Os resultados mostraram que, na opinião dos funcionários, o ideal seria trabalhar cinco horas a menos por semana e se desligar um pouco dos outros
É comum ouvirmos que funcionários engajados e super colaborativos são os mais produtivos e felizes. Será? Com base nos dados de suas pesquisas de satisfação dos colaboradores, a Microsoft traz uma provocação: em vez de incentivar e medir o engajamento, que tal mensurar o quanto uma pessoa se sente energizada e empoderada para fazer um trabalho significativo?
Seu time de People Analytics (ou análise de dados sobre os colaboradores da empresa) costumava fazer uma pesquisa anual para acompanhar o engajamento dos funcionários. “Muitas vezes, apesar de as pontuações de engajamento indicarem que as coisas estavam indo bem, ficou claro que os funcionários estavam com dificuldades quando mergulhamos mais fundo nas respostas”, escrevem Dawn Klinghoffer e Elizabeth McCune, do time de People Analytics, em um artigo publicado na Harvard Business Review.
Isso levou os responsáveis pela pesquisa a mudar os parâmetros para entender quais pontos eram importantes para melhorar a experiência dos funcionários no trabalho. A Microsoft, então, passou a fazer uma pesquisa mais curta, a cada seis meses, e subiu a barra. Em vez de avaliar apenas o engajamento, passou a questionar a satisfação dos trabalhadores em outros cinco pontos: pagamento, benefícios, pessoas, orgulho e propósito, uma teoria adaptada pela Chief People Officer, Kathleen Hogan.
Os sistemas de escuta foram recalibrados para medir o progresso das pessoas em direção ao seu propósito e à capacidade de fazer um trabalho significativo. E essa passou a ser a aspiração central no desenvolvimento de pessoas.
Menos interação = mais felicidade?
No início de 2022, a Microsoft recebeu os primeiros resultados dessa nova pesquisa. A nota média de prosperidade ficou em 77 pontos, número considerado satisfatório pela companhia, mas não o ideal. A pontuação nos quesitos trabalho significativo (79) e capacitação (79) ficou acima dessa média, ao passo que o sentimento de energização (73) ficou abaixo.
Os dados também mostram que a prosperidade e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal podem se mover em direções opostas. Uma pessoa que está em início de carreira e se sente subutilizada no escritório pode ter um ótimo equilíbrio entre vida profissional e pessoal do ponto de vista de horas e carga de trabalho, mas não se sente energizada no trabalho ou inspirada por seu significado, segundo o artigo.
Por outro lado, os autores apontam que em alguns momentos as pessoas podem prosperar e se sentir tão realizadas por trabalhar duro para fazer um grande projeto dar certo que se permitem fazer uma troca de curto prazo no equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Ao combinar as respostas dadas na pesquisa e dados como a agenda (anônima) e os metadados de e-mail, a Microsoft descobriu qual era, na opinião dos funcionários, o melhor dos dois mundos: trabalhar cinco horas a menos por semana e se desligar um pouco dos outros. Afinal, os colaboradores se sentiram mais felizes com cinco horas a menos de colaboração por semana, três horas a mais de trabalho focado e com 17 funcionários a menos em sua rede.
Não é que a colaboração seja ruim; segundo a Microsoft, momentos de trabalho em equipe e de luta por um objetivo comum podem estimular a prosperidade, mas os gestores precisam estar cientes de que a colaboração intensa afeta o equilíbrio entre vida profissional e pessoal —e precisam agir para proteger suas equipes desse cenário.
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