Desenvolvimento profissional no iFood: como construir seu PDI

Dicas para elaborar um plano de desenvolvimento interno individual, desde os objetivos até os entregáveis

Bruno Hanai

💻 Gerente de Produto (Plataforma de Dados, Catálogo de Dados) no iFood

Meu nome é Bruno Hanai, comecei a trabalhar no iFood em novembro/2017 como Analista de Dados, e há cerca de 1 ano estou focado na Data Academy. Nessa nova área, deixei de fazer análises de dados para focar no desenvolvimento de pessoas e em programas de treinamento. Por isso, assim como todos, tenho muito o que estudar e aprender para realizar bem a minha missão!

Antes de começar, três pontos importantes:

  1. Esse texto vai ser escrito e apresentado de forma organizada e linear para facilitar sua leitura, porém, vale lembrar que as coisas aconteceram de forma não-tão-organizada na vida real.

  2. Esse texto representa apenas a minha opinião e o meu conhecimento atual sobre o assunto. Você pode e deve sempre questionar as sugestões. Se você está prestes a montar seu primeiro PDI, pode ser interessante seguir 100% a lógica que será apresentada aqui, para então fazer ajustes no próximo PDI.

  3. Durante o texto, apresento alguns conteúdos extras, como vídeos e links. Esses conteúdos não são necessários para a compreensão deste texto, são apenas periódicos.

Minha abordagem

Sinceramente, nunca tive um PDI que me desse orgulho pela organização e resultados obtidos — muito bem planejado, muito bem executado e muito bem finalizado.

Durante o planejamento do meu último PDI (em outubro/2020), algumas pessoas levantaram dúvidas em um grupo que participou. Em uma das mensagens, uma pessoa perguntou: “Alguém se sente confortável de compartilhar o próprio PDI?” —ninguém respondeu.

Fiquei pensando sobre o assunto e fiz algumas pesquisas buscando um guia perfeito para o meu PDI. Primeiro, lembrei que o

Tinha indicado um texto sobre o assunto em um evento aqui no iFood. O texto começou muito empolgante, evidenciando o fato de que “o PDI virou algo mecânico e burocratizado” . Depois, trouxe opiniões interessantes. E aí… acabou.

“Como tantas outras soluções corporativas, o problema é que o PDI foi burocratizado. E, com isso, seu impacto real foi muito reduzido.”

Além disso, encontrei outros materiais interessantes ( 1 / 2 ). Pensando nesses materiais e em todos os outros que poderia encontrar por aí, o meu pensamento era: eu vou precisar de tempo para ler, tempo para entender, tempo para aplicar e tempo para garantir que siga as orientações corretamente. Além disso, você precisará de sorte para que tudo isso seja o melhor para mim e que o meu PDI não se torne algo “mecânico e burocratizado” .

Por esses motivos, consegui seguir uma abordagem própria…

Visão Geral

Fazendo uma retrospectiva, consigo mapear o meu planejamento da seguinte forma:

  • Definição do Objetivo
  • Desdobramento do Objetivo
  • Definição das Ações
  • Gestão / Execução
  • Relatório de Entregáveis
  • Agradecimentos
  • Arquivamento

PDI — Planejamento

Definição do Objetivo

Meu PDI

Objetivo: Ser um profissional capaz de implementar programas de treinamento com resultados reais (“melhores resultados de negócios”)

 O que é:

“objetivo” é uma definição macro e de longo prazo sobre onde quero chegar. 

Essa é a etapa mais importante, afinal, de que adiantaria ter um ótimo PDI, com todas as ações bem sucedidas, se elas me levassem a um lugar diferente do desejado?

Como definir:

Para ajudar na definição, considere os seguintes pontos: 1) algo que tenha valor para a empresa; 2) algo que posso contribuir; e 3) algo que gosto muito de fazer. Isso é algo inspirado no Ikigai e também nos feedbacks que recebi do

já faz algum tempo.

Como fiz o meu: 

Durante o planejamento, eu fui dividido entre dois objetivos:

  • Ser um bom gestor — desenvolver habilidades relacionadas à gestão de pessoas e projetos;
  • Ser um profissional capaz de implementar programas de treinamento com resultados reais.

Inicialmente, escolhi a 1ª opção (gestão) e desenhei todo o meu PDI baseado nela — sem consultar ninguém. Ao apresentar ao meu gestor, para minha surpresa, ele fez alguns questionamentos e discordou da escolha que fiz.

Confesso que fiquei em modo defensivo e estava disposto a levar o plano futuro. Depois, após um fim de semana de reflexão, voltei atrás.

Algo que me ajudou nessa reflexão foi pensar e escrever. Pensar — com a mente aberta — ajudou a reunir todos os fatos de maneira neutra. Escrever — várias vezes — ajudou a colocar ordem no pensamento.

Por isso, eu escrevi uma “carta” a mim mesmo falando sobre o meu objetivo. A carta respondeu, de forma superficial, a algumas perguntas: Qual é a situação atual? O que quero alcançar? O que pretendo fazer? Quais serão os ganhos?

Escrever essa carta externalizou meus pensamentos. Isso me ajudou a perceber se estava “forçando alguma barra”, fazendo algo sem sentido e sem motivo. Conselho que escreva essa carta já pensando que será algo privado, para que se sinta mais à vontade.

Conselhos e pensamentos extras:

1. Sobre “crítica pessoal”

É importante que você verifique se não está definindo objetivos muito complicados. Isso pode se manifestar através de muitos objetivos (quantidade) ou poucos objetivos (dificuldade). Eu associo isso ao fato de que o PDI é algo pessoal, e muitos de nós temos uma visão pessoal muito crítica. Por exemplo, quando penso em outras pessoas, penso algo assim:

“O Flávio é um excelente líder! O PDI poderia ser simples: desenvolver habilidades focadas em gestão de projetos de análise de dados.”

Quando penso em mim, penso em algo assim:

“Preciso estudar estatística avançada, aprender ainda mais sobre Tableau, ser referência em Dataviz. Preciso aprimorar resolução de problemas, cálculo crítico, planejamento. Preciso gerenciar projetos e pessoas. Preciso ser um bom mentor. Preciso me comunicar melhor. Preciso conhecer tudo sobre L&D . Preciso ser criativo. Preciso ter habilidades do Product Owner. Não posso enferrujar em programação Além disso…”

Aqui no PDI, essa visão mais “objetiva” e “simplista” é importante. Por isso, pode ser útil:

  • Solicitar muitos feedbacks, a fim de pegar as percepções dos outros sobre você;
  • Escrever a carta que comentei antes, a fim de ter uma “visão externa sobre você” ;
  • Entender que o PDI será um plano para acelerar e focar em um objetivo específico, mas que outras habilidades continuem sendo desenvolvidas no dia a dia.

2. Visão externa

Com base no item anterior, quero reforçar a importância de obter as percepções dos outros ao definir o objetivo do seu PDI:

3. Ser a melhor versão de si mesmo ( “Conhecimento único” )

Uma vez li algo como:“é melhor ser o melhor de si mesmo do que uma cópia ruim de alguém.”

Existe um risco do objetivo traçado baseado na vontade de ser “igual” a alguém que está em uma carga de nível superior. Não me parece ser um erro fazer isso, mas, tentando colocar propósito e satisfação à frente do “sucesso” , venho tentando fazer diferente.

Existem algumas, quase centenas, de Analistas e Cientistas de Dados comprovados no iFood. Posso tentar ser igual a eles — e posso “falhar” ou ter “sucesso” nessa busca. Em ambos os casos, estou infeliz.

O meu caminho está sendo diferente: um ex-Analista de Dados, que trabalha na Data Academy, com foco em aprendizagem e treinamento, buscando desenvolver e capacitar os analistas para obterem seus melhores resultados, progredindo em suas carreiras e trazendo resultados para a empresa .

Por enquanto, acredito que sou o único nesse caminho. Em breve, espero ter mais algumas pessoas assim no momento. 🙂

Desdobramento do Objetivo

Meu PDI

Objetivo — Desdobramentos:

Programas de desenvolvimento com resultados reais:
• Planejar, implementar e gerenciar programas completos (início ao fim)
• Mapear necessidades que precisam de intervenção (treinamentos)

Base teórica sobre “Aprendizagem”:
• Conhecer conceitos/teorias que envolvem o assunto
• Ser capaz de identificar falhas em iniciativas existentes
• Ter propriedade no assunto, ser procurado e consultado sobre o tema

⇒ O que é: 

Com base no objetivo macro definido anteriormente, desdobrei itens relacionados ao grande objetivo.

  • Podem se referir a um conhecimento (ex: Comunicação);
  • Podem se referir a um comportamento (ex: Saber como comunicar o progresso a diferentes stakeholders, de maneira frequente, durante a execução de um projeto);
  • Não há necessariamente necessidade de serem muito detalhados e específicos;
  • Serão utilizados para definir ações , por isso, precisam ser capazes de inspirar essas ações ;
  • Nem todos os itens serão feitos durante o PDI — alguns até não serão feitos. Por outro lado, uma única ação pode abordar vários desses itens.

Como definir + Como fiz o meu: 

  • Para fazer o desdobramento do objetivo, considere:

    • Comportamentos: o que quero estar apto a fazer no futuro?

    • Conhecimentos: quais conhecimentos quero ter no futuro?

    • Dores e oportunidades: quais dores, possíveis de serem trabalhadas e relacionadas ao meu objetivo , identificadas em projetos ou tempos atuais?

    • Feedback: o que posso trazer de útil, com base nos feedbacks que recebi recentemente?

Conselhos e pensamentos extras:

1. Qual é o seu foco?

Esse desdobramento pode mudar bastante de acordo com o foco atual de sua carreira. Você quer ser promovido? Quer mudar de carreira/área? Quer concordar algo?

2. Acertar no objetivo macro

Se esse trabalho de desdobramento o fazer perceber que o objetivo macro não faz muito sentido, refaça o objetivo . Por mais que seja trabalhoso, é necessário. Você precisa definir o objetivo macro corretamente.

3. O trabalho (e aprendizagem) acontece no dia a dia

O PDI é um plano de ação específico e focado em desenvolver um conjunto de habilidades e comportamentos — mas ele não é o único plano ou a única ação que vai acontecer durante o período. O aprendizado de outros assuntos, sob outras formas, continuará apostando no dia a dia.

Por isso, no PDI, eu não penso em “qual problema preciso resolver no trabalho até o fim do mês?”. Eu prefiro “quais habilidades quero ter para resolver os problemas que aparecem daqui em diante?”

Condições

Os próximos itens desse texto serão mais voltados para a execução do PDI, então, quero destacar as condições que o ambiente do iFood proporcionou pra mim:

  • Tempo (duração do PDI): 6 meses, de outubro/2020 até março/2021. Na prática, cinco meses, pois passei o mês de outubro fazendo o planejamento que estou detalhando aqui nesse texto. Pensando na importância do planejamento, e isso não é algo que dominó, acho um tempo aceitável.

  • Orçamento: atualmente temos o #PRASUAFOME disponível. É um suporte financeiro onde cada FoodLover tem um valor para usar em quantos cursos/iniciativas quiser durante o período do PDI. As iniciativas precisam estar alinhadas com o seu objetivo e cada FoodLover tem direito ao mesmo valor, dependendo da área, independente da carga, para utilização. Devo dizer que o valor disponibilizado nesse ciclo foi bem acima do que eu poderia esperar de uma empresa.

  • Quartas de Desenvolvimento: todas as quartas-feiras, das 9h às 12h, temos uma agenda livre para estudos. O iFood frequentemente convidado traz e/ou promove outras iniciativas nesse momento. De qualquer forma, cada FoodLover pode usar da forma que preferir.

  • iLearn: é o nosso LXP ( Plataforma de Experiência de Aprendizagem ). Por lá, temos um catálogo de conteúdos de diversos provedores (Coursera, Udemy, Alura, getAbstract, etc), grupos de interesse, e histórico de estudos de pessoas.

Ações

Meu PDI

Ações Pré:
• Mentoria com “pessoa X” sobre “assunto Y”
• Ler o livro “The Six Disciplines of Breakthrough Learning”
• Compilar sites/perfis interessantes sobre treinamento

Ações Pós:
• Escrever um texto sobre planejamento de PDI
• Fazer uma apresentação sobre “A Curva do Esquecimento”
• Benchmarking com a “área de treinamentos X”

 O que é: 

São as ações que você realizará com a intenção de desenvolver os itens definidos no Desdobramento do Objetivo . Essas ações vão me aproximar do objetivo definido (direção), mas não fazer necessariamente com que eu chegue lá na data final do PDI (destino).

Como fiz o meu: 

Inicialmente, simplesmente defini diversas ações que você julgou interessantes. Ao longo do PDI, percebi alguns pontos na minha abordagem:

  • Algumas ações parecem interessantes no momento do planejamento, mas na verdade não são. É preciso ter autonomia para abandoná-las.
  • Com algum conhecimento adquirido durante o PDI, surgem ideias de ações melhores. É preciso ter espaço para adicioná-las — o que chamo aqui de “ações pós” .
  • Muitas dessas ações são, na verdade, entregáveis . É preciso diferenciar esses termos.

Como definir:

Defina poucas ações durante o planejamento do seu PDI. Dê preferências mais generalistas e que possam ser feitas rapidamente. Ter as primeiras conversas de uma mentoria ou escolher livros/cursos que abordem o assunto de forma ampla e superficial são boas opções.

Durante a execução do plano, a sua perspectiva e conhecimento sobre o assunto deve aumentar, talvez até mudar. Por isso, outras ações — as “ações pós” — deverão surgir.

  • Exemplo 1 — Ação pré: “mentoria com (…) sobre (…)” → Ação pós: “ler o artigo (…), que fala sobre o framework (…), indicado na mentoria que fiz” ;

     

  • Exemplo 2 (Inverso) — Ação pré: “ler o livro (…) para saber mais sobre (…)” → Ação pós: “mentoria com (…), para discutir o assunto (…), que li no livro”

     

Características desses 2 tipos de ações:

  • Ação pré: Generalista. Exploração abrangente ( “exploração” ). Provavelmente, ações mais simples de cumprir. Devem ser realizados no início do plano, rapidamente, para gerar as demais ações .

     

  • Ação pós: Focada e específica. Exploração aprofundada ( “exploitation” ), buscando explorar algo que já foi identificado. Provavelmente, ações mais resistentes e avançadas.

Conselhos e pensamentos extras:

1. Ação x Entregável

  • Ação: ações realizadas na tentativa de desenvolver algo. Pode e deve ser específico (ex: “ter mentoria com fulano” ), mas o resultado obtido através dela não (ex: “o que exatamente você conseguirá aprender com fulano ou fazer com determinado conhecimento?” )
  • Entregável: é uma evidência ou constatação de que você entregou algo, seja algum produto ou algum valor.

     

Alguns exemplos relacionados:

  • “Escrever o resumo de um livro” . É uma ação, porque basta ler e escrever. Normalmente, resumos de livros parecem entregáveis , na tentativa de ter algo para provar que a leitura e reflexão do conteúdo foi feita.
  • “Aprender técnicas X”. É melhor evitar esse tipo de ação (“Aprender…”), preferindo uma lista de ações que podem ser feitas com o propósito de aprender.
  • “Aplicar técnicas X em algum projeto”. Se o objetivo desse item é aproveitar para entregar um trabalho real, não deveria estar aqui. Se o objetivo de aprender, normalmente será interessante como uma “ação pós” (após entender se essa ação realmente é a melhor para aprender).

     

Por isso, sem planejamento, quase tudo é ação . São itens que dependem de alguma vontade e movimento para serem realizados. Mais para frente, vou passar a minha visão sobre os entregáveis .

2. Aprender com pessoas

Ler um livro e realizar um curso online são as ações mais comuns e simples de definir/realizar. Existem outras ações que podem ser feitas e podem ser complementares, mais divertidas e mais valiosas.

Participar de grupos de estudos, ter mentoria, e até mesmo ensinar alguém sobre algo que acabou de aprender são opções — e perceber que essas opções são mais voltadas ao relacionamento com pessoas . Nesse ponto, sempre me lembro de uma frase que ouvi do

(que talvez ele tenha ouvido alguém):

”Nós superestimamos o acesso aos conteúdos e subestimamos o acesso às pessoas”

Queremos ter acesso aos conteúdos (livros e cursos), e não percebemos que o conhecimento pode estar nas pessoas ao nosso redor.

3. Modelo 70/20/10

O “70/20/10” é uma orientação geral sobre como nosso aprendizado acontece. Esse modelo diz que 70% do que sabemos foi aprendido durante a execução de nossas tarefas, 20% foi aprendido através do relacionamento com pessoas, e 10% foi aprendido através de conteúdos formais.

Eu diria para você não se prender muito a esses números , mas entender/lembrar que o aprendizado acontece com a mistura desses três itens. Por isso, seja criativo e busque aprender de diversas formas.

Talvez, suas “ações pré” tenham especificações nos 10% e 20%, enquanto as “ações pós” terão especificações nos 70% — mas, repito, não se prenda tanto a esses números correndo o risco de direcionar suas ações de modo “mecânico” e robotizado” .

4. Ações SMART

“ SMART é o nome de uma metodologia que estabelece critérios para a definição de objetivos e metas, as quais se baseiam em 5 fatores: S (específica), M (mensurável), A (atingível), R (relevante) e T (temporal). ).”

Como esses critérios podem orientar a definição das ações :

  • (S) Específica. A ação que será realizada deverá ser específica. Não estamos falando sobre o quê você vai aprender — mas o quê, exatamente, você vai fazer?

  • (M) Mensurável. Você precisa ser capaz de identificar se uma ação foi realizada ou não. Será possível identificar claramente que ela foi realizada?

  • (A) Atingível. Aqui é preciso garantir que os recursos necessários estarão disponíveis. Os “recursos” são: pessoas envolvidas, dinheiro, tempo, etc.

  • (R) Relevante. Se as etapas anteriores do plano foram seguidas, teremos ações relevantes.

  • (T)Temporais. Quando você vai terminar de realizar uma ação? Controle o calendário a fim de não precisar acelerar a execução de uma ação, pois isso pode comprometer o aprendizado.

Entregáveis

Meu PDI

Entregáveis/Evidências:

• Fiz uma apresentação sobre “A Curva do Esquecimento”. → Gravação: (link)

• Com os novos conhecimentos, identifiquei falhas conceituais no “programa X” .
→ Análise: (documento)

• Com as ações que ocorreram durante os últimos PDIs, recebi o convite “X” .
→ Convite: (imagem?)

⇒ O que é:

Dentro do contexto do PDI, muito do que antes eu chamava de “entregável” foi transformado em “ações” .

Para mim, entregáveis ​​são evidências de que produz algo como o que se desenvolve durante o plano de desenvolvimento. Não precisa, necessariamente, ser uma evidência eficaz — mas, se for, melhor ainda.

Conselhos e pensamentos extras:

1. A pressão pelo entregável

Existe uma grande pressão pela definição dos entregáveis , tanto na fase de planejamento como na fase de encerramento do plano. É comum ouvir algum feedback do tipo: “Ok, mas quais serão os entregáveis (tradução: comprovantes) do seu plano?”

Para mim, essa é uma característica dos “PDIs mecânicos” . Eles são entregáveis que foram definidos na etapa inicial do plano, em um momento de muita incerteza (pela antecedência) e pouco conhecimento (quando vamos desenvolver um tópico que ainda não conhecemos bem).

Esse pode ser o ponto de maior discórdia entre você e sua liderança. Nesse ponto, eu aproveito uma certa liberdade que existe atualmente no iFood e não defino entregáveis com antecedência. Se por acaso o meu gestor iniciar por isso, posso apresentar como “ações” , já que normalmente são vistas como entregáveis — e, assim, meu PDI pode ser “aprovado” .

2. Entregáveis SMART?

A pressão pelos entregáveis que comentei anteriormente pode acontecer junto com a pressão de que esses entregáveis sejam SMART.

O que eu penso sobre isso é: se eu, no início do PDI, consigo definir um entregável SMART, quer dizer que eu sei muito sobre o entregável . Em outras palavras, quero dizer que eu confio que vou fazer essa entrega com o que já sei agora (talvez com um pouco menos de qualidade) e dentro do prazo estipulado. Isso não faz muito sentido para mim, não é nem um pouco inspirador, e parece algo só para cumprir tabela — e é por isso que eu chamo isso de “ação” (já que é algo que eu vou fazer).

Além disso, existem casos onde definimos entregáveis fora da realidade, simplesmente por não saber a real dificuldade de fazer algo, simplesmente por não saber muito sobre esse algo !

Por isso, não defino os entregáveis com antecedência. E, por isso também, eu deixo um espaço para “ações pós” . Assim, abrimos caminho para oportunidades e inspirações que surgirão durante a execução do plano.

3. Exemplos de entregáveis (no contexto do PDI)

  • “Dar uma palestra” é uma ação . O arquivo da gravação e possíveis elogios espontâneos de especialistas da área são os entregáveis .

  • “Aplicar centenas de treinamentos” é uma ação . “Ser chamado de professor, mesmo não sendo um professor” é o entregável .

  • Escrever esse texto sobre PDI é uma ação . Qualquer possível consequência positiva será entregável.

Queria destacar alguns pontos desses exemplos:

  • Se você analisar, vai perceber que essas ações e entregáveis estão bem relacionadas ao meu objetivo macro e aos itens gerados a partir do desdobramento dele.

  • Sobre a “ação” , perceba que é simples: é realmente uma ação que você se comprometeu a fazer e fez. Algumas são valiosas e um pouco difíceis, mas não devem ser chamadas de “entregáveis” .

  • Sobre os “entregáveis” , percebemos que estão mais relacionados a algum valor entregue e normalmente são passivos. Foi algo que aconteceu em decorrência da ação , mas não foi algo que eu tive o controle total sobre.

Sendo assim, no encerramento do plano é preciso parar e montar um relatório de entregáveis : refletir, analisar e fazer um levantamento sobre o que aconteceu devido às ações do meu PDI

Gestão

De forma resumida, uso um “quadro” simples, com algumas categorias (livros, cursos, ações específicas, etc), para acompanhar a execução das tarefas do meu PDI.

Com um plano bem feito ( objetivos claros + ações SMART), você não deve ter muitos problemas com isso. Abaixo, um exemplo do meu quadro — usando o app Todoist :

Alguns comentários sobre isso:

  • Coloque no quadro somente itens relacionados ao PDI, e somente aqueles que já estão definidos. Deixe ideias e outros “conteúdos extras” de fora. A chance de virar uma bagunça é grande, e isso pode causar o abandono do uso do aplicativo escolhido.

  • Para cada “ação pré” , tenha um “checkpoint de decisão” . É um limite de dados para você decidir se vai realizar aquela ação e, se preciso, definir o que vai ser. Por exemplo, posso criar uma ação “escrever 1 texto” e, quando o ponto de verificação de chegar, decidir se quero escrever e sobre qual assunto vai ser.

  • Se necessário, cancele e apague ações que não façam mais sentido. Adicione “ações pós” no lugar. Faça da melhor forma, pensando na situação atual e nos objetivos definidos. Contraponto: cuidado para não se enganar e sabotar.

  • Ao criar os itens e definir dados, tente montar uma linha do tempo e veja se parece factível. Se a timeline parece um pouco apertada, desconfie e tente melhorar. Por experiência, a linha do tempo deve ser muito livre para dar certo. Problemas vão acontecer no meio do caminho e você precisa de espaço para ajustar. Seja pessimista aqui nesse ponto e lembre-se de que “ações pós” surgirão durante o plano.

  • Procure ter poucos e ótimos conteúdos. Assim, você pode dedicar a atenção necessária para cada um. É possível ler 1 livro por semana e é possível fazer um curso em uma tarde, mas com qual qualidade? Deixe espaço para aprofundamentos, como: releituras, anotações, questionamentos, prática e comparação com outros materiais. Contraponto: ficar tempo excessivo em um material também pode ser ruim! É preciso equilibrar

PDI – Execução

Chegamos à fase de execução do plano. O que temos até o momento: definição do objetivo macro, desdobramento do objetivo, definição das ações e o quadro para gestão das tarefas.

Com tudo isso bem feito, a execução não deve ser difícil. Se você definir ações de forma SMART (lembre-se de “A” de atingível e “T” de temporal), a execução deve ser fácil.

Aqui, vou compartilhar algumas opiniões relacionadas:

Procure ter rotinas

  • Estude (livros, cursos) sempre no mesmo horário e de preferência diariamente . Estou escrevendo partes desse texto, diariamente, às 21h. O texto é bem grande e cheio de conteúdo, mas foi produzido em trabalhos de 1h/dia.

  • Sugestão (que não faço com frequência, mas vou ponderar fazer): Encontre um amigo (amigo / colega) e converse semanalmente sobre o status dos planos .

  • Faça uma revisão quinzenal ou mensal da situação do seu PDI: verifique o quadro de gestão, ajuste de dados, checkpoints de decisão, ações pós.

Da metade do plano em diante, estudo com foco

“O conhecimento é uma fábrica, não uma biblioteca”

No início, pode ser bom abrir sua mente e criar um mapa do assunto de interesse. Depois, da metade em diante do plano, procure estudar conteúdos focados em uma ação.

Por exemplo: no início do plano, posso ler o livro “The Six Disciplines of Breakthrough Learning” inteiro para ter uma visão geral de programas de treinamento (leitura ampla). Depois, da metade em diante, posso ler somente o capítulo “Teaching Students to Question Knowledge” , do livro “Think Again” (leitura focada).

Tenha, pelo menos, 1 mentoria durante o plano

Por que “1” mentoria?

Para que você saiba (ou se lembre) sobre como mentoria é bom. É “de graça” , é humano, não é cansativo, e é baseado em vivências reais de alguém que está de certa forma próximo a você.

As diretrizes da mentoria são: normalmente é fora de nossa zona de conforto, temos vergonha de solicitar e medo de atrapalhar uma pessoa.

Quer saber as vantagens? Então tenha, pelo menos, 1 mentoria durante o plano.

Motivação x Disciplina

Se você já sabe a diferença entre “motivação” e “disciplina” , esse tópico vai ser clichê. Se não sabe, precisa saber.

  • Motivação: é aquela empolgação inicial que temos no início do ano ou do plano. Pode ser gerado por diversos motivos: pela virada do ano, por “raiva” (alguém o criticou, algo ruim aconteceu e você quer dar a volta por cima), por estar feliz com uma promoção/mérito que recebeu, por estar em uma nova função, por estar com um novo gestor, etc.

  • Disciplina: infelizmente, é (quase) garantido que sua motivação inicial vai acabar. Nós somos movidos por incentivos e nos acostumamos com as coisas . Pensando no PDI, a proteção que temos é a disciplina. Ser disciplinado nos mantém no plano, executando as ações. Por isso, tenha um objetivo importante, tenha ações SMART, coloque-as no seu aplicativo de tarefas e execute. Para complementar, tenha as reuniões semanais com o seu amigo e faça as revisões periódicas.

Um ponto extra sobre disciplina: pode ser que, durante uma boa parte do seu plano, você não veja resultados. Se preocupe um pouco, mas não muito. Em estudos, é comum acontecer o seguinte: falta de resultados no início, seguido de muitos resultados no fim . Continue com o plano!

Como estudar

Suas ações devem gerar conhecimentos e, para isso acontecer, é preciso saber estudar .

PDI – Encerramento

Chegamos à fase de encerramento do PDI.

Estou escrevendo essa parte no dia 15/03/2021, exatamente na etapa de encerramento do meu plano, que vai até 31/03/2021. Ainda tenho algumas ações atrasadas e algumas coisas para organizar. Além disso, já preciso começar a planejar o próximo PDI.

Levantamento de entregáveis

Como comentei, os entregáveis são evidências do que foi entregue. Alguns simples, outros mais valiosos (e quase intangíveis). Por isso, dedique um tempo para avaliar e fazer um “relatório” dos seus entregáveis .

Se eles forem úteis para alguém, compartilhe com outras pessoas. Se eles são importantes, orgulhe-se — afinal, você iniciou esse plano baseado no Ikigai , certo? 🙂

Em ambos os casos, arquive os entregáveis e tenha o seu portfólio. Isso pode ser útil de diversas formas, como: autoconhecimento, histórico, mentorias, em um futuro processo seletivo, etc.

Extraia o máximo de valor — mesmo quando parece que o PDI já terminou

Podem aparecer várias oportunidades na etapa final do PDI. Se tudo deu certo durante o plano, você conheceu pessoas, aprendeu bastante, e produziu bastante. No fim do PDI, você estará na sua melhor forma.

Aproveite o momento e as oportunidades que serão visíveis apenas perto do fim, mas que foram construídas ao longo do tempo . Alguns exemplos:

  • Fazer uma palestra em um novo evento (e talvez com conteúdo parecido com uma palestra que você já fez durante o plano);
  • Participar de um novo programa relacionado ao que estudei (no meu caso, surgiu o “Programa de Mentoria para Negros e Negras” no iFood);
  • Aplique algo que foi elaborado em um projeto que está em andamento e sendo tocado por outra pessoa.

Talvez você esteja cansado ou ocupado, mas mantenha-se alerta. Vá até a ” última milha “ nessa reta final, extraindo o máximo de valor possível.

Agradeça quem te ajudou

Aprender normalmente é difícil e, como você já deve ter ouvido por aí, o conhecimento é algo que ninguém tira de você. Isso significa que esses conhecimentos vão ficar com você e que sua vida não será a mesma que seria sem eles.

Por isso, se alguém o ajudou nessa caminhada, agradeça. Nós (e as pessoas que nos ajudam) normalmente estamos cansados e ocupados demais. Por esse motivo, pode ser comum negligenciar essa ação de agradecimento, que na verdade deveria ser um compromisso óbvio. O encerramento pode ser o momento em que vamos parar, fazer uma retrospectiva, e perceber como algumas pessoas nos ajudaram.

Por enquanto, segue a lista de pessoas que preciso agradecer nesse ciclo:

  • Helton Vale: meu gerente atual, que deu o excelente feedback sobre os objetivos do meu PDI, e que tem se mostrado muito preocupado com o meu desenvolvimento;

  • Tatiane Payá: uma pessoa que trabalhou aqui no iFood, que não me conhecia, mas converse comigo em um feriado de sexta-feira para compartilhar suas experiências sobre um assunto de meu interesse;

  • Fabiano Santos (iFood): pela enorme paciência e vontade de falar sobre minhas dúvidas e projetos. A minha construção de PDI atual passa pelas reflexões que tivemos em 2018 e 2019.

     

Junto ao agradecimento, vou considerar acrescentar um retorno. Por exemplo, a Tatiane sugeriu que eu fizesse uma comunicação de uma determinada forma. Eu retornei contando: como fiz, o que deu certo, o que aprendi (eu aprendi uma ferramenta do Slack — quem sabe ela ainda não conhece?).

Essa ação, além do benefício próprio que gera , produz outros efeitos na pessoa agradecida: satisfação, incentivo para que continue ajudando os outros, e fortalecimento da relação.

Falando nisso, se alguém ajudou MUITO em relação ao desenvolvimento, vale considerar algo como uma carta de agradecimento (exemplo em vídeo aqui ).

O que deu errado

Aqui nesse texto estão os aprendizados que você tem, organizados da melhor forma possível para facilitar sua leitura. Isso pode dar a sensação de que tudo está controlado e que tudo deu certo.

A realidade é totalmente oposta: grande parte do que foi planejado não foi realizado — e as minhas expectativas de entregas eram maiores do que as realizadas.

Por isso, acho importante falar sobre o que não deu certo:

  • Uma das mentorias que planejei fazer não deu certo — a pessoa estava muito ocupada. Além disso, não tive a disciplina e a coragem (por vergonha) de procurar outra pessoa.

  • Tive um excesso de trabalho e constantemente (por escolha própria) preciso trabalhar além do meu local. Não tenho uma disciplina de “desligar” .

  • No meu plano perfeito, eu iria ler um livro atrás do outro e faria os cursos em momentos específicos (fim de semana). Isso não aconteceu.

  • Eu não consegui ler os livros que defini, muito menos os “livros extras” que deixei na lista.

  • Descobri que um curso necessário de um número X de detalhes para acontecer. Até tentei iniciar um levantamento de detalhes, mas não deu certo.

Além disso, tenho vários outros problemas, que não precisam ser detalhados aqui! A mensagem é: pode ser que muita coisa dê errada. Faça um bom planejamento (poucos itens, dados factíveis, focados), tenha disciplina para seguir, tente contornar os problemas. Quando necessário, aceite os problemas.

Alguns comentários extras

  • Durante o planejamento, o chefe da área criou um documento público onde as pessoas preencheram com os objetivos e ações de seus PDIs. No início, fiquei relutante em expor o meu plano, mas depois percebi que era bem legal saber mais sobre os objetivos dos outros e até pesquisar sobre alguns materiais que eles listaram.

  • O PDI é um plano focado no desenvolvimento de algum tópico e por isso é importante trabalhá-lo bem. Não se esqueça, porém, de que o aprendizado é constante e acontece em diversos momentos de nossas vidas.

  • Aprender é sempre algo bom, mas, quanto mais aprender, mais aumentamos a sensação de não saber — o que pode nos causar uma certa confusão e até mesmo desânimo. Por isso, tenha disciplina e continue o processo.

  • Pessoas diferentes precisam de PDIs diferentes. Procure a maneira que melhor funciona para você. Defenda-se, dentro do possível, das pressões externas. Use esse texto e outros conteúdos como inspiração e comparação.

  • Se, por algum motivo, você precisa ter resultados incríveis em tempo, recomendo um pouco o livro Ultralearning.

Modelo

Segue uma sugestão para que você possa juntar, em uma só visão, todos os tópicos que foram apresentados aqui nesse plano: template

Obrigado

Escrevendo esse texto e fazendo essa espécie de “retrospectiva”, percebi que estou onde queria estar. A oportunidade de desenvolvimento que existe aqui no iFood é incrível — seja através de oportunidades (diferentes áreas, produtos e desafios), seja através das pessoas (3.000 FoodLovers), ou mesmo através das condições e incentivos ao estudo oferecido pela empresa.

Espero que tenha gostado da leitura! Estou aberto às suas opiniões, dicas e comentários.

Bons estudos.

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