Trabalhar e viajar pelo mundo são objetivos que parecem inconciliáveis à primeira vista. Mas já tem gente provando que é possível fazer as duas ao mesmo tempo: ganhar dinheiro morando no país que a gente sonha conhecer. Essa é premissa do nomadismo digital, um estilo de vida que permite conhecer cidades e países diferentes sem abrir mão do trabalho e da renda.
Essa ideia tem inspirado profissionais de diversas áreas e pode crescer em um momento em que estamos revendo nossa maneira de trabalhar por causa da pandemia de Covid-19, que acelerou o trabalho a distância, por exemplo. Só no Brasil, 7,9 milhões de pessoas trabalham remotamente, segundo a Pnad Covid, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2020.
Entre as profissões que permitem o nomadismo digital estão, por exemplo, as de desenvolvedores, produtores de conteúdo, administradores, fotógrafos, videomakers, designers e diferentes funções na área de e-commerce. E também a de escritores, como Matheus Souza, autor do livro “Nômade Digital” (finalista do Prêmio Jabuti na categoria Economia Criativa) e LinkedIn Top Voice, em 2016.
Ele adotou o nomadismo digital em 2017 e conta, nesta entrevista para o iFood News, como se planejou para levar a vida trabalhando enquanto viajava por 20 países.
IFN: Quando você descobriu o nomadismo digital?
MS: A primeira vez em que ouvi falar sobre o tema foi em 2015. Na época achei meio utópico, mas com o tempo fui percebendo que o trabalho que eu fazia, de assistente de marketing em uma faculdade em Santa Catarina, poderia ser feito de forma remota. Então, por que não executar minhas tarefas literalmente de qualquer lugar? Esse foi o estalo.
IFN: Como foi sua primeira experiência?
MS: Naquela época, tentei negociar o home office com meus gestores, mas não rolou. Comecei então a produzir conteúdo no LinkedIn com a ideia de “ser visto” e conseguir uns freelas. Deu certo, e em pouco tempo estava ganhando mais como freelancer do que como CLT.
Daí em diante foi planejamento. Guardei seis meses do meu salário, me demiti na virada de 2016 para 2017 e fiz as primeiras viagens como nômade digital para países com o custo de vida baixo, como México e Tailândia. Estou na estrada desde então e já passei por mais de 20 países.
IFN: Quando você sentiu que poderia ser um porta-voz deste assunto para diferentes pessoas e ajudá-las em suas profissões?
MS: Foi algo natural. Quando me tornei um nômade digital, lá em 2017, comecei a documentar no meu blog e nas minhas redes sociais toda essa transição. Desde o início, percebi que as pessoas tinham interesse sobre o tema, mas poucas eram as fontes em português.
Em 2018 veio o convite da editora Autêntica Business para escrever o livro e hoje tenho milhares de pessoas me acompanhando nas redes sociais. O interesse pelo tema com certeza aumentou ainda mais durante a pandemia.
IFN: Qual é o perfil de quem busca orientação sobre esse assunto? Existe algum padrão?
MS: Em tese, quem atue em qualquer trabalho que possa ser feito de forma remota –a pandemia tem mostrado que muitas profissões permitem isso. A maioria dos nômades que conheço, no entanto, trabalham com marketing, design ou TI. Mas isso não é regra, pois também conheci nômades com profissões mais tradicionais, como advogados ou psicólogos. Sobre a idade, meu público tem entre 25 e 34 anos.
IFN: Que destinos são mais propícios para o nomadismo digital?
MS: Para quem ganha em real, a dica é ir para países com o custo de vida baixo. Eu indicaria destinos do Sudeste Asiático, como Tailândia, Indonésia e Vietnã; Leste Europeu, como Sérvia, Croácia e Montenegro; ou América Latina, como o México, onde comecei minha jornada nômade em 2017, e estou no momento.
IFN: Quais dicas você daria para quem deseja aderir a esse estilo de vida?
MS: O principal conselho que eu daria é tomar cuidado com o discurso de “largar tudo”. Não existe “largar tudo para viajar o mundo” como muitas matérias mostram por aí. Eu não larguei nada – eu me planejei, trabalhei e sigo trabalhando bastante.
Tendo isso em mente, esse planejamento começa com a pergunta: seu trabalho atual pode ser feito de forma remota? Em caso positivo, minha sugestão é fazer uma reserva financeira de, no mínimo, 6 meses do seu último salário e escolher um país com custo de vida baixo e moeda desvalorizada – México ou Tailândia, por exemplo – e se jogar.
Caso seu trabalho atual não possa ser feito de forma remota, seu planejamento deverá incluir uma transição de carreira – você pode oferecer serviços e produtos online ou fazer freelas de forma remota. Em qualquer um dos cenários, não largue tudo; isso irá gerar apenas frustração. Planeje-se.
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