“Comecei na cara e na coragem, com uma caixa de açaí”

Empreendedora conta como abriu seu negócio com pouco dinheiro e cresceu inovando no delivery

A paulista Aline Ricardo da Silva, 33 anos, sempre adorou açaí na tigela. E era uma grande consumidora, até que um dia resolveu apostar nesse fruto amazônico como fonte de renda. A ideia de se tornar uma empreendedora surgiu da necessidade. Em 2016, seu marido, Cristian Fernandes da Silva, 35 anos, perdeu o emprego, e ela estava em casa cuidando dos filhos. 

“Sem emprego, achamos que seria uma chance de empreender”, conta ela. “Meu vício em açaí acabou me levando a querer vender o produto também. Eu pensei: ‘acho que consigo fazer, e um pouquinho melhor’.”

O problema é que nenhum dos dois sabia como preparar o açaí ou administrar um negócio de alimentação. “A gente começou a visitar os locais que vendiam açaí, ver as ideias que eles tinham. Eu fiz uma avaliação, vi a forma como trabalhavam, dei uma melhorada do meu jeito e comecei a fazer.”

Para se preparar, Aline foi estudar. “Como ter um negócio de alimentação era algo totalmente fora do que a gente já sabia, tivemos que estudar sobre vigilância sanitária, como manusear alimentos, as licenças necessárias. Aí deu certo.”

No início de 2017, o casal alugou um pequeno ponto, em Sumaré (SP), cidade próxima a Campinas, onde Aline nasceu. Ali nasceu o Ponto do Açaí, com uma caixa de açaí e freezer, mesas e cadeiras, tudo emprestado. “No começo, só tinha dinheiro para alugar o ponto e colocar meia dúzia de produtos. Eu abri na cara e na coragem, sabe? Tinha criança, então não podia gastar na empresa tudo o que tínhamos.”

Delivery de açaí

Como o espaço do ponto era pequeno, não havia como montar um self-service como o dos concorrentes. Então Aline teve a ideia de deixar os clientes escolherem o que queriam enquanto ela montava o pote de açaí com seus acompanhamentos.

“Eu fui experimentando as melhores marcas e perguntando o que as pessoas achavam. Assim fomos melhorando”, lembra a empreendedora. “Tinha gente que dizia ‘ah, o seu é bom, mas o do fulano é melhor’. Aos poucos, fomos caminhando.”

Nesse bate-papo, ela descobriu uma nova habilidade. “Eu adoro trabalhar com o público, atender mesa, conversar… Ao contrário do meu marido, que prefere o delivery. Cada um tem um dom, né?”, diz.

No começo, Aline conta que foi difícil fazer as vendas decolarem. “Ninguém conhecia a gente, não vendia nada. Era difícil as pessoas pararem para experimentar. Os clientes não estavam vindo na nossa porta, então meu marido teve a ideia de nós irmos até eles.”

De início, Aline ficou receosa, achando que o açaí ia derreter (um mito, como explicamos aqui). Mas o casal resolveu fazer testes de entrega rápida em um copo especial. “Deixamos fora da geladeira, vimos quanto tempo o açaí resistia com uma boa consistência e vimos que dava tempo de entregar”, recorda.

E foi assim que eles começaram a fazer entrega própria, já em 2017, com pedidos que chegavam pelo WhatsApp —eram duas, três entregas por dia. E foi nessa época que eles entraram na plataforma do iFood. “Não tinha muita gente fazendo delivery. De repente começaram a entrar mais de 50 pedidos por dia. Na época a gente ralou para entregar, mas hoje acho tranquilo.”

A segunda unidade

O Ponto do Açaí foi crescendo e variando o cardápio para vender lanches e salgadinhos também, tanto para atender aos clientes que chegavam com aquela fome como para driblar a sazonalidade nos meses mais frios. “Hoje, o que mais sai é o açaí e o cachorro-quente.”

Embalados pelas boas vendas, Aline e Cristian alugaram o terreno inteiro do primeiro ponto. E resolveram abrir uma nova unidade, o Smash Dog, na vizinha Hortolândia (SP). Aline conta que o trabalho é puxado, mas que tomou gosto por essa vida. 

“Eu amo ser empreendedora porque eu tenho a minha liberdade. Não trocaria pela vida antiga, não”, diz. “Acho muito satisfatório ter a minha renda, ter o meu tempo para trabalhar. E não enjoei do açaí.” 

Agora, seu sonho é comprar sua casa e ter mais lojas. “Queria que elas fossem autogerenciáveis, como uma franquia. Quero ter mais pontos pequenos e enxutos”, revela. 

Às outras mulheres que querem ser empreendedoras, ela aconselha bastante fibra e conhecimentos pelo menos básicos de como administrar o negócio. “Eu amo empreender. Mas tem que ter bastante garra, coragem, e não desistir no primeiro obstáculo, porque pedra no caminho sempre vai ter. Pula ela e bola pra frente!”

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