Como a pandemia está mudando nossos hábitos alimentares

A pandemia de Covid-19 está mudando os hábitos alimentares dos brasileiros; saiba o que revelam os estudos mais recentes sobre o tema.

Entre tantas mudanças advindas da pandemia, não é de se estranhar que ela tenha mexido até mesmo com nossos hábitos alimentares. De um lado, o impacto foi positivo: o consumo de frutas, hortaliças e feijão subiu de 40,2% para 44,6% durante a pandemia, segundo os primeiros resultados do estudo NutriNet Brasil, da Universidade de São Paulo, que vai acompanhar 200 mil brasileiros por dez anos para identificar características da alimentação que influenciam o risco de doenças crônicas.

“O ponto é investigar se o conjunto dos alimentos que compõem padrões alimentares se associa a um maior risco ou proteção às doenças crônicas investigadas na pesquisa”, explica Maria Alvim, nutricionista e Mestre em Saúde Coletiva pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Doutoranda em Saúde Coletiva pela FMUSP (Faculdade de Medicina da USP).

Esse dado coincide com uma tendência já verificada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): a porcentagem da população que come frutas e verduras passou de 16% para 21,4% entre 2017 e 2018, aponta a última pesquisa Orçamentos Familiares: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, divulgada em 2020.

Por outro lado, o NutriNet Brasil revela um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados nas regiões Norte e Nordeste, e também entre as pessoas de escolaridade mais baixa.

“Esses resultados sugerem desigualdades sociais na resposta do comportamento alimentar à pandemia. Isso poderia ser explicado pela maior dificuldade de acesso a alimentos frescos, além da eventual redução na renda familiar por perda de emprego, limitando a compra de alimentos de maior preço, como são frutas e hortaliças, carnes e peixes”, especifica Eurídice Martinez, bióloga com Doutorado em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, pesquisadora de pós-doutorado no Nupens/USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo).

Outro estudo, publicado no periódico científico Nutrients, com participação da Fiocruz e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostra que na pandemia mais adolescentes passaram a comer balinhas e sobremesas. A parcela de jovens que disse consumir doces todos os dias aumentou de 14% para 20,7% no período.

Diretrizes para novas políticas

Esses são alguns dos novos dados trazidos por estudos recentes sobre os nossos hábitos alimentares –ou seja, a forma como nos alimentamos, abrangendo os tipos de alimentos consumidos, como são combinados entre si e preparados, além das características do modo de comer.

“Resultados de pesquisas são importantes para orientar tanto o cuidado com a saúde como a tomada de decisão em políticas públicas”, diz Kamila Gabe, nutricionista, mestre e doutoranda em Nutrição em Saúde Pública pela FSP-USP (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo) e participante do NutriNet Brasil.

Diante de um cenário de fome, como o que passamos atualmente, é possível identificar grupos com maior risco de insegurança alimentar e nutricional. De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan, de 2020, 55,2% dos lares brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar.

Com os resultados em mãos, os levantamentos estatísticos ajudam a embasar profissionais da saúde na hora de definir orientações alimentares. Já no campo da atuação pública, essas evidências científicas ajudam a subsidiar decisões como facilitar o acesso à alimentação saudável.

*Todas as especialistas ouvidas para esta reportagem integram a equipe de pesquisadores do Estudo NutriNet Brasil.

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