Como é ir a um restaurante e comer no escuro total?

Já tem restaurante que oferece refeições no breu; jornalista encarou a experiência e conta como foi

Alguns restaurantes pelo mundo estão oferecendo algo diferente no cardápio: comer no escuro. Como será a experiência? Será que fazer uma refeição no breu altera a nossa percepção da comida e a maneira como nos alimentamos?

Movida por essa curiosidade, Veronique Greenwood passou por essa experiência, que relata em um artigo para a BBC Future. Ela e a irmã foram fazer uma refeição no escuro em um restaurante chamado Blind Cow (ou “vaca cega”, em português), fundado em 1999 em Zurique, na Suíça, por um clérigo cego.

Ao entrar no local onde vai comer, no escuro, ela ouve o som das pessoas falando, dos talheres contra os pratos. Mas não enxerga absolutamente nada. Por mais estranho que esse ambiente pareça, ele é confortável para os garçons, pois eles são cegos ou têm visão limitada.

Alguns pensamentos vêm a sua cabeça. Sem a visão, será que os outros sentidos ficam mais aguçados? “Você come menos quando não tem ideia do que está comendo? E o que estar no escuro faz com outros aspectos da sua mente?”, relata ela no artigo.

O que os olhos não veem, o paladar sente?

Quando chega a entrada, Veronique percebe que a experiência será pra lá de esquisita. Ao levar a colher à boca, ela sente que está comendo um tronco coberto de musgo com cogumelos. 

“Em minha mente, a forma preta da coisa é contornada com branco, um substituto para a informação visual. Sem uma imagem para fixar minhas impressões, no momento após engolir, não consigo me lembrar de quase nada sobre a colherada”, escreve.

No prato seguinte, ela consegue distinguir alimentos e se diverte conectando essas informações a suas memórias. Ela “rapa” o prato e se justifica dizendo que um estudo sobre jantar no escuro mostra que, sem visão para guiá-las, as pessoas podem consumir 36% mais calorias do que quem enxerga o que está no prato.

E finaliza a refeição com uma sobremesa que ela adora, mas não tem a menor ideia do que é. “Acho que meus sentidos de paladar, olfato e tato não estão mais aguçados do que o normal”, conclui ela. “A principal diferença é que eles estão desarticulados, na ausência do poder unificador da visão.” 

A experiência também trouxe uma outra reflexão, sobre a sensação de alívio por não ser vista pelas outras pessoas que estão no local. 

“A invisibilidade retira de você a responsabilidade de ter uma determinada aparência, comer de determinada maneira ou manter as coisas organizadas”, escreve. “Você pode apenas sentar e conversar e pensar e você é apenas uma voz na escuridão como qualquer outra, finalmente livre de seu corpo.”

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