Em meio a tantas distrações, muita gente tem dificuldade em se concentrar no trabalho —especialmente quando ele é feito na frente de um computador. Para ajudar as pessoas a render o seu melhor, o norte-americano Cal Newport criou o conceito de deep work, que pode ser traduzido como “trabalho focado” em português.
Newport é escritor, professor de ciência de computação da Universidade de Georgetown (Estados Unidos) e autor do best-seller “Trabalho Focado: Como Ter Sucesso em um Mundo Distraído” (Alta Books). No livro, ele define deep work como as atividades profissionais realizadas em um estado de concentração livre de distrações que fazem com que o cérebro trabalhe todo seu potencial.
Segundo o autor, o esforço de não ceder à tentação da distração e de se concentrar ao máximo nas tarefas que demandam atenção cria novos valores e melhora as habilidades no ambiente corporativo. E diz que graças a esse método ele conseguiu escrever seu livro, produzir artigos científicos, realizar as tarefas domésticas e ainda dar aulas na universidade.
A ideia que ele defende é que trabalhar de maneira focada por um longo período (algo entre 1 e 4 horas) levaria a uma espécie de upgrade no nosso cérebro, abrindo caminho para a criatividade, o aprendizado de coisas novas e difíceis e para mais eficiência e rapidez nas atividades de trabalho.
Como ativar o modo deep work?
Definitivamente não é fácil, afinal estamos lutando contra a natureza humana de preferir o prazer e economizar energia, aponta o autor. Justamente por isso é preciso cultivar a disciplina.
Antes de falar de deep work, é preciso entender o seu oposto, o shallow work (ou trabalho superficial), que são as tarefas que não exigem foco. Elas são importantes, como participar de uma reunião ou responder aos e-mails; a questão é que não deveriam dominar todo o tempo disponível para o trabalho.
Então, para ativar o modo deep work é preciso se habituar a verbos como: equilibrar (o tempo), priorizar (entregas), planejar (a rotina), combinar (com a equipe) e zerar (as distrações).
A Asana, uma plataforma de gerenciamento de trabalho, listou algumas dicas para praticar o deep work:
Escolha a sua abordagem
Segundo Newport, existem quatro filosofias de trabalho profundo, e cada pessoa deve escolher a mais adequada:
Deep work rítmico: todo dia, no(s) mesmo(s) horário(s), bloqueie sua agenda para ter período(s) de concentração total e zero distrações.
Deep work “jornalista”: encaixe o trabalho focado, sempre que possível, na sua agenda, como no intervalo entre reuniões —abordagem mais indicada para os já “iniciados”.
Deep work monge: nessa abordagem, o trabalho superficial não tem vez. É preciso se isolar (como um monge) para se dedicar exclusivamente ao trabalho.
Deep work bimodal: em vez de zerar o trabalho superficial, concentre-o em um ou dois dias da semana e dedique os demais ao trabalho profundo.
Crie um ritual para educar o cérebro
Para praticar o deep work, crie rituais que avisem ao seu cérebro que é hora de focar 100% no trabalho. O ritual de deixar a mesa limpa, sem folhas ou outros objetos, já basta para ensinar ao cérebro que essa é a hora do foco. O ritual deve responder a quatro perguntas: onde vai ser feito o trabalho focado, por quanto tempo, quais as metas e como será possível se dedicar exclusivamente à tarefa sem interrupções.
Priorize o que é mais importante
Para organizar o trabalho, é imprescindível eleger as prioridades. Isso significa que uma tarefa vai ser considerada mais importante do que as outras, que por isso serão ignoradas enquanto durar a jornada de concentração total.
Minimize as distrações
Aqui está o grande vilão do deep work: as muitas distrações digitais e “reais” (em especial para quem continua trabalhando em casa). Desligar as notificações que pipocam no celular já é um bom primeiro passo. Mas, além disso, é preciso montar uma estratégia para que o padrão seja o trabalho profundo, e não a distração. Uma dica é ter seus momentos de pausa para responder mensagens e conferir as notícias do dia.
Descansar é preciso
Para ter foco, é preciso estar com sono e o descanso em dia. Se os músculos precisam de descanso, o mesmo vale para o cérebro. Newport diz que, em sua rotina, o fim do dia tem horário certo para acontecer: 17h30. Depois disso, nada mais de trabalho até o dia seguinte.
Ele sugere uma espécie de processo de desligamento em que você deve dar uma passada geral no dia e fazer um pequeno relatório daquilo que foi concluído e do que está pendente para que esses pensamentos não atrapalhem o dolce far niente do fim de semana ou o merecido descanso de todos os dias.