Acompanhando o que está sendo discutido sobre a crise do clima, muitas vezes nos deparamos com notícias sobre aquecimento global que têm um tom catastrófico —e de vez em quando até bate um medo do futuro quando vemos estimativas pessimistas para os próximos anos.
Apesar de essas narrativas terem como objetivo alertar as pessoas para que levem uma vida mais sustentável, esse alarmismo pode causar um sentimento de derrotismo e impotência. E isso leva muita gente a pensar: afinal, se tudo está perdido, o que nos resta fazer?
É possível pensar de outra maneira, aponta o climatologista norte-americano Michael E. Mann. Ele explica que o aquecimento global é reversível, e em menos tempo do que parece, informa a BBC News Brasil.
Diversos estudos comprovam que dá para virar o jogo da crise climática, revertendo os danos já causados. A questão é que, muitas vezes, esse material não ganha tanta notoriedade entre o público, explica o cientista, que é autor do livro The New Climate War: The Fight to Take Back Our Planet (em tradução livre: A Nova Guerra do Clima: A luta para Ter de Volta o Nosso Planeta; sem edição em português).
Não precisa ser otimista para perceber a positividade desses dados: um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, publicado em 2021, revela que a interrupção imediata do acúmulo de carbono na atmosfera teria resultados positivos para a redução das temperaturas em um futuro próximo, entre três e cinco anos.
Esse estudo desbanca a antiga ideia de que, mesmo cessando a emissão de gases poluentes agora, a temperatura global continuaria subindo de qualquer forma por mais 30 ou 40 anos.
Como reverter a questão climática?
Em relação ao sentimento de impotência, que reflete no desânimo em agir pela mudança, Mercedes Bustamante, professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), complementa a teoria de Mann. “A perspectiva fatalista, ou seja, de que não há mais espaço para soluções, contribui somente para tornar a marcha mais lenta na resolução da crise global.”
Nesse sentido, Mann afirma que evitar cada 0,1 ºC de elevação na temperatura global já conta muito. Para chegar lá, o cientista recomenda adotar hábitos sustentáveis e um posicionamento político engajado, com voto e pressão popular para que a mudança aconteça.
Apesar do longo caminho a percorrer, o cientista norte-americano propõe uma perspectiva animadora. “Nós precisamos falar tanto sobre o desafio como sobre a oportunidade. Sim, nós já estamos vendo impactos da mudança climática, e ainda permanece o desafio de reverter o perigoso aquecimento planetário adicional. Mas nós temos a oportunidade de criar um mundo melhor para nós mesmos, nossos filhos e netos. É essa a nossa luta.”