Desde setembro de 2021, o fluminense Ramon Brito, de 26 anos, trabalha como analista de dados no iFood. E acha que, se pudesse voltar no tempo e contar isso para o Ramon de 14 anos, ele jamais acreditaria. “Cheguei aqui com muitos percalços, com muita luta”, diz. “Ele nunca iria acreditar que hoje eu trabalho em uma empresa top de tecnologia.”
Aos 14 anos, Ramon sonhava em trabalhar com robótica, mas ainda não tinha muita ideia de como chegar lá. “Eu vi um comercial do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) na TV e queria trabalhar com robôs e tecnologia, mas não tinha muita orientação. Minha mãe é dona de casa e meu pai era guarda municipal”, conta.
Dois anos depois, apareceu a oportunidade de fazer o exame de admissão no Cefet-RJ (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca). Ramon fez a prova, mas não passou. “Das 60 questões, acertei só 6”. No mesmo ano, seu pai faleceu. “Foi um período muito difícil para mim”, lembra.
Os ventos contrários não desanimaram Ramon. Obstinado em entrar na faculdade e aprender sobre tecnologia, ele começou a se preparar estudando por conta própria, emprestando livros da biblioteca da escola e tirando dúvidas com colegas e professores. “No final do ano, a escola fazia uma festa para os maiores leitores, dava presente, era super legal. No meio da turma, eu era o único que gostava de exatas, todo mundo lia literatura”, diverte-se.
O esforço compensou: Ramon foi aprovado no curso de Matemática da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e se tornou a primeira pessoa de sua família a entrar em uma universidade pública. “Foi uma alegria absurda, mas ainda não era o que eu queria, que era programar, montar robô, desenvolver soluções. Só que com a minha nota eu não consegui passar em Engenharia.”
Ele continuou perseguindo o objetivo de fazer Engenharia, até que conseguiu uma bolsa para o curso de Engenharia Mecânica da Universidade Católica de Petrópolis, região serrana do Rio. Em pouco tempo, porém, desistiu da faculdade porque as passagens para ir de Duque de Caxias (RJ), onde ele mora com a mãe, até a Universidade eram muito caras.
A descoberta da ciência de dados
Determinado a continuar seu trajeto na área de tecnologia, Ramon prestou vestibular na UERJ novamente —e dessa vez passou no curso de Engenharia Elétrica. “Foi muito bom, porque era o que eu queria, e a UERJ já tinha me acolhido, por ser uma universidade pioneira em cotas”, afirma. “Lá, encontrei muitas pessoas que eram minoria, que falam a minha língua e sofrem as mesmas coisas.”
Mesmo gostando da faculdade, ele ainda se questionava sobre se estava fazendo a coisa certa. “Eu ficava pensando se aquilo era para mim, se eu estava fazendo certo. Saía de casa todo dia às quatro e meia da manhã, pegava três trens para ir e três para voltar. Só dentro da condução eram cinco horas. Ficava pensando se valia a pena”, relembra Ramon. “Nessa idade, a maioria das pessoas que eu conheço já vai logo trabalhar. Mas tive muito suporte da minha mãe, que sempre me incentivou a continuar, dizendo que com estudo eu iria conseguir as coisas que eu queria.”
Ainda na faculdade, Ramon começou a fazer um estágio no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e conheceu a área de ciência de dados. “Eu trabalhava no credenciamento de máquinas e equipamentos, mas tinha uma galera na baia do lado que era de dados. Eles falavam de projetos, e eu comecei a abrir minha mente e a ter um olhar de soluções para um negócio.”
Curioso, Ramon passou a pesquisar a área de ciência de dados e a buscar vagas de estágio. Quando uma professora postou sobre o Vamo AI, capacitação em tecnologia oferecida pelo iFood em parceria com a Resilia, ele decidiu embarcar na ideia de se preparar para entrar nesse mercado. “Pensei que não ia passar, eram 4.700 pessoas concorrendo. Mas vi que a prioridade era para negros, mulheres e quem vem da escola pública e pensei: ‘pô, isso é pra mim!’.”
O crachá do iFood é só o começo
Aprovado no processo seletivo, ele agarrou a oportunidade. “O curso foi fundamental, me deu a base para me inserir nesse mercado de trabalho e abriu a minha visão para uma realidade diferente”, conta Ramon, que ainda teve de fazer uma escolha difícil quando estava no meio do curso.
“Passei no estágio em um grande banco, com possibilidade de fazer carreira, era perto de casa. Não fui, porque estava gostando do que estava aprendendo e desenvolvendo”, diz. “A gente desenvolveu vários projetos, desde um jogo bem simples, de escolher ‘sim’ ou ‘não’ até analisar os dados do League of Legends.”
No final do curso, ele recebeu uma proposta para se juntar ao time do iFood —e outra para trabalhar em uma grande emissora de TV com programação em nuvem e machine learning. Deu iFood. “Escolhi o iFood por causa da cultura. A forma de valorizar as pessoas, a transparência, o crescimento, a rapidez com que tudo acontece, isso me impressiona. A empresa realmente inclui as pessoas e valoriza os colaboradores. Isso, para mim, é fundamental.”
Com crachá do iFood e casamento planejado, esse poderia ser o final da história de Ramon. Mas ele avisa que é só o começo. “Ainda não cheguei onde quero chegar. Quero me desenvolver cada vez mais e ir mais longe. São os desafios que fazem as pessoas evoluírem. Às vezes a gente não acerta de primeira, talvez não na segunda vez. Mas vale muito a pena estudar, estar aberto para aprender, porque uma hora as coisas acontecem.”