Preparação para o mercado de trabalho, formação de senso crítico, melhores condições de vida: o que os jovens brasileiros esperam da educação para ter um futuro melhor? Algumas respostas a essas questões foram reveladas por uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2022.
Em julho, o instituto de pesquisa fez mil entrevistas com jovens de idades entre 15 e 29 anos, nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém. Um em cada três entrevistados (32%) disse que trabalha e estuda; 47% dos respondentes só trabalham, 17% só estudam e 4% não trabalham nem estudam.
A maioria (66%) dos jovens entrevistados acredita que a escola ensina a formar as próprias ideias e opiniões sobre a realidade brasileira. Para Alexandre Schneider, ex-secretário de municipal de educação de São Paulo, esse dado revela que a capacidade crítica dos estudantes não deve ser subestimada. “Eles têm ideias próprias, e a pesquisa indica que qualquer tipo de tentativa de conduzir a forma de pensar desse aluno vai dar errado”, afirmou ele à Folha de S.Paulo.
Outra pesquisa, realizada pelo Datafolha para o Todos pela Educação em 2022, mostra que 98% dos estudantes que estão no Ensino Médio na rede pública quer que a escola os prepare para o mercado de trabalho. Mas, no levantamento mais recente (no qual a faixa etária era maior), só 52% dos jovens concordaram que a escola tem um papel importante para formar um bom profissional.
Segundo Alexandre, essa opinião pode estar baseada na percepção de que o modelo de ensino fica no Enem e nos vestibulares, e por isso “não está alinhado ao mundo real nem dá ferramentas para os jovens percorrem o caminho no mercado de trabalho”.
E o que esperam do futuro?
A pesquisa também revela que 67% dos jovens esperam que a situação pessoal esteja muito melhor daqui a dez anos e 65% acreditam o mesmo a respeito da situação financeira. Respondendo de forma espontânea, 20% disseram que o que mais desejam é ter estabilidade financeira, vida confortável e ficar ricos; 16% querem ter a casa própria ou para a família, 15% sonham com sucesso, bom emprego e remuneração e 8% almejam terminar os estudos.
“O desejo de estabilidade financeira e moradia própria aparece como uma preocupação maior do que a de prosseguir com os estudos, decisão, esta última, fundamental para se poder ter condições de alcançar as duas primeiras”, comenta Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas em artigo para a Folha de S.Paulo. “Sabe-se que cada ano adicional de estudo, de acordo com o Banco Mundial, aumenta em até 15% a renda futura do trabalho.”
Para 50% dos entrevistados, trabalhar é a única forma de conquistar o que desejam —e 40% concordam que essa é a melhor maneira, mas também pensam que existem outras. Apenas 19% dos jovens acreditam que estudar é a única forma de ter mais renda no futuro, e 67% avaliam que estudar é a melhor forma, mas não a única para obter maior renda.
Pessimismo com o Brasil
A pesquisa revela também um pessimismo com o futuro. Apenas 25% dos entrevistados pensam que o Brasil será um país melhor daqui a dez anos. E 76% disseram ter muita ou alguma vontade de mudar para outro país.
“O que me chamou mais atenção nesta pesquisa mais recente foi certa desesperança dos jovens quanto ao futuro. Há uma percepção correta de que algo não caminha bem por aqui e uma visão talvez ingênua de que em outros países teriam uma vida bem melhor, mesmo sem se dispor das qualificações necessárias para navegar no que se convencionou chamar de ‘o futuro do trabalho’”, escreve Claudia.
A solução? “É urgente se construírem boas políticas públicas voltadas aos jovens, incentivando-os a se manter estudando e criando oportunidades para que possam realizar seus sonhos de futuro”, completa.