A inovação aberta permite obter respostas para temas difíceis ao lado de empresas parceiras, talvez concorrentes. É o diálogo maduro para a criação de mais colaboração no mercado.
A concorrência ainda existe. No entanto, os líderes sabem que manter informações a portas fechadas pode ser, em alguns casos, desperdício de tempo.
A informação e o conhecimento se propagam, na era da internet, em uma velocidade que foge do nosso alcance. Os dados são um tesouro da era contemporânea e podem trazer respostas aos principais problemas da sociedade.
Para as empresas, as soluções procuradas dificilmente surgem de maneira 100% inédita. Ainda que você tenha os melhores funcionários e um time coeso, pode ser que uma ou outra informação esteja visível pelo alto de um muro que separa os lados.
Saiba agora o que é e quais as vantagens da inovação aberta.
O que é inovação aberta?
A inovação aberta é o uso de fluxos de entrada e saída de conhecimento para acelerar a inovação e expandir mercados. Ela é uma antítese da abordagem tradicional, em que os processos são todos internos, fechados a sete chaves.
O modelo é, portanto, uma ruptura com métodos habituais de cultura corporativa. Exige um reconhecimento por parte dos líderes de que existem profissionais ou equipes com habilidades essenciais fora de suas estruturas.
Em artigo para a Forbes, o criador do termo, Henry Chesbrough, Ph.D em administração de empresas, diz que a inovação aberta é uma maneira mais lucrativa de inovar.
Ela pode reduzir custos, acelerar o tempo de lançamento de um produto no mercado, e criar novos fluxos.
Essa nova forma de gestão da inovação não foi criada porque o modelo antigo “deu errado”, mas porque visa o futuro. Dessa forma, a inovação aberta busca trazer mais melhorias para o processo como um todo.
Como surgiu a inovação aberta?
A inovação aberta é uma abordagem mais colaborativa e participativa da inovação, baseada no fato de que o conhecimento hoje é amplamente distribuído. Essa explicação surge com Henry Chesbrough.
Em livro lançado no início deste milênio, Chesbrough, que também lecionou em Harvard, cunhou o termo pela primeira vez. A obra foi nomeada TOP 50 Innovator pela revista Scientific American.
Antes de Chesbrough ser considerado o pai do termo, usado pela primeira vez em 2003, a Cisco era apontada como uma das pioneiras em inovação.
A empresa teve um crescimento importante na década de 90 seguindo estratégias próximas ao conceito mais recente.
Como a inovação aberta funciona?
Não há um manual de inovação aberta, afinal, ela é um modelo de compartilhamento de informações e ideias. O andamento dos processos depende muito das necessidades de cada empresa.
Hoje em dia, estão sendo criados hubs de inovação e outros ecossistemas que aproximam profissionais da área para que haja troca de informações e metodologias..
O iFood atua seguindo o método Jet Ski, por exemplo.
Seguindo ainda os conceitos de Chesbrough, o modelo tem duas faces:
Na primeira, a inovação se dá de fora para dentro, que é quando ideias são trazidas de empresas externas para o seio da inovação interna.
A outra forma menos conhecida, é quando a inovação aberta ocorre de dentro para fora. É o reconhecimento de que ideias e tecnologias subutilizadas internamente podem ser incorporadas pelos processos de outras empresas.
Princípios da inovação aberta
Os princípios da inovação aberta são os passos que uma empresa terá que tomar para transformar sua maneira de pensar inovação.
Uma organização que quer inovar precisa olhar para os outros e se conectar com diferentes startups. E ela precisa fazer isso porque no longo prazo o mercado sofre novas transformações
No processo de desenvolvimento, é necessário trabalhar de forma conjunta com outras instituições e pessoas de fora do núcleo habitual.
Portanto, alguns velhos atos precisam entrar em consonância com os objetivos da inovação aberta. Por exemplo, lançar um produto primeiro que os concorrentes passa a ser menos importante do que fazê-lo ser eficiente.
As pesquisas não consideram apenas o lucro. Mas para que ele seja alcançado, já que ainda é o objetivo número um de qualquer negócio, é preciso ter em mente que as respostas serão encontradas também pela mão de obra externa.
Benefícios da inovação aberta
Um estudo da PwC mostra que mais da metade das empresas de destaque em inovação estão adaptando seus modelos para inovação aberta.
Além disso, temos um crescimento de 1900% em cinco anos das iniciativas nesse formato, segundo dados da 100 Open Startups.
Se tantas empresas estão repensando sua maneira de inovar é porque os benefícios estão presentes para aquelas que aderiram às mudanças. São eles: redução de custos, maior participação de clientes, oportunidades de parcerias e mais valor às marcas.
Além disso, a inovação aberta é um primeiro passo para uma cultura que se expande para toda a companhia. As soluções cooperativas podem se adaptar aos processos internos, gerando mais motivação para as equipes e profissionais.
Inovação aberta e fechada: qual a diferença?
A diferença entre inovação fechada e aberta está na transição do modelo vigente, tradicional entre as empresas, para a nova proposta.
A inovação fechada é a forma como a maioria massiva das empresas atua, ainda que não tenham noção disso.
Na inovação fechada, novas soluções dependem apenas dos profissionais e times internos para suas produções. E todo o data driven resultante do processo fica dentro dos limites da companhia.
É como se houvesse um grande cofre da informação, cujo segredo é apenas da empresa que o detém.
Nada muito diferente do que se espera tradicionalmente, com as empresas tendo apenas um olhar revanchista para as concorrentes.
Para acelerar processos e impulsionar as empresas, a inovação aberta surge para transformar essa cultura vigente. Compartilhar ideias e informações passa a ser útil para todos os envolvidos em um mesmo ecossistema.
Tipos de inovação aberta
São três os principais tipos de inovação aberta. Se você ainda não sabe quais são eles, vamos citar cada um individualmente.
Outbound
É uma forma de inovação aberta que ocorre quando a empresa desenvolve um ativo derivado de um processo de inovação e fornece para os parceiros. O objetivo é que ele possa ser mais desenvolvido ou comercializado.
Nesse modelo, a empresa com quem se firmou parceria pode ter o objetivo de incrementar melhorias ou apenas ficar responsável pelo canal de distribuição.
Inbound
O processo inverso do Outbound. No Inbound Open Innovation, a empresa adquire tecnologia externa para explorar internamente.
Assim, é possível gerar mais valor às próprias soluções a partir dos dados de terceiros.
Toda atividade Inbound exige cooperação com empresas, instituições, clientes, usuários finais e demais parceiros do ecossistema.
Coupled
Como o próprio termo sugere, em sua tradução, “couple” significa união/casal. É o casamento de duas ou mais empresas no processo de inovação.
O objetivo é gerar muitas ideias conjuntas, de maneira que o grande grupo possa explorar mais ativos.
Como colocar em prática a inovação aberta?
Uma maneira simples de começar a colocar em prática a inovação aberta é coletar ideias de clientes.
Esse público é estratégico para qualquer tipo de negócio e pode trazer muitas informações relevantes para aprimorar produtos e serviços.
Mais do que apenas coletar feedbacks, é possível criar uma plataforma de co-criação com essas pessoas. Após a coleta de ideias, é possível testá-las e colocá-las em prática.
Os Hackatons também são uma maneira de colocar a inovação aberta em prática e é sucesso entre as startups. Esse tipo de evento é como se fosse uma maratona para criar soluções em nicho.
Existem outras tantas maneiras de colocar a inovação aberta em prática e muitas ainda estão surgindo. O importante é saber que parte da inovação, de maneira geral, é feita da coragem de errar, aprender com os erros e otimizar soluções a partir deles.
Inovação aberta: exemplos
O iFood é uma empresa que pratica inovação aberta no dia a dia.
Para citarmos um processo interno, podemos falar das entregas por drones, o que demandou a busca no mercado por empresas especializadas na tecnologia.
Outro exemplo já aplicado no presente é o farm-to-table. Uma tese já super adiantada na Ásia, que significa a desintermediação da cadeira para pegar o alimento direto do produtor rural e vender ao consumidor pelo menor preço.
Como criar uma cultura que estimule a inovação aberta?
Existem pelo menos 2018 startups que fizeram Open Innovation com alguma média ou grande empresa nos últimos anos, segundo dados são do Ranking 100 Open Startups. Considerando que o Brasil tem mais de 14 mil startups ativas, os números podem aumentar.
Chegamos a 2022 vendo um mercado ainda incipiente quando se fala em inovação aberta no Brasil. As empresas estão aprendendo a lidar com startups de maneira menos burocrática , oferecendo condições para que os empreendedores se desenvolvam.
Segundo Marcos Gurgel, diretor de Corporate Ventures, Open Innovation & Jet Skis o iFood, ainda são as grandes empresas que prospectam empreendedores. Mas, no futuro, o ideal é que as startups também comecem a bater nas portas das companhias.
Para Gurgel, o relacionamento deve acontecer de forma fluida. “Quando tivermos uma via de mão dupla, sem barreiras, será um sinal de que, enfim, o ecossistema de inovação aberta estará maduro no Brasil”, conclui.