O espaguete não nasceu na Itália —nem se come de colher

Confira essa e outras curiosidades sobre esse prato tão amado pelos brasileiros e popularizado pelos italianos (mas que nasceu na China)

O espaguete é envolvente. Literalmente. Essa iguaria milenar serpenteia em nossos sonhos gastronômicos e até nas telas de cinema. Mas, quem não se lembra da cena de “A Dama e o Vagabundo” com um beijo regado a espaguete entre os cachorrinhos em uma cantina italiana? 

Mas será que esse tipo de massa surgiu mesmo na Itália? Essa é uma boa pergunta – entre tantas – para o Dia do Espaguete, celebrado em 4 de janeiro.

Podemos dizer que o espaguete é um cordão que arrebenta sempre do lado mais fraco – o do estômago.

Por falar em corda, o formato do espaguete tem tudo a ver com o seu nome. Essa é a primeira curiosidade que o iFood News apresenta para os leitores a respeito desse prato tão famoso.

Espaguete é a versão para o português do italiano “spaghetti”, que é diminutivo de “spago”, cujo significado é cordão.

Sim, os italianos foram os responsáveis por esse termo de batismo da massa. Porém, isso não significa que eles sejam os criadores da receita original.

Vamos recorrer, então, à arqueologia para desenrolar o fio dessa história.

Origem chinesa

Consta que estudiosos do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências encontraram um prato intocado de espaguete no povoado de Lajia. A comida teria sido deixada ali há cerca de 4 mil anos.

E não porque alguém achou que o gosto estava ruim ou algo do tipo: as pessoas tiveram que sair correndo antes mesmo de comer a massa por conta de uma catástrofe natural, possivelmente um terremoto. Sinal disso é que o prato estava de cabeça para baixo.

Endireitando de novo a narrativa, lembremos que o mercador italiano Marco Polo visitou a China no século 13. Os mais afobados podem até engolir a versão da história que diz que foi ele quem introduziu o espaguete em território italiano.

Invasão árabe

Mas calma lá. Esse relato fica meio indigesto em relação à veracidade dos fatos quando nos deparamos com registros de outro rastro do macarrão.

Foi no século 9 que o espaguete aportou na Sicília, levado pelos árabes em sua incursão de conquista da ilha. As primeiras receitas do prato incluíam sardinhas pescadas ali mesmo no porto da região.

Só bem mais tarde o molho de tomate se consagrou como um parceiro clássico da massa. O primeiro registro desse casamento entre ambos na Itália data de 1790, descrito em um livro de receitas do chef Francesco Leonardi.

Por sinal, o espaguete encontrado pelos arqueólogos na China era feito à base de milho. O que chegou à Sicília pelas mãos dos árabes já era de trigo.

Como percebemos, mesmo tendo percorrido tantas vias, o espaguete firmou mesmo sua maior tradição na Itália. Lá, foi aperfeiçoado e ganhou novas cores e sabores.

Os rituais do espaguete

Além disso, os italianos estabeleceram uma série de rituais para o que consideram uma degustação apropriada desse prato tão tradicional.

Em primeiríssimo lugar: nunca, em hipótese alguma, use uma faca para comer espaguete, principalmente se estiver com uma pessoa italiana à mesa. Cortar o espaguete é algo considerado como praticamente uma heresia na Itália.

Nem mesmo a colher. Aquele hábito de usá-la para ajudar a acomodar o macarrão no garfo não é nada bem-visto pelos italianos.

Para comer espaguete, use apenas o garfo mesmo (tá liberado aproveitar as bordas do prato fundo para manobrar melhor a massa).

Em tempo: nos primórdios do consumo desse tipo de macarrão na Itália, ele era comido à mão, pois os garfos da época possuíam um formato que não era ideal para enrolar os fios, que escorregavam entre os dentes do instrumento. Depois, de aprimorar sua arquitetura, começaram a permitir usar para espaguete.

Enredo cinematográfico

As rotas traçadas pelo espaguete vão além da gastronomia. Seu estilo macarrônico ajudou inclusive a nomear uma forma de fazer cinema.

O gênero em questão é o “spaghetti western”, ou faroeste espaguete, ou faroeste macarrônico, ou ainda bangue-bangue à italiana. Trata-se de um tipo de produção filmada na Itália, e também na Espanha, nos anos 1960 e 1970, bem à moda do faroeste estadunidense.

Aliás, muitos desses filmes foram feitos nos Estados Unidos mesmo, servindo o espaguete cinematográfico em território americano.

Nada mais natural. Tudo o que diz respeito ao espaguete corre o mundo. Afinal, esse fio é inspirador a ponto de unir bocas de cães apaixonados num desenho da Disney.  A fome de amor pelo espaguete é envolventemente global.

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