Projeto replanta mangue na Amazônia para capturar carbono

Em meio à floresta tropical, vegetação de mangue cresce mais e pode ser uma aliada no combate ao aquecimento global

A biodiversidade da Amazônia é tamanha que muitas pessoas não fazem ideia de que, para além da floresta tropical, existem ecossistemas completamente diferentes nesse bioma. Você sabia, por exemplo, que lá existem ricos manguezais?

Característico por estar na transição entre o bioma terrestre e o marinho, o mangue geralmente precisa se adaptar para sobreviver em áreas sob influência da água salgada do mar —que, muitas vezes, acaba limitando o crescimento da vegetação. 

Já na floresta amazônica, sem essa limitação da água salgada, as árvores do mangue podem atingir 40 metros de altura, explica Marcus Fernandes, coordenador do programa Promangue, do projeto Mangues da Amazônia, e responsável pelo Lama (Laboratório de Ecologia de Manguezal), na UFPA (Universidade Federal do Pará) em uma reportagem da Folha de S.Paulo.

“Isso é uma característica de florestas de terra firme”, explica Marcus, que também cita árvores de mangue no Equador que chegam a até 60 metros de altura. O motivo disso é que há uma enorme bacia de água doce banhando a região, além dos elevados índices de chuva que ajudam a controlar o sal no ambiente. 

Ou seja: enquanto, em outras regiões de mangue, a vegetação precisa gastar grande parte da energia para sobreviver, na Amazônia é possível investir esses recursos no crescimento, explica Marcus.

Projeto de replantio e preservação do mangue

Para preservar o mangue amazônico, Marcus trabalha, dentro do projeto Mangues da Amazônia, do Instituto Peabiru, com a recuperação de áreas degradadas de manguezal. A iniciativa tem dois anos de existência, é patrocinada pela Petrobras e já recebeu verbas do Fundo Amazônia.

A atuação do projeto permeia três reservas extrativistas marinhas no Pará, em que pode haver algum tipo de exploração: a de Caeté-Taperaçu, a de Tracuateua e a de Araí-Peroba.

Até agora, o projeto já plantou cerca de 7 hectares e pretende chegar a 12 até o fim do ano. Pode parecer pouco, se comparado ao tamanho da Amazônia e ao tamanho do mangue da região —que, segundo Marcus, chega a cerca de 8.000 km².

No entanto, o pesquisador explica que, atualmente, há pouca ameaça aos mangues amazônicos. Por isso, a ação do projeto é preventiva, baseada na educação das populações que já fazem uso tradicional do mangue.

“Todo mundo, do menino de três anos até o adulto, vai plantar com a gente. Brincamos de plantar manguezal, o que cria responsabilidade com o sistema. Entender que não tem que cortar, mas se precisar, ele sabe como fazer o replantio. É preventivo, é a educação ambiental. O replantio é um método de ensinar a proteger”, explica Marcus.

Com cerca de 6 mil pessoas atingidas direta ou indiretamente, o projeto é importante por diversas razões, entre elas o potencial de retenção de carbono das árvores dos mangues. “Quanto maior esse manguezal, maior é o seu estoque de carbono”, afirma Marcus.
Por isso, ele espera que, com mais investimentos no mercado de carbono, os manguezais preservados da Amazônia recebam mais dinheiro, facilitando a existência de projetos de preservação.

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