Rodrigo Barros, CEO da franquia de alimentação saudável Boali, conta sua trajetória e revela as lições que trouxe do futebol
Hoje, o CEO Rodrigo Barros, 41 anos, é quem define as jogadas da Boali, franquia de restaurantes de alimentação saudável que está no aquecimento para começar sua expansão para o exterior. Mas nem sempre foi assim: ele começou a carreira só ouvindo as instruções dos técnicos de futebol —algumas das quais transformou em lições para empreender.
Nascido em Guarulhos (SP), Rodrigo começou a jogar futsal aos nove anos e se tornou jogador profissional de futebol na adolescência. Depois de jogar no Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha e em Portugal, ele pendurou as chuteiras em 2003, aos 22 anos.
“Eu poderia dizer que foi porque me contundi. Mas na verdade eu não era bom o suficiente e percebi que não chegaria aonde eu havia sonhado chegar no futebol”, conta Rodrigo. “E eu não queria ser medíocre. Queria fazer algo em que entregasse um resultado extraordinário.”
Ao deixar os gramados, ele abriu a mente para experimentar novas possibilidades, sem muita certeza do que iria fazer. “Quando você toma a decisão de deixar uma carreira para trás, faz bem entrar em outro fluxo, porque isso te traz novas perspectivas, faz você ver as coisas de modo diferente”, explica.
De volta a Guarulhos, foi trabalhar em uma academia de times, uma experiência que durou três meses. “Foi interessante, mas entendi que aquele não era o meu futuro. Não é porque eu tinha jogado futebol que eu deveria trabalhar com esporte.”
A partir daquele momento, Rodrigo colecionou experiências profissionais bem variadas. Primeiro, trabalhou com imóveis. Em paralelo, tomou gosto por assistir programas de entrevistas na TV sobre negócios e empreendedorismo e virou apresentador. “Eu pensava: ‘é uma boa maneira de aprender muita coisa’. Decidi ser apresentador também e entrevistar empresários para ver se entendia o que queria fazer da vida. Era um meio, não um fim.”
Ele finalmente vestiu a camisa de empreendedor em 2005, quando criou uma revista —depois, abriu um negócio na área de eventos, o Fórum Empresarial Regional. Rodrigo tomou gosto pela atividade e, quatro anos mais tarde, vendeu a empresa de eventos e comprou participação em uma faculdade. Lá, criou uma universidade corporativa para empresas, entre elas a Academia de Franchising da ABF (Associação Brasileira de Franchising), em 2010.
Escalando o time perfeito
As coisas iam bem, mas Rodrigo queria mais. Em 2013, ele foi morar por dois anos no Vale do Silício, o hub mundial de startups, em São Francisco, nos Estados Unidos. E foi lá, atuando como mentor de jovens empreendedores, que ele conheceu Victor Giansante e Fernando Bueno, franqueados da Salad Creations.
A afinidade entre os três era tamanha que Rodrigo comprou uma participação na sociedade e virou investidor do negócio ainda em 2013. “O futebol me ensinou que o time é sempre mais importante do que o indivíduo. Quando o treinador priorizava um jogador e deixava o time todo sofrendo por aquele cara, não chegava a um resultado bom”, lembra. “As pessoas, de forma multidisciplinar e com valores similares, podem construir grandes resultados para a equipe.”
Como a franqueadora norte-americana não estava interessada em expansão, os sócios compraram os direitos da Salad Creations no Brasil para construir uma marca brasileira de restaurantes, a Boali —nome que remete à boa alimentação. “Nosso propósito é universalizar o acesso à alimentação saudável”, diz o empreendedor.
Fundada em 2016, a Boali começou o jogo com as 19 operações que antes eram da Salad Creations. Três anos depois, Rodrigo assumiu o cargo de CEO da nova franquia. “Duas coisas me atraíam na Boali: pessoas e mercado. Eu já conhecia os sócios e achava extraordinários. São duas pessoas com quem eu tenho muita empatia e nas quais acredito muito. Além disso, o mercado estava em franca expansão.”
Enquanto morava no Vale do Silício, Rodrigo acompanhou o nascimento de muitos restaurantes de alimentação saudável. “O que eu não via eram grandes redes de expressão global. Então, quando assumi, já tinha o sonho de transformar a Boali em um negócio global.”
Em 2019, a Boali contava com 30 operações, das quais 10 eram unidades próprias e 20 eram franqueadas. Como CEO, Rodrigo adotou a estratégia de vender as unidades próprias para os franqueados com o objetivo de ganhar escala como franquia. “Colocando energia em loja própria, não sobrava tempo para dar atenção aos franqueados.”
Esse foi outro aprendizado do futebol que ele levou para o empreendedorismo: defina em que posição você joga e foque as energias nisso. “A galera quer ser boa em tudo e, no final do dia, o desempenho acaba sendo médio, não extraordinário. Você não precisa saber um pouco de tudo, e sim entregar muito bem resultados em uma coisa e trazer pessoas de competências complementares às suas”, ensina o ex-jogador.
Contra-ataque na crise
No seu primeiro ano à frente da Boali, Rodrigo encarou um desafio de peso: a pandemia de Covid-19. Em vez de ficar na retranca, ele partiu para o contra-ataque e investiu na expansão da marca. “Como os restaurantes iam fechar, começamos a preparar novas lojas para a retomada, porque a demanda se recupera mais rápido que a oferta. Queríamos estar totalmente preparados para aproveitar esse movimento quando as pessoas voltassem.”
A partir de junho de 2020, a franquia abriu seis dark kitchens em São Paulo, Santa Catarina e Paraná para validar novas praças. E entrou no iFood para crescer no delivery e em novos nichos, como o vegano e o de sanduíches econômicos nos horários que atendiam pouco (manhã e tarde). “O iFood foi essencial para manter a rede aberta na pandemia e foi ainda mais importante para o nosso crescimento. Tem muita gente que nos conheceu no iFood e hoje é cliente do balcão.”
Resultado: a Boali entrou na pandemia com 40 operações e chegará ao final de 2022 com ao menos 85, somando dark kitchens e lojas franqueadas. A goleada no Brasil animou Rodrigo a, enfim, colocar em prática o plano de internacionalização. A empresa assinou contrato com Estados Unidos para abrir 40 operações no país até 2026 —e já negocia a expansão para Portugal como porta de entrada para a Europa.
Curiosamente, foi em Portugal que Rodrigo encerrou a carreira de jogador de futebol. Hoje, o país representa a visão de futuro, a ponte para os resultados extraordinários que ele sempre buscou. “O futebol me deu perspectiva e repertório para encarar os problemas de uma forma diferente. Quando você busca as coisas pelo motivo certo, você encontra soluções que você nem imaginava.”