Por que amamos comfort food?

Estudos mostram que temos diferentes motivações (e preferências) ao escolher as nossas comidas afetivas favoritas

Macarrão instantâneo, bolo de chocolate, batata frita, sorvete, canja da vovó: quando você pensa em uma comida afetiva (ou comfort food), que te traz uma sensação de conforto, qual é o prato que vem à sua mente?

A resposta depende muito de onde você está, afinal a comida tem tudo a ver com a cultura do local onde nascemos e vivemos. Por isso, quando falamos em comfort food, essa expressão significa algo diferente em cada país, segundo um artigo da BBC Future —lá no Reino Unido, por exemplo, purê de batata, macarrão com queijo e ovos mexidos com torrada aparecem no topo da lista.

E depende também do nosso humor. Apesar de muita gente achar que recorremos à comfort food em momentos difíceis, algumas pesquisas mostram que não é bem assim.

Um estudo feito em 2010 nos Estados Unidos mostra que os participantes que estavam passando por mais turbulências tendiam mais a escolher alimentos que nunca haviam experimentado antes (e não os seus preferidos de sempre). E que as pessoas com vida mais estável preferiram os sabores de sempre de batatinhas. 

Para os pesquisadores, isso pode sinalizar que períodos difíceis podem nos tornar mais abertos a experimentar novas possibilidades —e que a comfort food fica para quando voltarmos à nossa zona de conforto.

Comfort food é comida de bom humor?

Como os alimentos reconfortantes são, em geral, bem calóricos, os pesquisadores se perguntaram se podem melhorar o nosso humor quando passamos por momentos de estresse ou de tristeza.

A resposta: depende do gênero. Um estudo que entrevistou cerca de 1.400 pessoas na América do Norte mostra que os homens recorrem à comfort food quando querem celebrar, enquanto as mulheres comem comidas reconfortantes quando estão tristes (e por isso sentem culpa depois de comer).

Essas descobertas sugerem que talvez a comfort food nos traga algo que vai além da alegria ou do conforto individuais, aponta a BBC Future. oferecendo algo mais sutil do que alegria. Em algumas situações elas nos ajudam a ter um sentimento de pertencimento. 

No artigo “Canja de galinha realmente faz bem para a alma”, pesquisadores mostram que as comidas que nos trazem conforto evocam sentimentos ligados aos nossos relacionamentos (como a canja da mãe ou da avó). 

Para as pessoas entrevistadas, esses alimentos tinham um histórico de conexão forte e segura, e se relacionavam a sua identidade. Por outro lado, quem não tinha um histórico de conexões seguras não se sentiu assim. Ou seja: o efeito da comfort food depende das vivências que tivemos na vida.

Comfort foods pelo mundo

O que essas pesquisas mostram é que o contexto importa mais do que qualquer outro quesito para explicar quais são as nossas comfort foods favoritas. Nós comemos por muitas razões emocionais: para manter o bom humor, para comemorar, para passar o tempo. E o que vai ao nosso prato difere de cultura para cultura.

Na Índia, uma comida caseira querida é o khichri, um mingau de lentilhas e arroz coberto com picles. Já os chineses curtem a enorme almôndega de cabeça de leão, feita com carne de porco moída temperada. 

Para uma pessoa síria, a comida reconfortante pode ser a mujaddara, um prato de lentilha e bulgur cheio de cebolas caramelizadas. E para os franceses, é a tartiflette, a caçarola de batata com queijo e banha.

Em uma última reviravolta, a BBC Future mostra que tem uma situação em que preferimos a comfort food fora da nossa zona de conforto: quando estamos em viagem.

Pesquisadores entrevistaram pessoas que estavam em dois aeroportos de Taiwan, longe de casa, talvez um pouco intimidadas pela culinária local. E os viajantes que não gostavam de experimentar comidas diferentes eram os que estavam mais felizes de comer sua comfort food

“Pelo menos em algumas situações, os alimentos familiares desempenham o papel que imaginamos —dando segurança, um sentimento de pertencimento e uma âncora estável”, diz o artigo.

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