Uma empresa na qual a alimentação é o centro do negócio também tem seu papel no combate à fome e na promoção de sistemas alimentares mais saudáveis e regenerativos. Por isso, desde 2021, o iFood tem uma frente dedicada a questões ligadas à segurança alimentar.
E, em 2023, vai acelerar as parcerias e a tecnologia para ganhar escala em suas ações contra a fome e o desperdício de alimentos, que envolvem o movimento Todos à Mesa, as hortas escolares e o incentivo a doações.
“A segurança alimentar vai ser um tema importante para o país em 2023, uma vez que encerramos 2022 com um cenário que se equipara ao de 30 anos atrás nos índices de fome”, afirma Flavia Rosso, gerente de sustentabilidade do iFood.
Ela explica que o tema da segurança alimentar ainda é muito pouco trabalhado pelo setor privado no Brasil, mas que as empresas estão demonstrando mais abertura e apetite para falar sobre isso.
“Isso tem fortalecido muito a colaboração entre setores, que é um dos pilares que o iFood trabalhou muito em 2022 e agora pretende fortalecer, tanto com as empresas como com o terceiro setor e com o governo”, conta.
Em entrevista ao iFood News, ela compartilha os resultados das ações do iFood em relação à segurança alimentar e mostra como a empresa quer expandir esse impacto em 2023.
iFN – Por que a segurança alimentar é um tema importante para o iFood?
Flávia – Primeiro porque a segurança alimentar é um direito humano. Todo mundo tem o direito de ter acesso regular aos alimentos de qualidade, sem comprometer suas outras necessidades.
No iFood, líder de delivery na América Latina, promover uma alimentação segura e saudável é o que fazemos como negócio. A gente leva alimentos para as pessoas. Por isso, a questão da alimentação, como cerne da empresa, nos interessa tanto.
Além disso, a alimentação atravessa outros temas fundamentais para a empresa, como a preservação do meio ambiente e a educação. Uma criança ou um adulto que não se alimenta não consegue se concentrar para aprender e ter um bom desempenho escolar.
O desperdício de alimentos tem um impacto ambiental maior do que imaginamos também. Pode se dizer que o sistema alimentar como é estruturado hoje é o principal ofensor na geração de gases do efeito estufa no mundo.
Queremos promover sistemas alimentares mais saudáveis e regenerativos para o ambiente e para a sociedade. Para isso, precisamos nos unir a mais atores, como indústria, varejo, produtores, empresas de tecnologia, governos e sociedade civil.
iFN – No iFood, quais foram os principais resultados das ações relacionadas à segurança alimentar em 2022?
Flávia – O ano de 2022 foi o nosso primeiro ano completo com uma frente dedicada à segurança alimentar. Então nosso foco foi tirar as ideias do papel e fazer os programas existirem.
Foi também o primeiro do Todos à Mesa [a primeira coalizão brasileira de empresas e organizações para combater a fome e o desperdício de alimentos]. Ele nasce do inconformismo com o paradoxo entre quase um terço dos alimentos em perfeito estado de consumo sendo desperdiçados, enquanto 15% da população brasileira passa fome. Com esse volume de alimento desperdiçado daria para alimentar, a grosso modo, entre 3 a 5 vezes o número de pessoas que estão passando fome no Brasil. O problema não é falta de alimento, são escolhas de produção e distribuição.
O movimento começou com cinco empresas e a gente encerrou 2022 com 17 participantes, um salto de 12 empresas em um ano, entre elas as maiores do ramo de alimentação no Brasil.
Conseguimos alinhar uma visão comum de futuro, saber em quais áreas vamos avançar e como nos organizar para conseguir resultados, hoje, porque a questão da fome é urgente, e também nos próximos anos. A colaboração intersetorial é a base de como soluções estruturantes, de longo prazo, vão se dar.
O fruto disso foi que em 2022 alcançamos o marco de 6.000 toneladas de alimentos doados pelos parceiros do Todos à Mesa. Com esse volume, dá para alimentar 2,4 milhões de pessoas.
Também aderimos ao Pacto 15 por 15 da Ação da Cidadania para ajudar os 15% da população que estão em insegurança alimentar grave, que é a fome. Por meio do Todos à Mesa, as empresas aumentaram as doações, durante três meses, para as ONGs participantes do Pacto. Mais de 320 toneladas de alimentos foram doadas. Foi um bom exemplo de como um movimento consegue potencializar os resultados das ações.
Toda essa mobilização nos rendeu o Prêmio ECO em julho de 2022, que reconhece as melhores práticas de ESG das empresas. Foi uma boa confirmação de que a gente está no caminho certo.
iFN – Como o Todos à Mesa pretende avançar em 2023?
Flávia – Em 2023, queremos ampliar o Todos à Mesa para ter mais empresas e mais doadores. Quando as empresas começam a participar e a olhar para o seu próprio desperdício com mais atenção, elas ganham eficiência e desperdiçam menos, o que é ótimo. Mas, também por isso, precisamos de mais empresas participando, para que o volume de doações cresça em vez de se reduzir.
A própria regulação no tema interfere nessa doação e é muito embrionária. O que existe de legislação sobre o tema foi criado recentemente, em 2020, e este será outro tema importante para nós em 2023.
O ambiente regulatório no tema de doação de alimentos ainda pode avançar bastante no Brasil, e nossa intenção é apoiar esse avanço. Buscamos diretrizes mais claras sobre quem pode ou não pode doar, para dar mais confiança aos doadores, além de oportunidades em incentivo para a doação, por exemplo.
E também queremos avançar na construção de dados, nossa terceira grande frente em 2023. Os dados sobre desperdício de alimentos no Brasil são ainda muito precários. Seguimos as projeções mundiais, mas não sabemos em que estado ele é maior, ou em quais cidades, por exemplo.
Com dados de qualidade no tema, o Todos à Mesa poderá apoiar os governos, assim como outros atores da cadeia de redistribuição de alimentos, na condução de políticas públicas e operações mais direcionadas no combate ao desperdício e à fome.
A gente entra em 2023 com o mesmo espírito empreendedor, e vamos seguir com esse olhar de colaboração intersetorial. Até aqui, não fizemos nada sozinhos, e com certeza será assim em 2023.
iFN – O iFood tem também um projeto de hortas escolares. Como ele está evoluindo?
Flávia – Em 2021, vimos o potencial que tem o tema de produção de alimentos dentro das cidades. Inspirados na horta urbana que fica no prédio do iFood, percebemos que poderia haver um retorno maior.
Quando investimos em uma horta urbana em vez de dar uma cesta básica, o dinheiro tem “mais vidas”, rende mais. A cada safra, a comunidade escolar constrói mais autonomia e empoderamento na gestão da horta.
Todos os envolvidos, como professores, estudantes e a comunidade, cultivam a horta e tornam essa ação perene e independente do iFood. Em longo prazo, o retorno do investimento é muito maior do que o apoio pontual de uma doação única, por exemplo.
Essa era a nossa tese inicial para as hortas escolares, com um olhar para o volume de comida gerado. Em 2021, começamos com três hortas em São Paulo e Ferraz de Vasconcelos, com a Gerando Falcões.
A partir delas, aprendemos que não bastava ter a horta, era preciso dar formação para os professores criarem atividades pedagógicas e usar esse espaço para exercícios, como explicar o ciclo de cores a partir da cor magenta da beterraba ou como calcular o volume de água que a horta precisa em exercícios de matemática.
Uma horta na escola é muito mais do que uma geradora de alimentos. Ela é pedagógica, educativa, também no sentido de desenvolver uma consciência ambiental. E é uma boa ferramenta também para a saúde mental das crianças ao incentivar esse contato mais recorrente com a natureza.
Além disso, a horta atua fortemente na educação alimentar: 68% dos pais das crianças indicaram que houve melhora nos hábitos alimentares das crianças após a implementação da horta na escola.
Depois de todo esse aprendizado, queremos sistematizar esse conhecimento e compartilhar com mais atores em 2023 para que juntos possamos multiplicar o número de hortas pedagógicas no Brasil.
iFN – E como tem avançado o incentivo a doações pelo app?
Flávia – Em 2022, o Brasil entrou para a lista dos 20 países mais solidários, ficou em décimo oitavo lugar, saindo do 54º lugar em 2021. O avanço na cultura de doação foi o que nos permitiu dar esse salto.
É essa cultura que a gente busca alimentar no iFood. E isso passa por oferecer um ambiente fácil, seguro e transparente para as pessoas se sentirem confortáveis para praticar a solidariedade quando quiserem.
A nossa plataforma de doações pode ser descrita como um produto social do iFood. Isso porque nós partimos do nosso ativo como negócio, que é a tecnologia e o tráfego de 65 milhões de pedidos por mês no aplicativo, para ampliar as doações.
Quando colocamos o botão para as pessoas poderem doar na finalização do pedido no aplicativo, tivemos um salto nos resultados. Em 2022, avançamos com essa tecnologia e aprendemos a melhor forma de usar essa funcionalidade, de facilitar a doação.
Também agregamos duas novas ONGs para receber esses recursos: a Vocação e a Fundação 1 Bi. E pela primeira vez participamos de grandes campanhas, como Criança Esperança e Teleton, como uma forma de potencializar as que já existem.
No Criança Esperança, doamos mais de R$ 1 milhão para a Unesco. No Teleton foram R$ 434 mil doados para a AACD, vindo de usuários do app. Também participamos ativamente do Dia de Doar, data global que promove a cultura de doações, com o lançamento da opção de arredondamento no app, em parceria com a Arredondar.
E terminamos o ano participando do Natal Sem Fome, promovido pela Ação da Cidadania, em parceria com a Coca-Cola, que dobrou o valor arrecadado no período, que foi de R$ 419 mil.
Isso aumentou em mais de três vezes a frequência de doação dos nossos usuários. E mostra como formar um novo hábito, que nesse caso é o de doar centavos, é essencial para fortalecer a cultura de doação.
Em 2023, seguimos avançando para ganhar mais volume de doações e fazer mais parcerias com ONGs. Vamos continuar inovando em tecnologia para cultivar o hábito de doar e explorar novos formatos, como o de assinatura e o de doação de notas fiscais.
Além disso, queremos conectar cada vez mais as causas e os projetos das ONGs ao que os usuários do app querem, como apoiar uma organização da sua região. E trazer ainda mais empresas para ampliar o impacto da doação e melhorar ainda mais nossos relatórios de transparência.
iFN – Qual é o seu sonho grande para 2023?
Flávia – O mundo todo está tomando mais consciência do desafio global que a gente vai encarar nos sistemas alimentares, seja para alimentar as pessoas, seja para reduzir a emissão de gases poluentes.
Quando olhamos para o Brasil, nós estamos com uma população faminta hoje e precisamos juntos, setor privado, governo e sociedade civil, atuar para mais uma vez tirar o país do Mapa da Fome. Já fizemos isso uma vez e podemos fazer de novo.
O setor privado tem um papel nisso, não só para apoiar no combate à fome hoje, mas também para, em longo prazo, criar um sistema alimentar mais circular, em que todas as pessoas possam se alimentar bem e menos comida vá para o lixo.
O iFood está se posicionando sobre esse tema e trabalhando com outros atores para atuar em problemas como a fome e o desperdício hoje, enquanto cria sistemas alimentares mais saudáveis e regenerativos para o futuro das cidades.
Meu sonho é que, ao final de 2023, a gente tenha muito mais doações dos usuários no aplicativo para ajudar no combate à fome hoje, que consigamos doar muito mais toneladas de alimentos e pensar em programas dez vezes mais potentes, sempre conversando com esses atores.