No Brasil, homens que têm filhos recém-nascidos ou recém-adotados podem tirar uma licença-paternidade de cinco dias, um benefício previsto em lei para trabalhadores com carteira assinada e servidores públicos e que pode ser estendido a até 20 dias no caso de empregadores inscritos no Programa Empresa Cidadã.
Algumas empresas, como o iFood, adotam a licença-paternidade estendida, de 60 dias, uma iniciativa que pode melhorar não só o relacionamento dos homens com os filhos mas também beneficiar sua carreira, aponta uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey com 130 novos pais em dez países diferentes.
O estudo começa apontando uma mudança global de cultura, na qual cada vez mais empresas estão oferecendo licença-paternidade estendida. Em todo o mundo, 38% das companhias já dão aos homens uma licença remunerada acima do mínimo previsto em lei. Essa tendência, segundo a McKinsey, foi acelerada depois que a pandemia de Covid-19 mostrou a importância de cuidar do bem-estar dos funcionários.
Os achados da pesquisa revelam como a licença-paternidade pode melhorar os relacionamentos nas famílias e até mesmo deixar os pais mais contentes com as empresas onde trabalham. Todos os homens entrevistados se disseram felizes com essa pausa para cuidar dos filhos e afirmaram que repetiriam a dose.
Nove em cada dez pais contaram que houve alguma melhora em seu relacionamento conjugal nesse período. Suas parceiras ou parceiros sentiram que esse apoio foi fundamental para forjar um vínculo mais forte. Para as mães entrevistadas, a questão não era dividir as tarefas domésticas, e sim receber dos homens apoio emocional e presença durante os primeiros (e desafiadores) dias de cuidados com o bebê, segundo o estudo.
A McKinsey destaca que pesquisas recentes indicam que a licença-paternidade está associada a uma maior estabilidade nos relacionamentos e que o aumento do envolvimento do pai nos cuidados com o bebê pode mitigar os resultados da depressão pós-parto.
“Embora nossa pesquisa tenha se concentrado em pais heterossexuais em licença-paternidade, reconhecemos que existem muitos outros tipos de família (com duas mães ou dois pais, famílias adotivas e assim por diante) que enfrentam desafios semelhantes e, portanto, podem se beneficiar da licença parental”, aponta o estudo.
Felicidade no trabalho
Pais que tiram licença-paternidade também conseguem estabelecer boas bases para distribuir as responsabilidades com os filhos de modo mais igualitário em casa, de acordo com o estudo. Além disso, criam um relacionamento mais forte com as crianças. “Em alguns casos, de acordo com nossos entrevistados, o tempo passado em casa permitiu que os pais desenvolvessem o que eles caracterizavam como um vínculo ‘especial’ que duraria anos”, relata o documento.
As melhoras foram percebidas também na vida profissional de casais heterossexuais. Os homens entrevistados na pesquisa disseram que a licença ajudou a reduzir o estresse das mulheres quanto ao retorno ao trabalho e a apoiar os objetivos de carreira de suas parceiras. E diminuiu a diferença salarial de gênero dentro das famílias, aumentando os salários das mães em curto prazo e ajudando a aumentar o bem-estar financeiro da casa.
A pesquisa também destaca que os homens que passam tempo com seus filhos se sentem mais felizes e realizados, sentimentos que se estendem para o trabalho. Embora 20% dos entrevistados tenham achado que corriam risco de prejudicar a carreira por tirar a licença, a maioria disse que os benefícios de estar com os filhos superaram o risco. “‘Vejo isso como um investimento nos funcionários’, disse um entrevistado. ‘Por causa disso, eu realmente respeito o banco em que trabalho, porque a empresa é realmente orientada para o ser humano.’”, descreve o estudo.
Muitos pais se sentiram mais motivados após a licença e afirmaram que estavam pensando em ficar mais tempo na empresa; outros disseram ter se tornado mais produtivos por priorizar melhor as tarefas e seu tempo de trabalho. E teve quem começasse a mudar sua vida profissional para trabalhar com outros pais e com pessoas que possam ajudar a equilibrar família e carreira.
Como as empresas podem apoiar os pais
Para a McKinsey, “é possível que os funcionários sejam melhores pais e melhores parceiros ao mesmo tempo em que são líderes inspiradores”. E as empresas podem apoiar essa jornada adotando cinco iniciativas:
- Conceder aos pais os mesmos benefícios dados às mães, com período mais longo de licença remunerada e mais flexibilidade no período de licença;
- Cultivar uma cultura corporativa que abrace a licença-paternidade e permita que os homens compartilhem suas experiências;
- Esclarecer o impacto na carreira, criando um ambiente em que a licença não afete negativamente as promoções;
- Ajudar os pais a se reintegrar ao local de trabalho após a licença;
- Estabelecer políticas favoráveis e arranjos de trabalho flexíveis para apoiar os pais no cuidado com a família.