A maioria dos brasileiros quer trabalhar em casa em 2022 —como as empresas podem conciliar expectativas?
A experiência com o home office durante a pandemia mudou a maneira como a maioria dos brasileiros encara a ida ao escritório: 58% das pessoas que estão trabalhando no formato híbrido prefere o trabalho totalmente remoto em 2022, revela o Índice de Tendências do Trabalho divulgado pela Microsoft em março.
A motivação maior dos trabalhadores é o bem-estar. De acordo com a pesquisa, 71% dos entrevistados no Brasil disseram priorizar sua saúde e bem-estar sobre o trabalho —uma cifra bem acima da média registrada nos 31 países avaliados, que foi de 53%.
Na outra ponta, os líderes estão divididos sobre como agir: 47% já exigem ou planejam exigir o retorno ao trabalho presencial e apenas 31% combinaram as regras e fizeram acordos para definir em que momentos seus funcionários realmente precisam ir ao escritório.
Quem não resolver esse impasse, porém, pode acabar perdendo talentos. “Eu acredito muito que pessoas felizes são mais eficientes. Tem gente que se sente mais realizada se puder estar perto da família ou oferecer cuidado. Por isso, nós abraçamos a flexibilidade do formato de trabalho no iFood. Para muita gente, isso já é um deal breaker: é o que vai fazer alguém aceitar ou não trabalhar na sua empresa”, afirma Gustavo Vitti, vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade do iFood.
A CEO da Microsoft no Brasil, Tânia Cosentino, concorda com essa visão. “Aquelas empresas que hoje falam: vocês ficaram dois anos em casa e agora acabou a ‘brincadeira’, a partir do mês que vem todo mundo volta ao escritório em tempo integral serão as primeiras a perderem funcionários”, afirmou a executiva em entrevista à CBN e ao jornal Valor Econômico.
Ela conta que a própria Microsoft adotou o trabalho híbrido. “Ouvimos que os funcionários não querem voltar para o trabalho presencial por considerarem que trabalharam tão bem de casa ao longo de dois anos e hoje podem trabalhar para uma empresa em Manaus ou na Austrália de sua casa”, afirma Tânia.
O ideal é ir 1 ou 2 dias ao escritório
Um estudo da Harvard Business School avaliou dados para medir a produtividade e a satisfação de funcionários de uma empresa em Bangladesh em 2020 e mostra que o ideal é que as pessoas estejam no escritório em um ou dois dias por semana.
Os pesquisadores descobriram que o grupo com melhor desempenho foi o que passou de 23% a 40% do tempo de trabalho na empresa. Segundo o estudo, esses resultados sugerem que “o trabalho híbrido pode representar o melhor dos dois mundos: flexibilidade sem isolamento”.
Para reter talentos, portanto, sai na frente quem oferecer essa flexibilidade. “No passado, as empresas tinham moldes rígidos: quem não se encaixasse não poderia trabalhar lá. Hoje, elas podem ser mais flexíveis em suas políticas”, afirma Vitti. “Afinal, com flexibilidade no trabalho, você tem pessoas mais felizes, e isso traz mais valor e mais resultados para a empresa.”