Fusões e aquisições de empresas: entenda como funcionam e exemplos

Imagine duas empresas que, até ontem, competiam entre si e, de repente, passam a caminhar juntas. Ou então uma companhia sólida que, ao perceber uma oportunidade, decide incorporar outra para crescer ainda mais. 

Essas situações não são exceção — fazem parte de uma estratégia conhecida como M&A (Mergers and Acquisitions), ou, em bom português, fusões e aquisições.

A cada ano, esse movimento transforma o mercado. Do setor bancário ao alimentício, passando por tecnologia e varejo, empresas se unem, somam forças ou absorvem concorrentes com objetivos variados: aumentar escala, conquistar novos mercados, obter tecnologias ou mesmo eliminar ameaças.

Mas o que está por trás dessas decisões? E quais os riscos que acompanham os benefícios? A seguir, vamos mergulhar nesse universo com clareza, exemplos e uma análise do cenário brasileiro.

O que são fusões e aquisições de empresas (M&A)?

Apesar de muitas vezes tratadas como sinônimos, esses são movimentos distintos que envolvem mudanças estruturais profundas nas organizações envolvidas. Vamos entender a seguir como funcionam as fusões e aquisições de empresas.

Fusão ocorre quando duas ou mais empresas se unem para formar uma nova entidade. A identidade anterior desaparece, dando lugar a uma nova marca, com nova estrutura jurídica e organizacional. 

É um processo simbiótico. Imagine duas empresas de transporte urbano que se fundem para formar uma nova operadora, mais robusta e com maior alcance regional, por exemplo.

Aquisição, por outro lado, é quando uma empresa compra outra. A adquirida pode continuar operando sob sua própria marca ou ser completamente incorporada à identidade da compradora. 

O controle passa, de forma direta ou indireta, para quem detém o capital majoritário. Um bom exemplo é quando uma rede varejista compra uma startup de tecnologia para incorporar soluções digitais ao seu ecossistema.

Segundo a KPMG, o Brasil registrou 1582 fusões e aquisições no ano de 2024. Em relação a 2023, houve um crescimento de 5%. Já no primeiro semestre deste ano, segundo a Aon, o Brasil foi o líder em movimentações de M&A na América Latina, com 827 transações.  

Qual é a diferença entre fusão e aquisição?

Na prática, a principal diferença está no equilíbrio da operação.

A fusão tende a ser mais equitativa. Em teoria, ambas as partes concordam com os termos, compartilham riscos e benefícios e tomam decisões de maneira conjunta. 

Um exemplo clássico é a criação da Ambev, resultado da fusão entre Brahma e Antarctica. Nenhuma das duas “engoliu” a outra. Elas criaram algo novo.

Já a aquisição carrega uma dinâmica de poder mais evidente. Uma empresa, com mais capital ou força estratégica, adquire outra. 

Foi o que aconteceu com a compra da Lojas Americanas pela B2W, ou com a aquisição da Netshoes pela Magazine Luiza. A compradora dita o ritmo, redefine processos e, muitas vezes, remodela a cultura da adquirida.

Quais são os tipos mais comuns de fusões e aquisições?

O formato do M&A muda conforme o objetivo estratégico por trás da operação. Entre os modelos mais usuais, destacam-se:

  • Fusão horizontal: união entre empresas do mesmo setor e estágio da cadeia. Por exemplo, duas operadoras de telecomunicações que atuam em regiões diferentes. O foco geralmente é ampliar o market share e reduzir concorrência;
  • Fusão vertical: integrações entre empresas de estágios distintos da mesma cadeia produtiva. Um frigorífico adquirindo um fornecedor de ração é um caso típico. Garante mais controle sobre insumos e custos;
  • Conglomerado: envolve empresas de setores completamente diferentes. Costuma ser usado como forma de diversificação. Um grupo financeiro comprando uma empresa de educação é um exemplo;
  • Joint venture: trata-se de uma parceria com tempo e escopo definidos. Duas empresas criam uma terceira, compartilhando riscos e lucros. A joint venture entre a Boeing e a Embraer (que acabou não sendo concluída) é um exemplo emblemático.

Cada tipo serve a um objetivo específico, e entender essa lógica ajuda a perceber como as empresas moldam sua atuação no mercado.

Por que as empresas optam por fusões ou aquisições?

por que as empresas optam por fusões ou aquisições

As razões variam, mas o ponto de partida costuma ser estratégico. Nenhuma empresa passa por um M&A apenas por impulso. Há sempre um plano por trás — e, geralmente, ele envolve pelo menos um destes fatores:

  • Escala: ao unir forças, as empresas ganham musculatura. Isso se traduz em mais poder de barganha, melhores condições com fornecedores e uma base de clientes mais ampla;
  • Sinergias operacionais: fusões e aquisições permitem cortar sobreposições. Departamentos duplicados são eliminados, sistemas são integrados e os custos, reduzidos;
  • Acesso a novos mercados: entrar em uma nova região pode ser mais rápido por meio da compra de um player local do que com expansão orgânica;
  • Aquisição de tecnologia ou talentos: grandes empresas muitas vezes compram startups não apenas pelos produtos, mas pelas mentes por trás deles;
  • Redução de concorrência: absorver um rival direto elimina um competidor e fortalece a presença no mercado.

Quais são os riscos de M&A?

Os processos de fusões e aquisições são complexos. Logo, os riscos caminham ao lado dos benefícios. Aqui vão alguns:

  • Choque cultural: integrar duas culturas organizacionais diferentes pode ser um desafio brutal. Processos, estilos de liderança, valores — tudo precisa ser alinhado;
  • Valuation equivocado: pagar mais do que o valor real da empresa adquirida pode transformar uma oportunidade em prejuízo;
  • Perda de identidade: em alguns casos, a empresa adquirida perde sua essência, o que pode afastar clientes fiéis ou até causar a saída de talentos-chave;
  • Problemas com a integração de sistemas e processos: a falta de compatibilidade entre plataformas e metodologias pode gerar gargalos operacionais por meses.

Quais são as etapas de um processo de fusão ou aquisição?

Um M&A bem estruturado não acontece da noite para o dia. O processo exige tempo e cautela. 

Primeiro, vem o planejamento estratégico, que é a definição clara dos objetivos e critérios para buscar potenciais alvos de aquisição ou fusão. 

Depois, vem a identificação de oportunidades, a análise de mercado para mapear empresas compatíveis com a estratégia definida.

Em seguida, há a etapa de valuation e due diligence. Trata-se de uma avaliação financeira, jurídica e contábil da empresa-alvo. Aqui, os riscos são mapeados e as sinergias identificadas.

Depois, temos a negociação e assinatura do contrato, uma etapa que define preço, prazos, responsabilidades e cláusulas de proteção para ambas as partes.

Então, há a aprovação regulatória. Nessa etapa, o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) precisa avaliar se a operação fere a concorrência.

Por fim, temos a integração, a etapa mais delicada. Unir culturas, processos, equipes e sistemas exige um plano detalhado e comunicação clara.

Quais desafios regulatórios e legais envolvem M&A no Brasil?

No Brasil, fusões e aquisições estão submetidas a um conjunto complexo de normas legais. O ponto central é garantir que a operação não comprometa a concorrência nem prejudique o consumidor.

Alguns marcos legais são indispensáveis:

  • Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76) – define procedimentos para reestruturações societárias, proteção aos acionistas minoritários e regras de governança;
  • Código Civil (Lei 10.406/2002) – aplica-se principalmente às sociedades limitadas e regula aspectos contratuais;
  • Lei de Defesa da Concorrência (Lei 12.529/2011) – base da atuação do CADE. Toda operação com potencial impacto competitivo deve ser submetida à sua análise.

Além disso, aspectos trabalhistas, tributários e ambientais também devem ser avaliados, principalmente em setores regulados. Um erro nessa fase pode inviabilizar toda a operação ou gerar passivos bilionários.

Exemplos recentes de fusões e aquisições no Brasil

O cenário brasileiro tem sido palco de movimentações relevantes nos últimos anos. Um dos destaques é o setor de delivery e foodtechs, puxado pelo iFood.

Em 2018, o iFood anunciou a aquisição da PedidosJá Brasil, fortalecendo sua presença em regiões onde ainda enfrentava concorrência acirrada. Em 2022, a empresa adquiriu a Anota AI, uma startup de atendimento automatizado. 

Já em abril de 2025, o iFood anunciou a aquisição das startups OPDV, Saipos e 3S Checkout, o que reforça nossa estratégia de se tornar uma plataforma “all-in-one” para restaurantes. 

O movimento visa integrar soluções de gestão, ponto de venda e automação de atendimento em um único ecossistema, a fim de atender desde pequenos negócios até grandes redes. 

Com isso, o iFood amplia seu controle sobre a jornada operacional dos parceiros e oferece sistemas mais eficientes, consolidados e personalizados, ao mesmo tempo em que mantém as marcas adquiridas com operação independente.

Recentemente, a empresa também investiu na divisão do software de alimentação da Videosoft, empresa focada em totens de autoatendimento. O objetivo é atender também a salões que buscam otimizar a experiência de seus clientes. 

Essas aquisições refletem o apetite da empresa por controle tecnológico e expansão regional. Assim, o iFood tem investido em operações que agregam inteligência e escalabilidade à sua estrutura.

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