Além de garrafas, embalagens e sacolas de plástico que poluem os oceanos quando são descartados incorretamente, mais um material está prejudicando esse ecossistema. A Ocean Cleanup (organização sem fins lucrativos holandesa) analisou fragmentos plásticos recolhidos no Pacífico Norte e descobriu que esse lixo provém da pesca, informa o The Guardian.
Os resíduos encontrados nessa pesquisa vieram, principalmente, de cinco países que têm forte atividade pesqueira: Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, China e Taiwan.
Essa nova informação vai de encontro ao que se acreditava a respeito da poluição plástica dessa região, atribuída aos países em rápido desenvolvimento econômico do sudeste asiático.
Agora, a responsabilidade passa a ser compartilhada pelos países já industrializados, com destaque para um tipo específico de poluição: as ferramentas de pesca abandonadas, perdidas ou descartadas (ALDFG, na sigla em inglês).
Conhecido como equipamento fantasma, esse lixo é composto de redes de pesca, cordas, fios, armadilhas e outras ferramentas, geralmente feitas de plástico durável. Estima-se que entre 500 mil a 1 milhão de toneladas de ALDFG sejam espalhadas pelos oceanos por ano, o que corresponde a cerca de 20% do lixo plástico marinho.
Porque esses equipamentos fantasma são tão perigosos?
De acordo com o estudo, as ferramentas de pesca abandonadas acabam ficando em áreas mais profundas dos oceanos, muitas vezes escondidas e em partes escuras. Isso faz com que animais marinhos fiquem presos com mais facilidade e pode ameaçar ecossistemas como recifes de coral e prados de ervas marinhas.
Segundo o The World Wide Fund for Nature, o lixo de pesca é a forma mais letal de plástico marinho: 66% dos animais marinhos, incluindo todas as espécies de tartarugas e 50% das aves marinhas, estão sujeitos ao emaranhamento ou aprisionamento pelos equipamentos fantasma. Christina Dixon, líder de campanha pelos oceanos na Environmental Investigation Agency chama esse lixo de “o assassino invisível”.
Quem descarta as ferramentas no mar?
A pesquisa indica diversas causas que levam a essa grande quantidade de lixo de pesca nos oceanos, que vão desde tempestades marítimas até problemas no armazenamento e equipamentos presos no fundo do mar. A precarização econômica dos pescadores e a pesca ilegal também são fatores que intensificam o problema.
No entanto, o descarte voluntário do lixo nos oceanos não é um dos principais motivos para o grande volume de poluição. Segundo a reportagem, os equipamentos de pesca são, geralmente, muito caros para substituir, e não faria sentido descartá-los durante o uso e perder o que foi capturado com eles.
Como reverter esse problema?
Existem alternativas de equipamentos de pesca biodegradáveis e bóias rastreáveis via satélite que permitem que os pescadores recuperem armadilhas perdidas. Outra opção é a reciclagem de ferramentas, já disponível em diversos portos, que, muitas vezes, oferecem recompensas para quem entregar os materiais corretamente.
Iniciativas de recuperação dos equipamentos fantasma também são essenciais para esse processo, e já existem nos Estados Unidos. No Canadá, é obrigatório reportar a perda de equipamentos e marcar alguns tipos de ferramentas, tornando possível o rastreamento e a recuperação desses materiais.
A indústria também começou a fazer sua parte. Empresas como a Thai Union, uma das maiores companhias de frutos do mar do mundo, exige que seus fornecedores de atum indiquem quais são as partes não-biodegradáveis de seus dispositivos de agregação de peixes.
Apesar dessas diversas iniciativas, as ações para combater o descarte de equipamentos de pesca nos oceanos ainda são mínimas. O trabalho de recuperação é, principalmente, voluntário, e não consegue dar conta da grande quantidade de lixo já existente nos oceanos.
A expectativa é que o cenário mude em 2024, com o tratado internacional juridicamente vinculativo para acabar com a poluição plástica. As negociações dão a oportunidade para que medidas combativas ao abandono das ferramentas fantasma sejam obrigatórias em todos os países