TOP 50 da revista Scientific American.
Segundo Chesbrough, a inovação aberta não surgiu porque o modelo fechado “deu errado”, mas sim como uma resposta natural à nova dinâmica do conhecimento.
Em um artigo publicado na Forbes, ele defende que inovar de forma aberta é mais inteligente, lucrativo e alinhado à complexidade atual dos mercados.
A proposta parte do princípio de que o conhecimento está amplamente distribuído pelo mundo. Empresas, universidades, startups e até os próprios consumidores são fontes potenciais de boas ideias.
Antes mesmo da consolidação do conceito, empresas como a Cisco já colocavam a teoria em prática, ainda que sem usar esse nome.
Nos anos 1990, a empresa cresceu rapidamente ao adotar estratégias alinhadas ao modelo de inovação aberta, como parcerias com outras empresas e aquisição de startups com soluções complementares ao seu negócio principal.
Quais são os principais benefícios da inovação aberta para as empresas?
Os benefícios da inovação aberta já são realidade em empresas que adotaram esse modelo de forma estratégica.
Um estudo da PwC mostra que mais da metade das organizações líderes em inovação estão migrando para práticas abertas.
Outro dado expressivo é o crescimento de 1900% nas iniciativas de inovação aberta em cinco anos, segundo a plataforma 100 Open Startups — um sinal claro de que o modelo se consolidou como parte das estratégias de inovação de mercado.
Entre as principais vantagens da inovação aberta para startups e empresas, destacam-se:
- Redução de custos e riscos de desenvolvimento, ao dividir esforços com parceiros externos;
- Maior participação de clientes no processo de inovação, favorecendo a criação de soluções mais alinhadas às necessidades reais do mercado;
- Acesso a talentos e tecnologias complementares, muitas vezes fora da estrutura tradicional da empresa;
- Geração de valor para a marca, ao se posicionar como uma organização colaborativa, atual e aberta a novas ideias;
- Oportunidades de parcerias com startups, universidades, hubs de inovação e outros ecossistemas de criatividade aplicada.
Mais do que isso, a inovação aberta contribui para espalhar uma cultura inovadora em toda a companhia.
À medida que os times se envolvem em projetos colaborativos, há um aumento da motivação, da troca de conhecimento e da disposição para experimentar soluções fora do convencional.
Quais são os desafios de adotar a inovação aberta?
Implementar um modelo de inovação aberta vai além de firmar parcerias externas — exige uma transformação cultural dentro da empresa.
Um dos maiores desafios é desconstruir a mentalidade tradicional de inovação fechada, em que tudo precisa ser desenvolvido internamente para garantir controle e segurança.
Ainda hoje, muitas empresas enfrentam resistência por medo de compartilhar dados, abrir processos ou dividir protagonismo com startups.
Além disso, há dificuldades práticas, como:
- Alinhamento entre áreas internas e externas: muitas vezes, a empresa identifica uma solução interessante, mas não consegue integrá-la ao seu fluxo de trabalho.
- Falta de clareza sobre o problema real a ser resolvido, o que pode fazer com que a parceria perca o foco.
- Diferenças de ritmo e linguagem entre corporações e startups, que têm níveis distintos de maturidade, processos e tomada de decisão.
- Gestão de expectativas: tanto da empresa quanto do parceiro, que precisam construir confiança e estabelecer metas claras e realistas.
No iFood, esses desafios são enfrentados com uma abordagem bem definida.
“Muitas vezes, as empresas se apaixonam por soluções que encontram, por empreendedores incríveis, mas não conseguem fazer um alinhamento interno sobre os problemas que precisam resolver”, explica Thiago.
“No iFood, a gente começa toda iniciativa de inovação a partir do problema. Entendemos o que hoje é uma dor para o negócio, o que precisa ser resolvido e, a partir disso, buscamos empresas no mercado que ofereçam boas soluções”, complementa o especialista.
Essa visão ajuda a garantir que as parcerias sejam mais estratégicas e menos oportunistas, alinhadas a dores reais do negócio e com foco em escala.
Em quais áreas a inovação aberta é mais aplicada?

A inovação aberta vem ganhando espaço em diferentes áreas do mercado, especialmente onde há forte pressão por transformação digital e adaptação rápida às novas demandas.
Segundo dados do Ranking 100 Open Startups, ao menos 2.018 startups já firmaram parcerias de Open Innovation com médias e grandes empresas no Brasil nos últimos anos. Considerando que o país tem mais de 14 mil startups ativas, esse número tende a crescer.
Entre os setores com maior aderência à inovação aberta estão:
- Logística e mobilidade, com soluções para entregas mais inteligentes, sustentáveis e autônomas (como o robô Ada, no iFood).
- Varejo e e-commerce, que usam dados para personalizar experiências e acelerar jornadas de compra.
- Saúde, com iniciativas de monitoramento remoto, IA para diagnóstico e integração de prontuários.
- Alimentos e bebidas, onde há busca por eficiência na cadeia produtiva e consumo consciente.
- Educação, com plataformas de aprendizado adaptativo e tecnologias de ensino remoto.
Mas não é preciso ser um gigante para começar. Há diversas formas de aplicar a inovação aberta na prática, independentemente do porte da empresa. Algumas iniciativas viáveis incluem:
- Coleta de ideias dos clientes: mais do que ouvir feedbacks, é possível criar plataformas colaborativas de co-criação, testando sugestões e integrando o público ao processo de inovação.
- Hackathons: maratonas criativas que reúnem desenvolvedores, designers e empreendedores para resolver desafios reais — modelo muito valorizado entre startups e universidades.
- Hubs de inovação e ecossistemas: espaços que conectam empresas, startups, pesquisadores e investidores em torno de soluções compartilhadas.
No Brasil, ainda estamos em uma curva de aprendizado sobre como funciona a inovação aberta na prática, especialmente no que diz respeito a processos menos burocráticos e mais acessíveis para empreendedores.
Mas o avanço é visível: as empresas que investem nesse modelo estão aprendendo a lidar melhor com o erro, a testar com agilidade e a escalar com mais consistência.
Como o iFood utiliza inovação aberta para impulsionar soluções tecnológicas e sociais?
No iFood, a inovação aberta deixou de ser tendência para virar prática. Em vez de desenvolver todas as soluções internamente, a empresa aposta em parcerias estratégicas com startups que já têm tecnologias prontas ou em estágio avançado de validação.
Isso acelera o tempo de entrega, reduz riscos e abre novas frentes de crescimento para todos os envolvidos.
Veja alguns exemplos práticos de como funciona a inovação aberta na prática:
Entregas por drone
Criar uma tecnologia própria para entregas por drone exigiria uma estrutura enorme — desde desenvolvimento dos equipamentos até homologações junto ao governo.
Em vez disso, o iFood optou por parceria com a Speedbird, o que permitiu realizar os primeiros testes com drones em Campinas (SP) e Aracaju (SE), já em 2021.
Essa é uma das grandes vantagens da inovação aberta para empresas: ganhar velocidade de implementação e escalar soluções que levariam anos para serem construídas do zero.
Live commerce
Inspirado por tendências globais, como o boom de live commerce, o iFood também decidiu experimentar esse modelo no Brasil.
Desenvolver a tecnologia internamente levaria de 6 a 12 meses, segundo o time de produto. Por isso, a estratégia foi buscar no mercado startups com soluções white label já prontas, testá-las por meio de uma PoC (prova de conceito) e avaliar se o produto se encaixa na operação do iFood.
Esse modelo evita desperdício de tempo e recursos — e mostra o que é e para que serve a inovação aberta na prática: testar rápido, errar barato e decidir com mais embasamento se vale a pena internalizar ou continuar com a parceria.
Clube iFood
O iFood testou inicialmente o Loop, um produto de venda de combos de marmitas com jornada simplificada.
O projeto trouxe aprendizados valiosos sobre retenção e comportamento de consumo recorrente, revelando o potencial de criar mais engajamento no ecossistema.
A partir dessa experiência, a empresa transformou o insight em algo maior: o iFood Club, programa de fidelidade baseado em recorrência, que ampliou o impacto para toda a base de usuários.
Esse é um caso típico de inovação aberta: testar em pequena escala, aprender com o comportamento real dos usuários e depois escalar o modelo em outro produto estratégico, incorporando feedbacks e dados do uso inicial.
Quer saber mais sobre a revolução dos meios de pagamentos e como o iFood tem participado? Então veja nossa série do iFood Labs!