Conheça a pesquisadora do clima que levou o World Food Prize

Premiação reconhece o trabalho de Cynthia Rosenzweig para entender e minimizar o impacto das mudanças climáticas na agricultura

A pesquisadora do clima da Nasa, Cynthia Rosenzweig, passou as últimas quatro décadas desvendando como prever os impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos. Em maio de 2022, veio o reconhecimento: a norte-americana foi premiada com o World Food Prize por ter desenvolvido modelagens inovadoras sobre esse impacto —e que já foram utilizadas por milhares de tomadores de decisão de mais de 90 países.

A Fundação World Food Prize tem como missão reconhecer as inovações que aumentem a disponibilidade de alimentos para as pessoas de forma sustentável e com qualidade. A contribuição de Cynthia para esse objetivo foi liderar o desenvolvimento do Agricultural Model Intercomparison and Improvement Project (AgMIP), uma rede global com mais de 1.000 pesquisadores líderes em modelagem de sistemas climáticos e alimentares.

Esses modelos são ferramentas computacionais poderosas usadas em pesquisas climáticas, agrícolas e econômicas para conceituar interações atuais e projetar tendências futuras. Para o World Food Prize, os estudos liderados por Cynthia moldaram o debate global sobre a relação entre as mudanças climáticas e a agricultura. 

“Ela influenciou nossa compreensão da estreita relação entre sistemas alimentares e mudanças climáticas – ou seja, flutuações severas no clima ameaçam nossa capacidade de alimentar e nutrir a humanidade, enquanto estratégias eficazes de mitigação e adaptação reduzem as mudanças climáticas e aumentam a produção sustentável de alimentos”, diz o texto do prêmio.

No anúncio da premiação, que vai acontecer em outubro de 2022, nos Estados Unidos, Cynthia disse que espera que esse reconhecimento ao seu trabalho chame a atenção para a necessidade de melhorar os sistemas alimentares e agrícolas para diminuir os efeitos das mudanças climáticas sobre as lavouras. 

Por que seu trabalho é importante hoje

A cientista explica que os gases de efeito estufa vêm de muitas partes da produção de alimentos, incluindo a liberação de dióxido de carbono no desmatamento de florestas para ampliar áreas agrícolas.

“Basicamente, não podemos resolver as mudanças climáticas, a menos que abordemos as questões das emissões de gases de efeito estufa do sistema alimentar. E não podemos fornecer segurança alimentar para todos, a menos que trabalhemos muito para desenvolver sistemas resilientes”, disse ela à agência Associated Press.

Sua pesquisa se torna ainda mais importante em um momento em que uma em cada três pessoas no mundo sofre com insegurança alimentar moderada ou severa, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Aumentar a resiliência climática dos sistemas alimentares, aliás, é uma das medidas que a entidade prevê para combater o problema.

“Estamos vendo campos de arroz se afogarem em inundações, culturas murcharem na seca, mariscos morrerem em oceanos mais ácidos e doenças de plantações se espalhar para novas regiões. Provavelmente não entenderíamos todos esses problemas tão bem quanto entendemos hoje sem o trabalho da Dra. Cynthia Rosenzweig”, disse ao jornal The Guardian José Fernandez, subsecretário de Estado para o crescimento econômico, energia e meio ambiente dos Estados Unidos.

A biografia da pesquisadora

Cynthia cresceu em Scarsdale, Nova York, uma área suburbana que, segundo ela, a levou a buscar a vida no campo e se mudar para a Toscana (Itália), com seu futuro marido. Ao voltar para os Estados Unidos, ela concentrou sua formação em Agronomia e trabalhou como estudante de pós-graduação no Goddard Institute for Space Studies no início dos anos 1980, quando os modelos climáticos começavam a mostrar os efeitos do dióxido de carbono no clima global. 

Seu trabalho levou às primeiras projeções da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos sobre o efeito das mudanças climáticas nas regiões agrícolas do país. Cynthia foi a primeira a chamar a atenção para as mudanças climáticas da Sociedade Americana de Agronomia e organizou as primeiras sessões sobre o assunto na década de 1980.

Ela completou as primeiras projeções de como as mudanças climáticas afetarão a produção de alimentos na América do Norte em 1985 e globalmente em 1994, e foi uma das primeiras cientistas a documentar que as mudanças climáticas já estavam afetando a produção e o cultivo de alimentos.

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