Novos estudos revelam que a chegada de plataformas de delivery (como o iFood) a uma cidade causa uma queda significativa nos índices de criminalidade locais – especialmente nas áreas mais vulneráveis e em crimes não violentos.
Cruzando dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre a criminalidade nos municípios com a expansão do iFood para essas praças – incluindo o número de pedidos –, a pesquisadora Isadora Frankenthal, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), constatou que a presença do aplicativo contribuiu para uma redução média de 10,4% nos índices de criminalidade locais.
Publicado em maio de 2025, o estudo também revela que essa queda foi maior no caso de crimes não violentos, especialmente nas regiões mais vulneráveis das cidades. “Bairros de menor renda, com taxas de criminalidade elevada, se beneficiam mais da redução da criminalidade devido à ampliação de oportunidades de trabalho. Nessas localidades, a redução em crimes não violentos chega a 20,9%, enquanto crimes violentos recuam 26,7%”, explica a pesquisadora.
Outro resultado importante foi a queda de 11,2% nos crimes não violentos em bairros com alta demanda por delivery nessas cidades. Além disso, os crimes violentos apresentaram uma redução ainda maior nos horários de pico, chegando a 23,5%.
Esses resultados mostram que a diminuição geral da criminalidade não se explica por deslocamento geográfico (pois ocorre em áreas ricas e pobres) nem pela intensidade do delivery, já que tanto os períodos com mais e menos pedidos registraram queda significativa nos índices de crime.
Ao promover oportunidades de trabalho com flexibilidade e baixa barreira de entrada, as plataformas de delivery fomentam a geração de renda e a inclusão social, que é um dos principais mecanismos responsáveis pela redução dos índices de criminalidade, em especial para crimes não violentos.
Estudo francês aponta o mesmo fenômeno
Em março deste ano, um estudo semelhante foi realizado pelos pesquisadores europeus Hugo Allouard, Grazia Cecere, Jose de Sousa, Olivier Marie e Ines Picard, que atuam em diferentes universidades europeias.
Esse trabalho mostra que, após cinco anos da entrada de plataformas de delivery (como Uber Eats e Deliveroo) na França, a taxa de crimes foi reduzida em 3,2%. Já o número de crimes relacionados ao tráfico de drogas caiu 22,1% nas áreas urbanas e 36,5% nas zonas rurais.
“Nossa análise mostra quedas particularmente grandes em categorias específicas”, explica Olivier Marie, coautor do estudo. Ele se refere à redução dos crimes violentos (6,9%), dos, delitos relacionados a drogas (15,5%), a pequenos furtos, como roubos em lojas e roubos de rua (10%) e a atos de vandalismo e destruição (15,7%).
Os efeitos positivos não se limitam à segurança pública. Nesse mesmo período, aponta o estudo francês, houve redução da taxa de desemprego em 0,21 ponto percentual nas áreas rurais e queda nas taxas de inatividade – de 0,85 ponto percentual nas cidades e 0,37 ponto percentual no interior –, reforçando o papel das plataformas na geração de renda e inclusão no mundo do trabalho.
O estudo também mostra que as plataformas de delivery contribuíram para ampliar a inclusão econômica. Por lá, o número de entregadores aumentou em 18,3 a cada 10 mil habitantes, chegando a 28,2 por 10 mil entre os homens – um salto superior a 50%.
Os resultados também indicam que grande parte dessas vagas foi ocupada por imigrantes. Paralelamente, a taxa de inatividade entre imigrantes do sexo masculino caiu 1,2 ponto percentual, enquanto os pedidos de benefícios de renda mínima no país tiveram redução de 1,8 ponto percentual.
Impacto positivo das plataformas na renda dos entregadores
Outros estudos mostram que tem crescido o número de brasileiros que trabalham por meio de aplicativos – e sua renda também. Entre 2022 e 2024, a quantidade de entregadores ativos nas plataformas aumentou 18%, e sua renda bruta teve crescimento real de 5% (acima da inflação no período), de acordo com pesquisa realizada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Esse estudo também estima que a renda líquida mensal de um entregador que trabalhe 40 horas semanais varie entre R$ 2.669 e R$ 3.581. São valores superiores ao salário mínimo vigente no período (R$ 1.412) e à média de ganhos de quem tem esse nível de escolaridade, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
O iFood também gera um impacto positivo relevante na economia brasileira ao impulsionar a geração de renda e de oportunidades de trabalho e o crescimento de restaurantes em todo o país.
Segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), as atividades da plataforma movimentaram 0,55% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional em 2023 e geraram R$ 110,7 bilhões em atividade econômica para o país (em valor bruto da produção).
A cada R$ 1.000 gastos em restaurantes e estabelecimentos parceiros, outros R$ 1.390,00 são movimentados na economia brasileira, de acordo com a Fipe, refletindo a demanda gerada em setores como comércio, agricultura, pecuária e transporte.
Esse efeito multiplicador do iFood também se estende à arrecadação de impostos. Para cada R$ 1.000 gerados em tributos pelas compras no iFood, R$ 1.119 adicionais são coletados ao longo da cadeia produtiva.
O mercado de trabalho também é beneficiado. Em 2023, o iFood contribuiu para a criação de mais de 909 mil postos de trabalho, o equivalente a quase 1% da população ocupada no Brasil naquele ano. E, a cada 100 empregos diretos, outros 67 são gerados de forma indireta ou induzida, segundo a Fipe.