O que aprendi sobre liderança feminina no Bootcamp Women Leadership

Aprendizados sobre como podemos liderar uma equipe (e a nós mesmas) e reinventar nossas carreiras

Juliane Mazucki

💻 Location Platform | Software Engineering Manager no iFood

Neste artigo exponho meus aprendizados sobre como podemos liderar uma equipe (e a nós mesmas), além de como reinventar nossas carreiras.

Bootcamp Women Leadership tem o propósito de desenvolver habilidades em mulheres para que elas se tornem líderes de si mesmas e líderes no mercado. O evento conta com facilitadoras, que trazem informações e dinâmicas práticas, combinadas com suas próprias experiências pessoais e profissionais.

Liderando a si mesma

O primeiro passo na busca da autoliderança é o autoconhecimento. Precisamos refletir sobre nossa história de vida, nos conhecermos como mulheres em todos os aspectos: raça, identidade de gênero, orientação sexual e contexto social, físico e emocional.

Devemos nos observar para saber o que desejamos para nós, tomarmos consciência da nossa conversa interna, tirando proveito dela, mas tomando cuidado para não fazer disso apenas uma nova cobrança. O autoconhecimento nos proporciona conhecer nossas inseguranças, e isso traz a oportunidade de identificar quais são os gatilhos para essas inseguranças e que ações tomar para diminuir ou anular os seus efeitos.

Muitos estudos apontam que mulheres tendem a ser mais inseguras no trabalho do que homens, desistem da liderança mais facilmente e tendem a ser mais atingidas pela síndrome do impostor. Somos sempre confrontadas com a crença de que não temos a habilidade e o conhecimento necessários para dar conta do que precisa ser feito, sem nem mesmo ter falhado.

Não há solução mágica para esses problemas, e é por isso que precisamos investir e cuidarmos de nós mesmas, para reconhecer e neutralizar esses “fantasmas”.

Nós não temos, ao longo da história escolar, uma disciplina que nos ensine a reconhecer nossos sentimentos. Porém, é importante investir nessa habilidade e nos perguntarmos todos os dias como estamos nos sentindo, saber nomear nossas emoções, para termos domínio das nossas reações frente às situações que surgem no dia a dia e escolher como agir.

Devemos buscar em nossa ancestralidade exemplos de mulheres que julgamos fortes, e identificar as forças e as fraquezas delas. O que as deixam felizes e os que as deixam tristes, e como elas nos enxergam. As mulheres da nossa família podem dizer muito sobre nós mesmas.

Outras mulheres nos despertam e nos influenciam, mas precisamos “desmistificar as figuras”, não idealizar, porque todo mundo sofre e todo mundo precisa viver o dia a dia. Precisamos identificar, dentre o que fazemos, o que fazemos por que queremos e o que fazemos por vontade ou necessidade do outro.

No Ensino Fundamental, um professor me disse que eu tinha espírito de liderança. E de fato eu tinha. Sempre participei de eleições para representante de classe e outros “cargos” no colégio. Já ocupei cargos de liderança técnica, mas minha insegurança não me permitia ir além, ainda que houvessem novas oportunidades.

Em um momento da carreira aceitei um cargo de liderança sem desejá-lo, apenas por entender que era o que se esperava de mim, e que, se eu não contribuísse dessa maneira, não teria como contribuir de outra forma. Não diria que foi um fracasso total, mas ficou muito longe do sucesso, e me trouxe consequências psicológicas desagradáveis, ainda que fosse um ambiente muito amistoso, com pessoas que eu apreciava (e ainda aprecio).

A ajuda psicológica me estimulou a reconhecer quais são as minhas vontades, e hoje eu ocupo um cargo de liderança que não apenas aceitei, mas que também desejei.

Liderança de Equipe

A autossabotagem é algo real. E nós, mulheres, geralmente somos educadas para ser lideradas, para ceder o protagonismo a fim de ser acolhidas. Então precisamos desenvolver nosso modo de superar esses obstáculos. Ter mulheres líderes não é um favor, mas sim uma decisão inteligente, já que trazemos lucros paras as empresas.

Líder é a pessoa que muda o contexto, conduzindo um grupo do problema à solução, trazendo uma transformação efetiva. Mas não precisamos ser formalmente líderes de uma equipe no trabalho para agirmos como tais. A liderança se manifesta em todos os aspectos de nossas vidas: na escola, nos relacionamentos familiares e amorosos, na maternidade etc.

Uma líder precisa:

  • Tomar decisões difíceis, mas deixar transparente os critérios de decisão;
  • Ter autoconhecimento para buscar estabilidade emocional e psicológica, não perder as emoções do radar;
  • Ter e manter seu código de honra, saber o que é tolerável e o que é inegociável;
  • Ter habilidades interpessoais para influenciar na cultura e visão da empresa e desenvolver as pessoas;
  • Ter foco na equipe.

As etapas da liderança são:

  1. Engajar: conhecer o seu time, suas histórias e valores para conseguir conectar os valores delas aos valores e objetivos da empresa;
  2. Delegar: identificar as habilidades e pontos a desenvolver de cada pessoa e desenvolvê-los; lembrando que você tem outras atribuições e não pode fazer tudo;
  3. Cobrar: é necessário ter um cronograma de tarefas, fazer acompanhamento e dar feedbacks assertivos, específicos (a generalização fecha o canal de comunicação), que abordem o comportamento e proponham soluções;
  4. Celebrar: precisamos dar recompensas personalizadas para cada pessoa, e isso requer conhecer o que agrada, o que satisfaz cada indivíduo.

A principal habilidade de um líder é conhecer as pessoas do seu time, então é necessário investir tempo de qualidade nisso.

Uma líder pode ser mais passiva ou mais agressiva. Precisamos identificar em que lugar estamos nessa régua, porque o que devemos perseguir é a assertividade, que significa nos expressarmos sem causar dor e sem sentir constrangimento.

Todos os líderes precisam ter seu manifesto de liderança, que segue o modelo:

  1. Indignação produtiva (porquê)
  2. Resultado mensurável (o quê)
  3. Recurso emocional (como)

“Eu faço/realizo/lidero (2) usando/por meio de (3) porque acredito/defendo/persigo (1).”

Mesmo eu acreditando que meu manifesto não está pronto, vou compartilhar com vocês o que eu construí durante o treinamento:

“Eu promovo o aprendizado do meu time e família por meio de compartilhamento de conhecimento e networking porque acredito na melhoria das vidas das pessoas através do conhecimento.”.

Negociação

Precisamos aprender que quem deve fazer nosso plano de carreira somos nós, e não a empresa em que trabalhamos. E que, se não deixarmos claras nossas ambições, ninguém irá adivinhá-las simplesmente. Por outro lado, temos que entender que nem todo mundo tem as mesmas ambições — isso é importante, e precisa ser reconhecido e respeitado.

Ao considerarmos trabalhar em uma empresa, precisamos antes conhecer a sua cultura, verificar se os valores dela estão alinhados com os nossos ou se conseguimos conectá-los de alguma maneira. E precisamos estar cientes de que mais pessoas são demitidas por comportamento desalinhado ao que é esperado dentro da empresa do que por baixa produtividade.

Precisamos sempre alinhar as expectativas com as pessoas, no trabalho (gerentes, sócios, liderados) e na vida pessoal (relacionamentos, família). Temos que saber ser políticas.

A nossa vida torna-se sobrecarregada a cada dia, então precisamos mapear as pessoas que têm influência direta no nosso trabalho/vida pessoal e as que não têm influência direta. Mas é preciso manter contato para viabilizar os avanços necessários. A partir desse mapeamento, devemos definir as ações para garantir a colaboração dessas pessoas. É necessário priorizar as pessoas importantes em nossa vida e as (poucas) batalhas que valem a pena serem enfrentadas que nos ajudarão a atingir nossos objetivos.

Não podemos contar com o bom senso das pessoas, porque o bom senso é diferente para cada um. Por isso, é preciso documentar e combinar as regras a serem seguidas.

Já que falamos abertamente sobre o quanto colaboramos no projeto, precisamos também ter ciência e saber falar do ganho financeiro que geramos.

Devemos escolher nosso projetos pessoais na empresa, as carreiras com as quais queremos contribuir.

Caso deseje mudar de empresa, siga os passos a seguir:

  1. Ative seu networking.
  2. Eleja 5 empresas nas quais você deseja trabalhar.
  3. Desenvolva um plano de ação para cada empresa selecionada.


Confesso que nunca tinha me dado conta de que eu tinha aplicado esses três passos quando decidi sair da primeira empresa em que trabalhei (por 15 anos), e foi isso que meu trouxe ao Grupo Movile, em 2017, e ao iFood, em 2019.

Projetando a reinvenção da sua carreira

Alguns cuidados que podem fazer com que um perfil no LinkedIn se torne mais atrativo.

  1. Sempre detalhar todas as mudanças de cargo dentro de uma mesma empresa para deixar claro que você não ficou estagnada.
  2. Selecionar as empresas de seu interesse e destacar suas realizações que se alinhem com o perfil dessas empresas, direcionando seu perfil para o que você deseja para sua carreira.
  3. Se você for da área de Tecnologia, apenas tenha um perfil no LinkedIn 🙂

Ao ser contratada por uma empresa, independente da senioridade, ninguém espera que uma pessoa chegue entregando um grande volume de tarefas nas primeiras semanas, mas é sim esperado que ela use esse tempo para conhecer a empresa e as pessoas. Crie relacionamentos e procure entender mais do que apenas a sua área de atuação.

Concluindo, vejo o quão importante é o autoconhecimento, sabermos o que nos faz felizes e o que nos deixa inseguras, para conseguirmos trabalharmos com todos os aspectos da nossa personalidade.

O autoconhecimento nos ajuda também a conhecermos o outro, permitindo que saibamos lidar com as pessoas, tirando o melhor das nossas relações pessoais e profissionais. Por último, além de conhecermos nossas qualidades e habilidades, precisamos deixá-las claras para que os outros também as reconheçam.

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