Dados, preço e feedback: como o iFood reduz o plástico no delivery

Conheça os três pontos essenciais da estratégia do iFood para reduzir o impacto ambiental no delivery

O uso de plástico de uso único é um dos principais desafios ambientais enfrentados atualmente. De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são descartadas nos oceanos a cada ano, o que equivale a um caminhão de lixo despejado no mar a cada minuto.

Embora seja difícil encontrar consenso nessa agenda, diversos países e atores políticos têm adotado políticas e ações para reduzir o consumo de plástico de uso único. Por exemplo, a União Europeia adotou uma diretiva que proíbe a comercialização de uma série de produtos plásticos descartáveis, como talheres, cotonetes e canudos, desde julho de 2021. 

Emmanuel Macron, presidente da França, tem sido um dos líderes políticos mais ativos na luta contra o plástico de uso único. Em 2018, ele anunciou um plano para proibir a produção e venda de produtos plásticos descartáveis ​​na França até 2020. 

A lei entrou em vigor em janeiro de 2021, tornando a França o primeiro país do mundo a implementar uma proibição ampla de produtos plásticos descartáveis, incluindo talheres, pratos, copos e cotonetes. 

Além disso, diversas empresas têm adotado iniciativas para reduzir a produção e o consumo de plástico, como a Nestlé, que se comprometeu a tornar 100% de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025.

Dados, preço acessível e feedback de consumidores são elementos essenciais no combate ao plástico de uso único e contaremos como estas dimensões impactam nossa estratégia mirando 2025.

A coleta e análise de dados sobre o uso e descarte de plástico podem ajudar a identificar os pontos críticos da cadeia de produção e consumo onde as ações de redução teriam maior impacto. 

Embalagens sustentáveis, necessariamente, precisam ter um preço igual ou mais barato que o plástico para que assim, atinjam um público mais amplo, ganhando escala. 

Por fim, o feedback dos consumidores sobre a funcionalidade destas alternativas é fundamental para aprimorar a qualidade e a aceitação. Tudo isso, na teoria! 

Por isso, a ideia deste artigo é poder trazer mais realidade e prática para essa jornada que estamos construindo no iFood. Esperamos que o nosso relato inspire restaurantes, consumidores e a sociedade envolvida neste tema.

Dados

Temos um conceito aqui no iFood de “brutal facts”, que para nós, significa lidarmos com os fatos de forma aberta. De falarmos sobre tudo que pode ser melhor ou diferente. 

Quando lançamos nosso compromisso público de Sustentabilidade, o “iFood Regenera”, nos comprometemos a zerar a poluição plástica, reduzindo o plástico nas entregas e reciclando tudo que ainda houver, em 2025.

Mas cá entre nós, bem “brutal facts”, foi um compromisso que lançamos sem um baseline (sem base numérica) tão apurado, sobre o volume de plástico que circulava nas nossas entregas. E quando lançamos, estava tudo bem! Esse é o “Jeito iFood de Trabalhar”. 

Miramos nosso sonho grande, colocamos um prazo, e vamos construindo, aos poucos, mas com passos largos, os caminhos para chegar lá.

Assim, o primeiro movimento foi construir uma mensuração de resíduos que circulam no nosso delivery. Esse é um desafio gigante, primeiro porque os resíduos não são produzidos diretamente pelo iFood. Não somos como uma indústria que sabe quanto entra e quanto sai de resíduos da sua operação. 

E, segundo, porque não tínhamos comparação. Em 2021, nenhuma empresa de delivery no mundo havia feito estudo semelhante — segundo pesquisas e conversas que fizemos com outras companhias globais.

Com suporte e inteligência da consultoria Manuia, usando pesquisas quali e quantitativas com restaurantes, realizamos uma pesquisa muito interessante que confirmou algumas suposições e revelou outras ideias que já tínhamos:

  • Volume total. Em 2021, circulamos aproximadamente 40 mil toneladas de resíduos, dentre eles, papel, plástico, alumínio e compostáveis/biodegradáveis;
  • Papel é maioria. Praticamente, 50% do total, em peso, é papel;
  • Plástico em segundo. 28% do volume, em peso, era de plástico, nas suas diversas formas (PET, PP, isopor);
  • Quem mais usa plástico. Os tipos de culinária que mais circulavam plástico eram, em ordem decrescente: 1 – comida brasileira, 2 – comida japonesa/asiática e 3 – lanches/hambúrguer.

Com dados em mãos, dentre os vários insights que tivemos, saímos com duas definições que pautam o nosso trabalho, atualmente, e para os próximos anos.

  • Meta 2025. Iremos reduzir em 50% a presença do plástico, em peso, de 2021 até 2025. Saindo de 28% para 14% de plástico nas entregas (e 100% do que ainda houver será reciclado, em 2025);
  • Em quem focar? Encontramos as top 3 culinárias que mais usam plástico e descobrimos os tipos principais de embalagens que usam. Assim, passamos a trabalhar na busca das opções sustentáveis substitutas para elas. Ex: papel de embrulho no lugar de caixa de isopor para lanches.

Esta primeira (e inédita) mensuração de resíduos no delivery nos fez “pegar gosto” pelo tema e passamos a aprofundar o uso de dados para tomada de decisão sobre embalagens. Em 2022, novamente com a Manuia e com a consultoria EnCiclo, realizamos uma “Análise de Ciclo de Vida” (ACV) para diversas embalagens de delivery. Nosso foco não era achar a bala de prata das embalagens, mas sim, entender os pontos fortes e a serem melhorados de cada tipo de embalagem.

Vale dizer que a ACV possui metodologias e critérios que, se ponderados com maior ou menor intensidade, apresentam resultados bastante diversos. O relatório final da ACV é super rico e oferece muito food for thoughts, alguns exemplos:

  • A ACV considera um tempo de vida das embalagens no planeta menor do que o tempo que um isopor leva para se decompor (400 anos). Ou seja, na ACV feita sob um ângulo mais criterioso de emissões de CO2, o isopor torna-se uma ótima solução porque nunca decompõe e assim, nunca emite gases de efeito estufa!
  • Por outro lado, se colocarmos o critério de impacto dos resíduos em ecossistemas como os oceanos, decorrentes da “fuga” destes materiais do processo de reciclagem, temos um alto impacto ambiental do isopor.
  • Já uma embalagem compostável feita de cana de açúcar, porém produzida na China e utilizada no Brasil, apresenta uma pegada de carbono altíssima. Logo, “menos sustentável”, ainda que se biodegrade rapidamente. 

Estes dois estudos são motivos de orgulho para nós, principalmente porque conseguimos levar dados para um tema carente de informações mais racionais. E também porque fortaleceu, ainda mais, nossa relação com a Prosus, sócia internacional do iFood e que possui uma agenda de ESG muito focada no uso de dados para a redução de plástico nas operações das empresas investidas.

Feedback de quem consome 

Usar dados para planos de ação ou saber qual preço oferecer é muito importante, mas se a embalagem não funciona na prática e os consumidores não enxergam valor, a chance da solução dar errado é gigante.

Todas as parcerias e investimentos que temos realizados partem ou ajustam sua rota, de acordo com as experiências e feedbacks recebidos por quem consome aquele produto.

Quando começamos a montar a linha de embalagens e papel de embrulho para lanches, com a Klabin, rodamos uma pesquisa —em parceria com o time de Insights e Inteligência de Mercado do iFood— para mapear as principais dores e percepções dos clientes sobre embalagens. 

Alguns dos resultados nos apoiaram a reforçar mensagens ou construir produtos centrados em dores a serem resolvidas. Algumas delas:

  • Quase 20% dos consumidores concordam ou concordam completamente com “Eu não compro em restaurantes que enviam o pedido em isopor”. Sendo o isopor o único material citado especificamente!
  • Mais da metade (54%) dos consumidores afirmam que “embalagens de papel e/ou compostáveis” são os tipos de embalagem que elas acreditam serem as mais sustentáveis. Decidimos então, dobrar nossas apostas  no papel!
  • 94% concordam ou concordam completamente que o aspecto mais importante na embalagem é a “vedação”. Aqui, encontramos oportunidades de trabalhar em um ponto fraco das embalagens de isopor. Afinal, cá entre nós, quem nunca recebeu uma marmita de isopor repleta de durex para fechar? E ainda assim, vaza….

No caso da GrowPack, antes de realizarmos o investimento, produzimos um lote teste e oferecemos gratuitamente para dezenas de restaurantes em Campinas. A única coisa que cobramos destes parceiros foi entregar as embalagens com QR Code que levava para uma pesquisa sobre uso e percepção da embalagem recebida. E olha que legal alguns dos feedbacks dos consumidores, dentro do app do iFood:

Preço 

Bill Gates, no livro “Como Evitar um Desastre Climático”, apresenta o conceito de “Prêmio Verde”, que seria o custo adicional de escolher uma tecnologia limpa (ou mais sustentável) em vez de uma que emite mais gases de efeito estufa (ou menos sustentável).

Em geral, as soluções sustentáveis ainda costumam ser mais caras do que as não sustentáveis, em parte porque não consideramos os verdadeiros custos econômicos e ambientais das opções existentes, como os combustíveis fósseis, no preço que pagamos por elas. É o caso das embalagens plásticas x embalagens sustentáveis.

Esse conceito tem sido central no desenvolvimento das embalagens alternativas ao plástico que estamos apostando e investindo. Elas precisam ser mais baratas ou, no mínimo, competitivas de preço com as tradicionais embalagens plásticas.

Dois exemplos que já podemos demonstrar desses movimentos —e esperamos que tenhamos muitos outros, são:

  • Isopor x papel de embrulho (lanches)

As soluções alternativas ao plástico nem sempre são puramente tecnológicas ou exigem drástica redução de preço. Ao contrário, muitas vezes, dizem mais respeito ao hábito e à cultura de uso. 

É o caso do uso de papel de embrulho para lanches e hambúrgueres. Grandes redes já usam esta solução e conseguem garantir qualidade, temperatura e ainda customização nestas embalagens. Aspectos que o isopor entrega igualmente ou não entrega.

Uma caixa de isopor para lanches, em média, custa R$ 0,35 por unidade. Um papel de embrulho custa, em média, R$ 0,25 por folha. 

Um pedido de delivery demora em média 45 minutos para pedir, receber e comer. O isopor quando vai para aterro, demora mais de 400 anos para desaparecer da Terra, enquanto o papel, em torno de 180 dias.

Usando o isopor, a conta fecha financeiramente. Para o planeta, não. 

  • Marmita de plástico sem divisória x marmita compostável da GrowPack

O caso da parceria com a GrowPack nos enche de orgulho. Seja por que acompanhamos o crescimento e surgimento da empresa, em 2019, seja porque, produzem no Brasil —algo ainda raro na cadeia produtiva de embalagens sustentáveis.

O atual, e por enquanto único, item do portfólio da empresa é a “gBox”, embalagem tipo marmita que funciona muito bem para pratos úmidos, seco, vai ao forno e tem ótima vedação.

Quando iniciamos nossas ações em conjunto, o preço inicial da “gBox” era de R$ 4,30. É um valor bem comum, comparativamente, às demais soluções biodegradáveis importadas do mercado. Porém, a GrowPack possui a mesma mentalidade de crescimento que o iFood, ou seja, quanto mais barata, mais gente usando, mais escala. E menos plástico!

Passado um ano de parceria, em 2021, a embalagem passou a custar quase R$ 3,00 e, com o crescimento da operação e investimento de mais de R$ 500 mil do iFood, o preço atual é de R$ 2,30. Bem próximo do preço da embalagem de plástico sem divisória, na faixa de R$ 1,90.

E esse patamar de preço ainda é em um cenário de produção com potencial de crescimento produtivo e comercial. Para quem se interessar, é possível adquirir estas embalagens pelo iFood Shop.

Estamos iniciando nossa jornada com estes dois tipos de culinárias e suas embalagens, mas literalmente, estamos só começando! Vamos, aos poucos, atacar outras culinárias e suas embalagens plásticas mais utilizadas. 

Sempre usando dados, foco em preço acessível e feedback de quem consome o produto para guiar nossa estratégia! Conhece uma solução livre de plástico que funciona bem no delivery? Escreva para nós nas nossas redes sociais.

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