O que é preciso fazer para que as doações façam cada vez mais parte do nosso cotidiano
Em 2021, as doações estiveram no centro de muitas conversas, seja para colaborar com o combate à fome, com o enfrentamento dos efeitos da Covid-19 ou com as vítimas das chuvas torrenciais no sul da Bahia. Só os usuários do iFood doaram R$ 7 milhões por meio do aplicativo em 2020 e 2021.
“Com a pandemia, as pessoas começaram a falar mais em doações, não só quem atua no terceiro setor. E a percepção vem mudando: mais gente reconhece que doar é algo positivo, que devemos divulgar, não esconder”, afirma Joana Mortari, diretora da Associação Acorde e articuladora do Movimento por uma Cultura de Doação.
Mas será que a mobilização em prol da doação vai se sustentar nos próximos anos? Já em 2021, o investimento social privado em projetos de impacto público (como em educação ou no combate à fome) deve ser menor do que em 2020, aponta o mais recente Censo do Gife.
Para que esse movimento positivo não arrefeça, é preciso fortalecer a cultura da doação, aponta Joana. “A cultura de doação traz a consciência de que fazemos parte de um processo de construção do país. As pessoas doam porque se entendem como parte importante desse desenvolvimento. Para o Brasil ser o que tem potencial para ser, precisamos de uma sociedade que não só seja solidária, mas também doadora.”
O Movimento por Uma Cultura de Doação traz cinco diretrizes para chegar lá:
1 – Educar para a generosidade
Você sabia que metade dos brasileiros costuma fazer doações para organizações ou projetos socioambientais ao menos uma vez por ano? Talvez não, porque pouca gente gosta de falar sobre doar.
Quanto mais pessoas falarem abertamente sobre suas doações, mais será possível sensibilizar mais gente para entender que doar pode ser parte do cotidiano de todo mundo. É preciso criar ambientes propícios à educação para uma doação mais consciente e recorrente.
2 – Promover narrativas engajadoras
Ao falar da cultura de doação, devemos criar narrativas mais engajadoras, positivas, qualificadas e inclusivas, para chegar a uma diversidade maior de públicos. Ao contar uma história, ela deve se conectar com a realidade das pessoas. Dessa forma se cria empatia com as causas e se promove a confiança no poder transformador da doação.
Como sublinhou a Joana, é preciso mudar a narrativa para que as pessoas compreendam que doar é um ato de cidadania e contribui para o desenvolvimento do país e o fortalecimento da democracia.
3 – Facilitar a doação
Doar precisa ser fácil. Para isso, é preciso investir em tecnologias que simplifiquem a doação e que façam a ponte entre quem quer doar e quem precisa receber. No app do iFood, por exemplo, você pode fazer doações a qualquer momento.
Também é importante facilitar o acesso a informações sobre o impacto social desse gesto —um quarto dos brasileiros acha que o desconhecimento sobre o uso do dinheiro pelas organizações é uma barreira para a doação, segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020.
4 – Fortalecer as organizações
Para que o terceiro setor se desenvolva, é preciso estimular jovens e profissionais a se qualificar (já na faculdade) e a trabalhar nessas organizações —que por sua vez devem comunicar suas causas e seus resultados de maneira engajadora e clara.
Quando as organizações da sociedade civil estiverem fortalecidas em sua gestão, governança e transparência e forem respeitadas pelos doadores, teremos um ciclo virtuoso: uma população com mais confiança doa mais recursos para as organizações, que aumentam sua capacidade de transformação social.
5 – Fortalecer o ecossistema
É a integração entre quem promove a cultura de doação e a filantropia no Brasil, para que todos atuem de maneira estratégica e com uma visão sistêmica, com diretrizes alinhadas para se potencializarem.
Para isso, é preciso também aumentar a diversidade de atores para representar a pluralidade nacional e fomentar novos espaços de promoção da cultura de doar para além do terceiro setor.